quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Venezuela pós-plebiscito: chavismo, baduelismo e cordão umbilical

por Destaque Internacional em 03 de janeiro de 2008

Resumo: Não resta dúvida de que a derrota plebiscitária de Chávez constitui um motivo de alento, porém é preciso evitar que se transforme em uma desmobilização dos espíritos.

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O tropeção do presidente Chávez no recente plesbiscito prejudicou, sem sombra de dúvidas, a auréola de invencibilidade que o rodeava até o momento, e trouxe um indiscutível alento para os autênticos opositores do chavismo. Nesse plebiscito estava em jogo a reforma de 69 artigos da Constituição, cuja aprovação teria significado a asfixia da propriedade privada e das liberdades fundamentais, e teria deixado o caminho aberto para sua reeleição indefinida.

Não obstante esse alívio, no plano interno venezuelano não existem motivos suficientes para cair em um otimismo exagerado, se considera-se que Chávez perdeu por uma estreitíssima margem de 1%, segundo as autoridades eleitorais; que o alto índice de abstenção, de mais de 40% indica uma faixa considerável de indecisos ou indiferentes, de ambos os lados; que Chávez ainda tem em suas mãos recursos financeiros gigantescos, derivados dos altos preços do petróleo; que ainda lhe restam cinco anos de mandato, e que vários dos novos líderes da oposição são figuras duvidosas, saídas das próprias fileiras do chavismo.

Um exemplo característico de líderes emergentes, nos quais não há motivos suficientes para confiar, é a figura do general da reserva Raúl Isaías Baduel, que foi ministro da Defesa de Chávez até julho passado, e que se opôs somente a alguns aspectos da Constituição chavista.

Tampouco, no plano externo, pode-se subestimar a influência do chavismo, mesmo quando tenha sofrido um golpe político e psicológico não pequeno, se consideram-se os focos de infecção e as metástases políticas com que Chávez contribuiu para criar na Bolívia, Equador e Nicarágua, bem como em outras nações da região onde as velhas e novas esquerdas possuem influência.

Finalmente, no plano interno e externo, o revés do chavismo poderá significar um fortalecimento de posições de esquerda com aparência “moderada”, que encontrou fórmulas de deslizamento suave para posições de esquerda, sem causar sobressaltos no eleitorado, com o qual, paradoxalmente, a confusão do panorama político latino-americano poderá aumentar. Com efeito, em vários países da região, governos de esquerda “moderada” têm combinado estratégias econômicas afins com a livre iniciativa, que cativam e anestesiam o centro político e empresarial, com políticas de revolução cultural, de mentalidades e de costumes que favorecem a deterioração moral e psicolgica da população, com o qual se produz um deslizamento gradual e subliminar à posições de esquerda sem despertar reações.

Resumindo, não resta dúvida de que a derrota plebiscitária de Chávez constitui um motivo de alento, porém é preciso evitar que se transforme em uma desmobilização dos espíritos. Como se viu, seria prematuro dizer que o chavismo está ferido de morte. Das entranhas do chavismo surgiu o baduelismo, unido ao anterior por um cordão umbilical e com laços familiares com o lulismo e o bachelismo. Não deixar-se levar por um otimismo exagerado poderá ser uma contribuição decisiva para que o resultado do recente plebiscito seja realmente o começo do fim do governo de Chávez.

Publicado por Destaque Internacional – Informes de Conjuntura – Ano X – nº 230 – São José da Costa Rica – 13 de dezembro de 2007 – Responsável Javier González

Tradução: Graça Salgueiro

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