sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Quem te salvará dos abutres estrangeiros, Haiti?

Mídia Sem Máscara

Exemplo vergonhoso é o do governo brasileiro que põe acima do dever humanitário, seu desejo obsessivo de conseguir um assento no Conselho de Segurança da ONU.

Não costumo publicar e-mails que recebo em privado, por razões óbvias, mas hoje recebi um muito curioso, esquisito mesmo, daí que resolvi torná-lo público para meus leitores. Não entendi a que se refere o missivista mas, em todo caso, leiam abaixo:

Long Time No See

Amigos de longas orelhas me dizem que seria prudente cercar-se de cuidados especiais nas próximas semanas de forma a evitar acidentes.

Estranho isso, não?

Há sete dias eu estava assistindo o noticiário da tarde na CNN em Espanhol, quando veio o anúncio do terremoto acontecido no Haiti. Não se conseguia muita informação uma vez que tudo havia colapsado, e as únicas notícias que chegavam através do Twitter vinham da vizinha República Dominicana. Já à noite começaram a aparecer as primeiras imagens de uma cena dantesca, inimaginável a quem via apenas pela televisão.

Na sexta-feira passada vi as cenas mais chocantes que tenho lembrança em toda minha existência, quando caminhões-caçamba levavam pilhas de mortos para serem jogados em enormes crateras em um lugar ermo, sem qualquer assistência espiritual como convém aos parentes fazerem por seus seres queridos. Doeu tão fundo ver aquela cena que provocou fissuras na alma e tudo que pude fazer, entre lágrimas descontroladas, foi pedir a Deus que acolhesse aquelas almas com Seu amor e bondade, já que elas não puderam ter o conforto espiritual de um velório e uma sepultura decente.

Os informes oficiais dão conta de que já foram enterrados 70.000 corpos e este "enterro" tornou-se absolutamente imperioso porque as pilhas de mortos espalhados pelas ruas já estavam em avançado estado de decomposição, e pela imensa quantidade não seria possível identificá-los e oferecer-lhes sepultura digna. Tratava-se, antes de tudo, de uma questão de saúde pública e requeria urgência. Embora terrível e doloroso, é compreensível e foi uma medida extrema que, em circunstâncias normais, certamente não teria sido assim. O que não é possível compreender, são certos comportamentos adotados por pessoas inumanas que se aproveitam de uma tragédia sem precedentes como esta para buscar protagonismo e interesses pessoais mesquinhos.

Dois exemplos gritantes são as primeiras declarações do Cônsul do Haiti no Brasil, George Samuel Antoine, um ser abjeto que deveria a esta altura estar atrás das grades por se refestelar com o acontecido em seu país, dizendo que "a desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui... fica conhecido". Vejam - ou revejam - o que disse o desalmado neste vídeo. Depois ele tentou se desculpar e disse que "houve um mal entendido" mas isto para mim se chama "ato falho", que é quando a pessoa fala sem pensar aquilo que realmente pensa e quis dizer. Não há desculpas ou remendos que consertem este ato abominável!

E o outro exemplo vergonhoso é o do Governo brasileiro que põe acima do dever humanitário, seu desejo obsessivo de conseguir um assento no Conselho de Segurança da ONU. Logo no dia seguinte o nefasto Nelson Jobim, sempre parecendo um espantalho naquele ridículo uniforme de campanha do glorioso Exército Brasileiro, deslocou-se até o Haiti para ver como estava a situação. Irritou-se com os Estados Unidos - para variar! - porque tomaram a frente nas operações, sobretudo no aeroporto, dizendo que o Brasil "não vai ceder voluntariamente o comando". Não quero defender país nenhum nesta situação mas o Haiti, que é a vítima; e, neste caso, não é hora de se ficar disputando quem é mais poderoso ou quem tem a supremacia sobre aquele povo. Goste ou não Jobim e seu presidente, os Estado Unidos chegaram mais rápido para oferecer ajuda específica nesse caso, enviando 10.000 soldados entre marines e tropas do Exército. Os nossos soldados que já estavam lá são verdadeiros heróis e não apenas por este episódio mas desde que começou a missão de paz.

