sexta-feira, 12 de junho de 2009

Estadão: más notícias com vaselina

Mídia Sem Máscara

O leitor do Estadão só descobrirá que o Brasil está na segunda recessão técnica no reinado de Lula em notinha escondida ao pé de página.

Não teve jeito, a recessão que se instalou no Brasil teve que ser anunciada pelo Estadão, o que fez muito a contragosto. "Investimento desaba, mas consumo segura PIB", foi a manchete desta quarta feira (10). Comparemos com o que a Folha de São Paulo deu: "Brasil em recessão", algo simples, singelo, informativo, sintético, sem uso da conjunção adversativa.. Eu fico a imaginar a angústia diária dos fabricantes das manchetes estadônicas, tendo que dizer o que lhes está proibido. Esses profissionais deveriam receber adicional de insalubridade, porque mentir descaradamente e ocultar a verdade de forma sistemática deforma até a alma do vivente, além do caráter.

Quem sabe das coisas do mercado é meu amigo Dalsom, um neto de italianos que tem uma indústria no ABC. Veio tomar café comigo ontem e, quando lhe perguntei como está o mercado, sua resposta foi lacônica: "Péssimo. Estou com meus operários todos parados, nenhuma encomenda para atender". O fabricante de manchetes do Estadão deveria consultar gente como o Dalsom, que faz o mercado, que produz e que é fonte genuína de notícias. Mas preferem perguntar para os áulicos do Planalto o que devem escrever. É um caso radical de anti-jornalismo chapa-branca.

O leitor do Estadão só descobrirá que o Brasil está na segunda recessão técnica no reinado de Lula em notinha escondida ao pé de página. Um desrespeito ao leitor, como se vê, mas um serviço aos poderosos do dia, que querem porque querem exorcizar a crise pelo singelo método de vaselinar as manchetes estadônicas.

A anestesia continua no Caderno de Economia. Vejamos o trecho, exaltando o crescimento do consumo: "O resultado surpreendente deu alento às perspectivas da economia em 2009 e está levando a uma correção para cima nas projeções do PIB deste ano. Agora, para que o crescimento seja zero em 2009, o PIB deve crescer 0,6% nos três últimos trimestres, ante igual período do ano anterior. Já uma expansão de 1,9% de abril a dezembro levaria o PIB a crescer 1% no ano, e a expansão de 3,2% levaria ao crescimento de 2%".

Se o passado não é bom, as pitonisas do Estadão passam a nos assegurar que o futuro será radiante. Olho ao meu redor e vejo que nada assegura que teremos recuperação no segundo semestre, tudo está nas mãos do imponderável, até porque a crise econômica internacional está longe de ser superada. O mais razoável é supor que as coisas continuarão complicadas e um crescimento negativo do PIB é o cenário mais provável, acompanhando o que vai acontecer nos EUA, na Zona do Euro e no Japão, sem falar na notável desaceleração da economia chinesa.

Para 2010, então, as previsões estadônicas tornam-se ainda mais alvissareiras. Toda gente sabe do fetiche petista pelas estatísticas, sempre que podem tentam "provar" a bondade e a santidade de seu governo com números. Se o que se observa no passado depõe contra o PT, então o negócio é prever otimisticamente o futuro. Nada melhor do que uma matéria estadônica para sacramentar os bons augúrios. "O resultado do PIB no primeiro trimestre, de queda de 0,8%, foi melhor que o esperado pelos economistas, que já veem nos números divulgados ontem pelo IBGE os primeiros sinais de que o País está saindo da recessão".

Esse é um dos mais flagrantes e descarados empregos da novilíngua que já vi. Cair é subir, recessão é prosperidade. Ou, falando como um genuíno caipira que sou: "Está ruim, mas está bom". Meu caro leitor, ler o Estadão é desaprender sobre a realidade das coisas.

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