terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Introdução à Filosofia Política

por Jeffrey Nyquist em 22 de janeiro de 2008

Resumo: Pertencer a uma nação – grande ou pequena, rica ou pobre – é altamente significativo. Se você perdesse a sua nacionalidade amanhã, rapidamente sentiria a sua falta. Pertencer a um grupo maior é uma realidade humana fundamental, quase como a identificação sexual.

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O homem é, por natureza, um animal político” – Aristóteles

A maioria dos americanos não entenderia a afirmação de Aristóteles de que o homem é, por natureza, um “animal político”. Reconhecidamente, a maioria dos americanos não pensa em política. Eles estão ocupados demais trabalhando e cuidando de suas famílias. Eles estão vendo TV, jogando videogames, tendo casos amorosos e praticando hobbies. Como, então, eles poderiam ser “animais políticos”? A resposta é muito simples. O americano moderno pertence a uma nação: uma sobre a qual é possível argumentar que seja a mais bem-sucedida e poderosa na história do mundo. Pertencer a uma nação – grande ou pequena, rica ou pobre – é altamente significativo. Se você perdesse a sua nacionalidade amanhã, rapidamente sentiria a sua falta. Pertencer a um grupo maior é uma realidade humana fundamental, quase como a identificação sexual.

Homens e mulheres são criaturas políticas porque são compelidas a se juntar a outras, por segurança e para preservar sua propriedade. Homens e mulheres nascem em famílias que pertencem a um grupo étnico maior – previamente embutido de noções de identidade e aversão. Se você nasceu na Margem Ocidental ou na Irlanda do Norte, nasceu dentro de uma situação política. Você é formado por ela. A política lhe é dada ao nascer. O teórico esquerdista que imagina poder ver-se livre da realidade de pertencer a uma nação específica está apenas enganando a si mesmo. Ele pode negar a significância de seu nascimento, mas o mundo sabe quem ele é pela língua que ele fala, por seu sotaque e seus costumes. Se alguma força estrangeira decidir varrer sua tribo da face da Terra, sua atitude de rejeição à identidade tribal não necessariamente salvará a sua pele.

Agrupamentos políticos são necessários à autodefesa. O historiador grego Tucídides certa vez observou que “os gregos, em tempos idos...tornaram-se ladrões e iam ao estrangeiro sob o comando de seus mais fortes homens...e caindo sobre cidades não fortificadas, saqueavam-nas, fazendo disso seu melhor meio de vida...” Contrariamente às afirmações dos teóricos libertários extremados, a anarquia não é um estado abençoado. “Pois outrora ficaram habituados a perambular armados pela Grécia”, escreveu Tucídides, “e porque suas casas não tinham cercas e viajar era inseguro, acostumaram-se ao uso de armaduras”. Aqui encontramos “a guerra de todos contra todos” descrita por Thomas Hobbes. Sob estas circunstâncias, escreveu Hobbes, a vida é “torpe, pobre, animalesca e curta”.

Se piratas e bandidos se unem, é apenas natural que o resto da humanidade se una para dar um fim à pirataria e ao banditismo. “Todo estado é uma associação”, notava Aristóteles, “e toda associação é formada em vista de algum bom propósito”. Uma associação política origina-se de causas naturais. Homem e mulher formam uma associação chamada “família” a fim de que a raça humana continue e se multiplique. Aristóteles diz que isso “não é uma questão de escolha”, mas que se deve ao “nosso ímpeto natural... para propagar a própria espécie”. Famílias normalmente pertencem a uma vila, clã ou tribo. E nisto encontramos a associação entre governante e governado, essencial “para o propósito de preservação”. Uma sociedade é naturalmente hierárquica, diz Aristóteles. É necessário que haja líderes que determinem as regras e mantenham a ordem. Deve haver os founding fathers, por assim dizer, e “pais conscritos” – tal como os antigos romanos chamavam seus senadores. Estes organizavam a defesa da comunidade.

Em todas as sociedades antigas encontramos o título “pai” no centro da autoridade política – no centro do estado. Mesmo hoje falamos de nossos “Founding Fathers”. Dizemos que George Washington foi o “pai” de seu país. A palavra “patriota” é derivada da palavra latina para pai. Os reis de antigamente eram tratados por “sire”, que significa paternidade. O primeiro conceito de hierarquia política é demonstravelmente derivado do temível conceito de patriarcado. Ele está intimamente ligado à família, ao crescimento da população e aos requisitos à prosperidade. Não é uma questão de concordar ou de discordar com este ordenamento das coisas. Isto é simplesmente como as coisas se deram; é a maneira pela qual a história se desenrolou “naturalmente”. Poder-se-ia dizer que a política deriva da sexualidade – do impulso sexual masculino para dominar (observável em outros mamíferos, especialmente nos “machos alfa”).

