terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O relatório NIE torna uma guerra contra o Irã ainda mais provável

por Daniel Pipes em 15 de janeiro de 2008

Resumo: O relatório elaborado por despreparados burocratas sobre o programa nuclear iraniano teve como principal resultado, ao contrário do que muitos imaginam, deixar como principal opção justamente uma intervenção militar direta contra o Irã.

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Com a publicação, em 3 de dezembro de 2007, de uma Estimativa da Inteligência Nacional (NIE), “Irã: Capacidades e Intenções Nucleares”, de forma completa e inesperadamente não-secreta, emergiu um consenso de que uma guerra com o Irã “agora parece estar fora da agenda”. De fato, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou que o relatório era um golpe fatal para os inimigos do país, enquanto o porta-voz do seu ministério do exterior considerava o relatório “uma grande vitória”.

Eu discordo desse consenso por acreditar que uma ação militar contra o Irã é agora mais provável do que antes da publicação do NIE.

O ponto principal do NIE, contido em sua primeira e já famosa linha, sustenta que:

Julgamos, com alto grau de confiança, que no outono de 2003, Teerã parou o seu programa de armas nucleares”. Outros analistas – John Bolton, Patrick Clawson, Valerie Lincy e Gary Milhollin, Caroline Glick, Claudia Rossett, Michael Rubin, e Gerald Steinberg – dissecaram e refutaram competentemente essa ordinária, ultrajante e politizada paródia de peça de propaganda; portanto, eu não mais preciso discorrer sobre esse relatório aqui. Ademais, proeminentes membros do Congressonão estão convencidos” das conclusões contidas no NIE. Líderes franceses e alemães o desdenharam, assim como o fez a OTAN; até mesmo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) expressou dúvidas a respeito. A inteligência britânica acredita que seus colegas americanos foram logrados, enquanto a inteligência israelense reagiu com espanto e desapontamento.

Vamos saltar um pouco à frente e perguntar quais são as implicações de longo prazo desse relatório de 2007.

Apenas a título de raciocínio, vamos presumir que o NIE de maio de 2005, no qual dezesseis agências de inteligência americanas avaliavam “com alto grau de confiança que o Irã está determinado a desenvolver armas nucleares”, esteja correto. Vamos presumir também que há três possíveis reações americanas a um incremento nuclear Iraniano:

1. Convencer os iranianos a que eles mesmos parem o seu programa de armas nucleares.

2. Pará-lo por eles através de uma intervenção militar (a qual não precisa ser um ataque direto às instalações da infra-estrutura nuclear, mas poderia ser mais indireto, tal como um embargo à entrada de produtos de química fina no país).

3. Permitir que o programa culminasse com uma bomba nuclear iraniana.

Quanto à opção n.º 3, o presidente Bush ressaltou recentemente que quem quer que esteja “interessado em evitar a III Guerra Mundial... deveria estar interessado em evitar [que os iranianos] obtenham o conhecimento necessário à fabricação de uma arma nuclear”. Até agora, o pouco convincente NIE não mudou sua concepção. Ele parece compartilhar da opinião de John McCain de que “[S] ó há uma coisa pior do que os EUA exercerem uma opção militar. E essa é um Irã com armas nucleares”.

Portanto, a verdadeira questão não é se o Irã será impedido, mas como.

O NIE 2007, de fato, pôs um fim à opção nº1, qual seja, a de convencer os iranianos a que eles mesmos interrompam seu programa nuclear, pois esta via requer um amplo acordo externo. Quando países-chave reuniram-se para passar a Resolução 1737 do Conselho de Segurança em dezembro de 2006, isso fez com que as lideranças iranianas reagissem com cautela e temor; mas a suavizante conclusão do NIE destrói tal cooperação e pressão. Quando Washington pressionar algum país ocidental, ou então a Rússia ou a China e a AIEA, eles podem sacar o relatório da gaveta e brandi-lo na frente dos americanos, recusando-se a cooperar. Pior ainda: o NIE mandou um sinal à liderança com visão apocalíptica em Teerã de que o perigo de sanções externas terminou, de que ela pode continuar despreocupada no seu negócio de construir uma bomba.

Isso deixa a opção nº2, uma intervenção direta de algum tipo. Sim, isso parece improvável agora, com o NIE caindo como um petardo e deslocando o debate. Mas será que esse altamente criticado exercício de mil palavras realmente continuará a dominar a compreensão americana do problema? Fará com que George W. Bush mude de idéia? A sua influência se estenderá durante um ano? Estender-se-á até o próximo presidente?

É altamente improvável, pois essas projeções presumem estase – i.e., que esse único relatório possa refutar todas as outras interpretações, que nenhum outro acontecimento terá lugar no Irã, que a discussão sobre as intenções nucleares iranianas encerra-se no início de dezembro de 2007, para nunca mais voltar à tona. O debate muito certamente continuará a evoluir e a influência deste NIE murchará e se tornará apenas mais uma das muitas avaliações, técnicas ou não, oficiais ou não, americanas ou não.

Em resumo, com a opção nº1 solapada e a opção nº3 inaceitável, a opção nº2 – guerra levado a cabo, quer por forças americanas ou israelenses – torna-se a mais provável. Foi assim que burocratas [da inteligência] míopes, de mente pequena, e flagrantemente partidários, na tentativa de esconder realidades desagradáveis, ajudaram a arquitetar o seu próprio pesadelo.

Publicado pelo Jerusalem Post sob o título "Their own worst nightmare".

Também disponível em danielpipes.org

Tradução: MSM

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