sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Prêmio Nobel da Paz para as FARC?

por Graça Salgueiro em 11 de janeiro de 2008

Resumo: Há mais coisas entre as FARC e Chávez do que supõe a vã tagarelice tupinikim.

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A imprensa brasileira vem dando grande destaque à questão das vítimas seqüestradas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e do fracasso na operação que libertaria a princípio a ex-candidata presidencial da Colômbia, Ingrid Betancourt, e mais recentemente três outras pessoas dentre as quais “Emanuel”, o filho de Clara Rojas, nascido de uma relação desta com um terrorista do bando narco-guerrilheiro. Entretanto, com o fracasso das duas operações, as brilhantes conclusões a que chegaram, em uníssono, todos os meios de comunicação são estas: 1. Uribe é o grande culpado porque “rompeu” o acordo de cessar fogo na área onde se faria a entrega; e 2., as FARC fizeram Chávez de palhaço e lhe passaram a perna.

Há mais coisas entre as FARC e Chávez do que supõe a vã tagarelice tupinikim. Segundo fontes de Inteligência, diplomáticas e ex-guerrilheiros desertores, as FARC encontraram seu santuário na Venezuela. 30% das 600 toneladas de cocaína que circulam anualmente pelo mundo transitam pela Venezuela, com a cumplicidade, por conivência ou omissão, de elementos importantes do governo venezuelano. Esta cumplicidade é ativa e constante em nível operacional, nas zonas de fronteiras onde existem atividades militares e dos narcotraficantes, e mais passiva quanto mais próximas do Governo.

A infraestrutura venezuelana destinada ao fluxo de cocaína das FARC cresceu de forma tão exponencial nos últimos cinco anos do governo de Chávez, que ele decidiu expulsar a agência norte-americana antidroga (DEA) de seu país em 2005, para gáudio de todos os narco da região. Os vôos não autorizados “suspeitos” foram ampliados de 3 para 15 por semana desde 2006; passou a fornecer documentos de identidade venezuelana a guerrilheiros e passaportes aos líderes, todos com nomes falsos, para que possam viajar para Cuba e Europa sem problemas. Rodrigo Granda é um dos tantos exemplos, inclusive votou pelo “SIM” no referendum de dezembro último que pedia a modificação da atual Constituição, em agradecimento aos favores recebidos de Chávez.

Além disso, as autoridades venezuelanas tanto dão proteção armada a quatro acampamentos guerrilheiros fixos dentro do território venezuelano, quanto fazem “vista grossa” a aulas sobre fabricação de bombas e treinamento militar às Forças Bolivarianas de Libertação (FLB), conhecidas também como “boliches”, guerrilha criada por Chávez para defender o país da “invasão norte-americana”. Segundo relata “Rafael” (nome fictício de um ex-guerrilheiro), “Em junho ou julho eu havia recebido cursos na fabricação de explosivos, junto com efetivos das milícias de Chávez, os ‘boliches’. Aprendemos ali, num acampamento dentro da Venezuela, como armar diferentes tipos de minas quebra-pé e caça-bobo, e a armar bombas com C-4 recebido da Guarda Nacional. Também nos ensinaram a detonar bombas de maneira controlada usando telefones celulares”.

Alguns líderes possuem propriedades, como é o caso de Germán Briceño Suárez, codinome “Grannobles”, membro do estado-maior das FARC e chefe da Frente 10 que possui uma fazenda grande e luxuosa, protegida – segundo fontes de inteligência – pela Guarda Nacional venezuelana, conhecida como “Rancho Grande”, na localidade Elorza no estado de Apure. Esta fazenda está distante do conflito armado e diz-se que é lá – alguns ex-guerrilheiros afirmam com segurança – que está confinada a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt.

O contato de Chávez com as FARC, segundo fontes de inteligência, é feito através de um dos sete líderes máximos, Iván Márquez, cujo nome é Luciano Marin Arango que também possui uma fazenda na Venezuela e que se comunica com Chávez através de contatos com os altos comandos dos serviços de inteligência venezuelanos. De acordo com um ex-guerrilheiro entrevistado pelo jornal El País, “Operar na Venezuela é a coisa mais fácil que há” porque “a guerrilha das FARC está em cheio lá e a Guarda Nacional, o Exército e outros venezuelanos com cargos oficiais lhes oferecem seus serviços em troca de dinheiro. Nunca há enfrentamentos entre as FARC e a Guarda ou o Exército”. Ainda segundo ele, as mercadorias são repassadas por caminhão pela fronteira; lá, a Guarda Nacional venezuelana já sabe de antemão, já foi subornada e deixa cruzar a fronteira sem problemas. “De certa feita”, conta Rafael, “viajei em uma carro particular, um Toyota Corolla com um capitão da Guarda Nacional, chamado Pedro Mendoza, à base militar chamada Fuerte Tiuna*. Entrei na base com o capitão que me entregou oito fuzis”. Segundo Rafael, a Guarda Nacional também forneceu às FARC granadas, lança-granadas e material explosivo de base petrolífera C-4 usado para fabricar bombas.