Isto nos leva a tocar a lei de ferro da oligarquia, na medida em que organização implica oligarquia. Uma comunidade desorganizada não é páreo para uma sociedade organizada. Se um cidadão pretende exercer os seus “direitos”, precisa estar a salvo de inimigos. Todos os nossos conceitos de liberdade compreendem a existência de oligarquia – quer gostemos disso ou não. Não podemos desfrutar de proteção sem organização. Não podemos ter organização sem hierarquia. Todo mundo não pode ser o chefe. Apenas uns poucos estão de fato no comando das obrigações. Poder e mando de poucos é, por definição, oligarquia. Liberdade política nunca é liberdade absoluta. É uma liberdade dentro de um conjunto estreito e aceito de regras, na esperança de que essa regras envolvam um sistema de pesos e contrapesos.

O estado é uma associação para a preservação da sociedade. Surge naturalmente e é construído de acordo com noções de ordem e hierarquia. Mas também há perigo no estado. Sendo natural (tal como uma maçã), o estado pode apodrecer, pode enfraquecer-se. A desordem pode rastejar até aos seu mais íntimos recônditos. Ele pode falhar na defesa da sociedade. Pode até tornar-se o instrumento de uma gangue criminosa (e.g., Rússia). O estado pode cair nas mãos de tolos, incompetentes ou de fracos de caráter. A despeito da possibilidade de infortúnio, o estado é, não obstante, necessário tanto quanto é natural. A necessidade de defesa está sempre presente. Se o estado falhar em defender a sociedade ou se tornar-se o instrumento de tendências inaturais ao corpo político, a sociedade sofrerá conformemente.

A grande estratégia é o mais alto ponto de vista do estado. É o cerne intelectual da função de estado e deriva da perspectiva especial da defesa nacional contra inimigos estrangeiros. Um estado pode viver ou morrer em função das decisões que dizem respeito a armamento, prontidão para a guerra e estratégia. Numa era de armas de destruição em massa seria impensável que um grande país como os Estados Unidos pudesse ser varrido do mapa. Mas a época em que vivemos e a tecnologia que foi desenvolvida nos dizem que tal desenlace é perfeitamente possível. A sobrevivência de cada indivíduo e a sobrevivência da nação dependem do cultivo do pensamento estratégico. Uma vez que os Estados Unidos são uma “democracia” na qual os líderes são eleitos, o público votante deveria saber o suficiente de geografia, história, assuntos internacionais e militares para que pudesse fazer uma escolha inteligente nas urnas. O que temos diante de nós, todavia, é um desinteresse geral sobre tais questões, assim como ignorância. Curiosamente, o país como um todo é tomado por questões políticas que dizem respeito a “estilos de vida” e consumo. “É a economia, estúpido” foi um slogan político de sucesso anos atrás. Este é um sinal alarmante e não algo a ser aprovado.

Ao discutir temas que vão das “mulheres em combate” ao casamento homossexual e aborto, fica esquecida a perspectiva da grande estratégia. Por exemplo, como é que o feminismo afeta as perspectivas de longo prazo para a sobrevivência nacional? Será que a anistia a milhões de imigrantes ilegais facilita a coesão nacional ou encoraja a balcanização e a desintegração nacional? O comércio com a China está de fato armando um futuro inimigo tanto quanto erode as indústrias e aptidões nacionais? Descobrimos nessas questões um debate negligenciado, que tem mais a ver com o futuro de nossos netos do que com nossas conveniências imediatas. É um debate com o qual nem nos preocupamos em levar adiante. Tudo e todas as pessoas hoje parecem estar a favor da conveniência imediata. Toda política adotada por um estado tem impacto de curto e longo prazos sobre a capacidade de defender a sociedade de seus inimigos – e sobre a habilidade da sociedade de resistir aos inimigos, tanto externos quanto domésticos. Nós nos esquecemos disso. Esquecemos do primado da sobrevivência nacional. Usamos o estado para satisfazer nossos desejos, quando os desejos são da conta do indivíduo. Ao que parece, o estado é usado para todo propósito, enquanto a defesa nacional e os militares são depreciados e aviltados como instrumentos do imperialismo.

O homem é um animal político porque busca segurança na associação e o estado é assim formado. A segurança é mais bem obtida através da boa estratégia e boa estratégia significa a harmonização de vários elementos para um fim. Desde que somos uma sociedade, não somos livres para destruir a obra de nossos ancestrais ou condenar nossos netos à penúria. Há coisas tais como “dever” e também “decência”. Isto também foi esquecido.

© 2008 Jeffrey R. Nyquist

Publicado por Financialsense.com

Tradução: MSM

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