Quem descreve com precisão mais esta vergonha nacional é o Augusto Nunes, em seu artigo do dia 16, intitulado "O Haiti não precisa de circo". Vale a pena ler, mesmo sentindo uma vergonha descomunal, do mesmo modo que vale muito a pena ver - ou rever - e se emocionar com o vídeo em que o sargento Marco Antônio Leôncio relata como resgatou uma enfermeira soterrada nos escombros. Em contraste com a vergonha nacional que é este governo de sindicalistas e oportunistas, isto é que é motivo de orgulho para o Brasil e essas são as nossas gloriosas Forças Armadas em quem deposito irrestrita confiança porque o Soldado brasileiro não precisa de holofotes, nem destaques na mídia, tampouco deseja as atenções voltadas para si. Eles agem. Fazem o que deve ser feito com competência e denodo, sem esperar sequer o reconhecimento de ninguém. Eles foram talhados para cumprir missões e as cumprem, competente e brilhantemente sem qualquer alarde.

Do mesmo modo o governo de Israel, que tem grande lastro em atendimento a catástrofes e apreço à vida humana, enviou 40 médicos, 24 enfermeiras, medicamentos, comidas, roupas e os socorristas com maior experiência no mundo em ajuda humanitária. Assim que desembarcaram no Haiti, eles montaram a única sala de cirurgia e terapia intensiva até o momento, conforme pode-se ver neste curto vídeo abaixo, recebido do site Por Israel, da valente Dori Lustron.

Apesar de o mundo inteiro ter-se mobilizado para ajudar as vítimas do Haiti, as pessoas têm se queixado de que falta uma coordenação para receber e distribuir alimentos, água potável, barracas de campanha, medicamentos, etc., o que de certa forma aumenta o caos já existente. Os bairros mais afastados da capital e que também foram atingidos, continuam com seus mortos insepultos espalhados pelas ruas, pessoas sem casa dormindo ao relento junto aos defuntos apodrecidos e o pior: muitas crianças vêem passar aviões e helicópteros e gritam "vai chegar ajuda, vai chegar ajuda!", mas eles estão apenas fazendo reconhecimento e vão embora acabando com as esperanças daquela gente.

Um repórter do informativo Urgente24 da Argentina, que está cobrindo esta tragédia, relata que na entrada da "Zona 2" ou "zona vermelha" por seu nível de periculosidade, encontra-se o Parque da Paz na conhecida rua Delma 2. Antes era o patrimônio histórico da cidade e hoje é um lugar que ninguém arriscar ir, porque o que restou em pé pode desabar a qualquer momento. Charles Mackenson, haitiano e membro da organização de ajuda "Kittis Keyul" explica que no parque hoje há 5.700 pessoas sem casa, nem comida nem água. Ainda não chegou ninguém de fora para ajudá-los. É impossível seguir até o fim da rua porque só há poeira, mortos apodrecidos esperando ser enterrados, restos de escombros e gente saqueando o que encontra prestável pela frente.

Hoje a República Dominicana dispôs seu aeroporto para que os vôos que chegam com ajuda de todos os tipos possam aterrissar ali e seguir por terra ao Haiti. Mas, enquanto isso, os governos insensíveis do Brasil e da França inflam seus egos mesquinhos, tacanhos, miseráveis por uma supremacia nas ações, por aparecer mais nas tv's, por ter mais "direitos" sobre a desgraça alheia. O Haiti não precisa de mais abutres a disputar a carniça de seus mortos e sim de ações concretas que reergam seu país, restaure a normalidade e se apiade de suas vítimas!

Cristo disse numa de Suas incontáveis pérolas de sabedoria: "Não saiba tua mão direita o que fez a tua esquerda", querendo dizer com isto que a caridade, a solidariedade, o serviço ao próximo é uma coisa que deve ficar apenas no seu coração, pois Deus tudo vê e é quem sonda os rins e os corações. Fazer caridade com fins publicitários não é, nem nunca foi atitude louvável mas sim, demoníaca. Portanto, quem puder ajudar de alguma maneira as vítimas do Haiti que o faça, mas por caridade cristã, no silêncio do seu coração; aqueles que não puderem, elevem uma prece a Deus por aqueles que foram e pelos que ficaram absolutamente desprovidos de tudo. Que Deus nos abençoe a todos e até a próxima!

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