Segundo a conceituadíssima jornalista venezuelana Patricia Poleo, hoje exilada nos Estados Unidos como perseguida política do governo venezuelano, Chávez pagou às FARC 500 milhões de dólares para que o bando narco-terrorista emitisse um comunicado anunciando que entregariam os reféns a ele ou a alguém que ele indicasse, como um ato de “desagravo” à descortezia do presidente Alvaro Uribe quando cancelou seus planos de aparecer perante o mundo como o “paladino dos direitos humanos”. Segundo as FARC, “a anulação da gestão facilitadora foi um ato de barbárie diplomática contra o legítimo chefe de um Estado-irmão e contra o povo venezuelano, solidários com a solicitação feita desde Bogotá”.

Durante quase três meses estes personagens nefandos – Chávez, FARC, Fidel, os Kirchner – tomaram conta do noticiário numa tentativa grotesca de limpar suas imagens emporcalhadas, usando e abusando das vítimas de sua monstruosidade e de suas ingênuas e esperançosas famílias. Chávez havia sido repreendido perante o mundo inteiro pelo rei Juan Carlos e depois pela presidente do Chile, Michele Bachelet, na Cúpula Iberoamericana. Em seguida, perdeu a chance de se perpetuar no poder e oficializar a ditadura comunista na Venezuela como desejava o morto-vivo Fidel. Uribe retira seu papel de mediador com as FARC e, finalmente, estoura o escândalo da maleta com 800 mil dólares para a campanha presidencial de Cristina Kirchner, eleita e já empossada através de grosseira fraude. Para desviar as atenções sobre este escândalo e afrontar os Estados Unidos, Cristina manda seu marido como facilitador, enquanto Chávez planeja tudo em Cuba com estragistas militares de Fidel Castro e delegados das FARC, entre eles seu “chanceler” Rodrigo Granda e o líder Iván Márquez, segundo informou o jornal “El Universo.com”.

Por sua vez, as FARC perceberam que esta era uma boa oportunidade para mostrar ao mundo seu desejo de tornar-se um partido político e de asssumir o poder da Colômbia, pois todos os holofotes estariam voltados para suas ações e declarações. Então, de uma hora para outra, o mundo inteiro se mostrou solidário com sua repentina “bondade” das FARC, esquecendo-se convenientemente das quase 3.000 pessoas seqüestradas, do sem-número de mutilados – a maioria crianças, sem pernas, por causa dos campos minados -; de que é obra desses sensíveis “combatentes” a explosão de uma bomba dentro de uma igreja em 2002, com mais de 100 pessoas em grande parte crianças e mulheres que abrigavam-se de seus ataques, e cujos restos dos corpos ficaram pregados nas paredes; do “colar-bomba” posto no pescoço de uma de suas vítimas, uma mulher; da “bicicleta-bomba” que fez voar pelos ares um garoto de 12 anos e que, finalmente, o pequeno Emanuel fora arrancado do seio de sua mãe porque “chorava muito”. Vejam aqui o que significa gesto humanitário DE FATO, nesta atitude dos Militares (forças LEGAIS) da Colômbia, para com uma menina ex-guerrilheira das FARC abandonada à própria sorte.

O jornalista colombiano Jorge Enrique Botero ouviu da boca – e olhando nos olhos - do “Comandante” Raúl Reys, que Clara Rojas havia tido um filho com um guerrilheiro, em princípios de abril de 2006 quando promovia seu livro “Últimas notícias da guerra”. Após esta versão de Botero e as declarações do intendente da Polícia, John Frank Pinchao, o governo da Colômbia resolveu pesquisar e chegou à conclusão que todos conhecem, inclusive o resultado do DNA já confirmado. O que não foi divulgado, até então, é como nasceu esta criança, de que modo foi tratada e porquê estava vivendo no Instituto Colombiano de Bienestar Familiar (ICBF).

Segundo Pinchao, através de uns buracos nas paredes de madeira do acampamento de nome “Caño Caribe” onde estavam, ele pode ver que Clara Rojas estava grávida. Meses depois do nascimento, ocorrido em julho de 2004, levaram o bebê e Clara gritava o nome do menino pedindo que o devolvessem mas ninguém lhe dava atenção. Pinchao conta que o pai de Emanuel é um guerrilheiro chamado Juan David, codinome “Rigo”, pertencente à Frente 54 e que comentava-se que iam matá-lo. O que é extremamente difícil de aceitar é que esta criança tenha sido fruto de um ato de amor, que a vítima tenha se enamorado e tido um romance com seu algoz; não quando se trata de gente para quem uma vida humana não vale nada!

