domingo, 28 de novembro de 2010

Desertor fala de nexo entre as FARC e mercenário

Mídia Sem Máscara

Há dois meses Danilo, desertor do Bloco Sul das FARC e exilado político nos Estados Unidos, descreveu em Nova York com luxo de detalhes prováveis nexos do mercenário israelense Yair Klein com terroristas das FARC, a quem teria treinado no começo dos anos 80 nos Planos do Yarí, em técnicas de combate próximo, infiltração a unidades militares e sabotagem sobre objetivos estratégicos.

Este é o seu testemunho:

"Estudei engenharia de petróleo na Universidade Surcolombiana de Neiva que, do mesmo modo que a UIS de Bucaramanga, é um fortim de jovens revolucionários para nutrir as fileiras das FARC. Fui incorporado à guerrilha por Castañeda, um conhecido dirigente sindical de Huila, membro do Partido Comunista, que inclusive depois foi expulso das FARC e do partido porque roubou dinheiro da organização legalizado com faturas com preços inflados.

Cheio de fervor revolucionário e de idéias de mudança, terminei acampado em Santo Domingo de los Colorados no Caguán. Lá fiz os cursos políticos e militares. E por meu nível acadêmico fui destinado a trabalhar nas comissões políticas sob a direção de Raúl Reyes, a quem chamávamos Raúl "macita", por sua diminuta estatura e sua grande habilidade para jogar xadrez.

Lá também conheci Jojoy, um tipo impulsivo e de linguagem agressiva. Estava sendo castigado por alguma falta e o mantinham cuidando de uma cocheira de porcos e a fazer auto-crítica em público. Tirofijo era muito próximo da guerrilheirada e conosco, os urbanos. Porém, sua conversa sempre era a mesma: suas ações idealizadas e algo desfiguradas acerca de escapamentos a cercos militares na cordilheira central e Pato.


O velho vivia em Casa Verde, porém amiúde ia até o Yarí, não só pelo clima mas porque lá estavam as escolas de comandos e porque lá controlávamos o narcotráfico. Quando Jojoy cumpriu a sanção entrou para um curso de forças especiais oferecido por vários estrangeiros, dentre os quais estava Yair Klein.


Lembro de um episódio que inclusive foi narrado por Jojoy na revista 'Resistencia' depois. Jojoy ensinou aos comandos terrestres das FARC a se camuflar quase sem roupa, quer dizer, as mulheres colocavam calcinha e sutiã pretos, tingiam o corpo de cor verde camuflado, usavam umas sandálias rústicas que na Colômbia chamamos de 'vovozinhas' e ajustavam nas costas um saco com pasto tecido com cordas que as confunde com o terreno se deitam-se no chão da selva.


Os treinamentos era duros e intensos. Chamavam-nos penetrações. Primeiro deviam se aproximar do objetivo, tirar fotos, gravar áudios, filmar, fazer gráficos, anotar o tempo das atividades de rotina do inimigo e depois fazer maquetes em uma sala de aula fariana, para depois construir em plena selva uma réplica do objetivo e preparar os ataques.


Estes homens e mulheres, porque lá estava 'Sonia la Pilosa', também receberam treinamento de oficiais cubanos, membros do Farabundo Martí de El Salvador, e ex-guerrilheiros vietnamitas e dois nicaragüenses, Erika e José, aos quais apelidávamos de 'os gringos'. O velho Marulanda sempre esteve muito interessado em qualificar estes grupos. Inclusive anos mais tarde, quando a direita assassinou o camarada Teófilo Forero, o 'chefe' ordenou que esse grupo de comandos treinados por Klein e outros estrangeiros fosse batizado com o nome de Forero, mas nessa época Yair Klein já trabalhava com os para-militares. Ele é um mercenário sem ideologia; seu único ideal é o dinheiro sem se importar de onde venha. E isso os comandantes das FARC sabiam"
.

A informação mesmo sem ser verificada pela inteligência militar, nem pelos organismos judiciais, é verossímil. Coincide em muitos apartes com as confissões de Johnny, publicadas no livro En el Infierno, com os documentos das FARC analisados em La Selva Roja, com a evolução das FARC depois do desalojamento de Casa Verde, com a metodologia utilizada para atacar a base de Las Delicias e com a obstinada permanência das FARC na zona Amazônica, onde funciona sua retaguarda estratégica.

"Se o rio soa, pedras leva".




Tradução: Graça Salgueiro

Veja aqui as obras do coronel Luis Alberto Villamarín Pulido, todas inéditas no Brasil.

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