Segundo um ex-diretor do hospital de El Retorno, para onde foi levado mais tarde Emanuel, “Não é costume das FARC deixar que as guerrilheiras tenham filhos e quando é demasiado tarde para abortar, ao nascer entregam a criança a milicianos nas cidades mais próximas”. E foi o que ocorreu. Como Emanuel teve um bracinho quebrado ao nascer (de parto cesareana) e sem cuidados adequados adquiriu impaludismo e leishmaniose, as FARC decidiram dá-lo a alguém para cuidar; entregaram-no a José Crisanto Gómez Tovar, um pedreiro paupérrimo e com cinco filhos que também era raspador de coca. Ficaram de voltar no dia seguinte mas passou-se quatro meses quando apareceu uma guerrilheira que disse que o menino “era muito lindo e se parecia com seu pai, Juan David”, daí terem-no registrado com esse nome.

Com a situação financeira cada dia pior, as crianças doentes, e as FARC sem deixar qualquer ajuda, sobretudo dinheiro para criar o bebê, Gómez Tovar resolve mudar-se sem o conhecimento dos terroristas e procurar ajuda no hospital de San José del Guaviare. Lá, um homem que se identificou como sendo das FARC o ameaçou, obrigando-o a dizer que era parente do bebê, daí o motivo dele ter-se identificado como seu tio-avô. Um vizinha viu o estado das crianças e denunciou ao escritório municipal do ICBF que acolheu Emanuel.

Quatro meses depois voltaram a procurar Tovar para saber notícias de Emanuel e ele mentiu, dizendo que estava em tratamento e que estava bem mas ressente-se de que nunca lhe perguntaram se precisava de dinheiro. Há três meses o “Comandante Jerónimo” disse que precisava falar com ele sobre o menino e ameaçou toda sua família se não desse notícias do bebê. Em 18 de dezembro, quando as FARC já haviam montado o show junto com Chávez, as ameaças foram mais diretas e deram um prazo até 30 de dezembro para devolvê-lo. Desesperado, Tovar procurou o Defensor Públlico de San José del Guaviare e a Assistência Jurídica que o ajudaram e lhe ofereceram segurança.

No hospital diagnosticaram que Emanuel sofrera maltrato, negligência e abandono, além de apresentar desnutrição, impaludismo, enfermidade diarréica aguda, leishmaniose, fratura do úmero e retardo no desenvolvimento psicomotor. Mas Marulanda acusa Uribe de estragar a “brincadeira”, de querer impedir um “intercâmbio humanitário” e depois de reconhecer que a operação não aconteceu porque Emanuel não estava em poder deles, alegou que a entrega não foi feita por causa das “intensas operações militares no local” e que Uribe seqüestrou o menino.

Como se pode ver, nem as FARC fizeram Chávez de idiota nem tampouco Uribe é o vilão da história como já faz coro a imprensa venal. Chávez tem duplo acordo com as FARC, através do Foro de São Paulo e do fornecimento de armas, dinheiro, território livre para montar suas bases em troca do monopólio da circulação da droga; nenhum ia trair o outro pois ambos se devem favores e fidelidade. A escolha de Chávez como o “grande mediador” foi mais um desses favores e ambos sabiam que Emanuel não estava em poder das FARC, daí porque não poderia ser outra pessoa a ter o comando da operação. Daí também o porquê da certeza de Chávez de que os reféns seriam entregues e sua “paciência” em esperar pelo prazo e local que Marulanda determinasse mas, o que eles não esperavam, é que o tiro saísse pela culatra e outra pessoa lhes passasse a perna.

Foi Emanuel quem derrotou as FARC e expôs ao mundo toda a crueldade deste bando de assassinos; foi Emanuel quem derrotou Chávez e seus planos abomináveis de se promover às custas do sofrimento de vidas humanas que eram apenas parte da paisagem selvática. Antes que queiram acusar Uribe de impedir a “paz” na Colômbia, é preciso ficar claro que este bando de abutres insensíveis como o bajulador de ditadores comunistas, Oliver Stone, a mídia companheira de viagem e os “observadores internacionais” – dos países pertencentes ao Foro de São Paulo -, pouco se importa com o sofrimento das famílias dos seqüestrados ou com as milhares de vidas ceifadas brutalmente e sem razão pelas FARC. Para este tipo de gente os fins cruéis continuam a justificar os meios e, fazendo jus ao costumeiro cinismo, se calhar, ainda vão sugerir para o próximo prêmio Nobel da Paz, Chávez ou as FARC, pelo belo gesto “humanitário” que em boa hora foi desmascarado pelo presidente Uribe. Depois de ter dado este prêmio a “pacificadores” criptocomunistas como Jimmy Carter, Rigoberta Menchú, Desmond Tutu e finalmente Al Gore, é provável que estas humaníssimas criaturas sejam ao menos indicadas; por que não?

* Fuerte Tiuna é também onde funciona o Ministério do Poder Popular da Defesa da República Bolivariana da Venezuela.

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