Mídia Sem Máscara
| 24 Novembro 2010
Internacional - América Latina
O que está em jogo é enorme e Bogotá sabe muito bem disso. Ajudando o Irã islâmico a se instalar nos assuntos hemisféricos, Chávez e seu bando estão tratando de deslocar os equilíbrios históricos do continente.
Uma coisa é dizer, outra é fazer. O presidente Juan Manuel Santos poderá manter sua questionada e questionável promessa de extraditar o senhor Walid Makled García à Venezuela?
As razões que a chancelaria colombiana invoca para fazer isso são inexatas: que Chávez pediu Makled primeiro, que este cometeu alguns crimes de sangue na Venezuela. A nota diplomática entregue em 17 de agosto de 2010 pelo governo norte-americano ao governo colombiano, um dia antes da captura de Makled em Cúcuta, mostra que Caracas jamais pediu a extradição desse traficante antes dos Estados Unidos. A DEA seguia os passos de Makled e a embaixada dos Estados Unidos em Bogotá pediu à Colômbia que o detivesse "para fins de extradição". Extraditá-lo a Caracas nessas condições, é tomar uma decisão política grave.
Se Makled for extraditado à Venezuela, Santos terá dado um passo muito visível para uma mudança da orientação estratégica das relações diplomáticas da Colômbia. Esse ato, mais a visível negligência que existe em Palácio para restabelecer o pacto com os Estados Unidos sobre as sete bases militares, poderia ser a confirmação de que os eixos estratégicos das relações diplomáticas do país vão mudar, ou que há, de fato, um novo rumo na política exterior, sem que a opinião pública tenha sido advertida.
Isto estaria sendo feito sem consultar a vontade dos cidadãos? Juan Manuel Santos foi eleito sobre uma base política muito clara: a continuidade da política de segurança democrática, que é um conjunto de orientações de Estado e não só uma orientação tática a respeito da luta política e militar contra o narco-terrorismo em todas as suas formas.
Santos não foi eleito para que girasse para uma política alternativa, ou oposta, nem para uma espécie de terceira via incerta, na qual caberia um acomodamento ante as exigências do imperialismo bolivariano.
Digo isto com enorme preocupação, pois o que está ocorrendo nestes dias nas altas esferas do poder deixa uma impressão muito contraditória.
O presidente Santos está aceitando a política de Hugo Chávez de "tudo ou nada"? Restaurar as relações diplomáticas com a Venezuela está muito bem. Todo o mundo aplaude o presidente Santos por haver conseguido essa restauração. Entretanto, Caracas está tirando falsas conclusões, ou inferências abusivas, dessa nova fase das relações bilaterais. É como se Caracas assumisse que Bogotá se submete agora a seus ditames. Isso seria inaceitável. A Colômbia não pode renunciar a seu dever de soberania nacional, de autonomia e de liberdade efetiva e real frente aos outros Estados.
Por que, ao capturar um personagem como Makled, que enviou mais de cinco toneladas de cocaína aos Estados Unidos, a Colômbia não pode extraditá-lo aos Estados Unidos, como sempre fez em casos semelhantes? Por que deve ir para a Venezuela, onde esse personagem gozava de facilidades especiais para fazer seus negócios ilegais?
Exigir agora do presidente Santos que, em virtude de uma promessa dada não se sabe onde nem quando, deve pôr Makled nas mãos da polícia venezuelana, onde o homem pode perder o sorriso, a memória e até a vida, é uma mostra de relações diplomáticas restauradas? Não. É a prova de que Caracas pretende impor a Bogotá decisões gravíssimas.
O que Chávez pede a Santos é absurdo. O que Chávez pede é, nem mais nem menos, que Santos golpeie os interesses de segurança nacional dos Estados Unidos. Mais precisamente: em um momento de evidente declínio de sua ditadura, o presidente Hugo Chávez quer que a Colômbia sirva de martelo contra Washington. A Colômbia pode assumir esse papel nefasto? Para ir para onde? Para ganhar o quê? Para que a Colômbia se veja em problemas ante seu aliado histórico e caia definitivamente nas teias da diplomacia da UNASUL e da ALBA?
Não, a Colômbia não pode assumir a responsabilidade de consolidar um regime fanático e detestável que não teve jamais para com a Colômbia nada diferente a uma política de insultos, ameaças e violências extremas.
Bogotá deve supor que os Estados Unidos insistirão na extradição de Makled como insistiram ante a Tailândia para que lhe entregassem o traficante de armas russo Viktor Bout. Moscou se opunha com força a essa extradição. O senhor Putin propôs à Tailândia presentear-lhe armas e até um submarino de combate em troca de que lhe entregasse o "mercador da morte", o mesmo que queria dotar as FARC de mísseis anti-aéreos e aviões artilhados. Não obstante, Washington ganhou a partida. A Casa Branca cruzará os braços agora ante o caso Makled, que não é menos importante?
O que está em jogo é enorme e Bogotá sabe muito bem disso. Ajudando o Irã islâmico a se instalar nos assuntos hemisféricos, Chávez e seu bando estão tratando de deslocar os equilíbrios históricos do continente. O armamentismo chavista é conseqüente com essa perspectiva. A guerrinha de nervos que nos faz no Caribe com a ajuda de Cuba e da Nicarágua faz parte dessa ofensiva. Ante esse panorama, Bogotá deve apoiar Caracas ou, pelo contrário, deve reforçar sua unidade interna e suas alianças com o mundo democrático e atlantista? Essa é a questão de fundo. Um mal passo no tema Makled poderia ser o pior sinal que a Colômbia poderia enviar aos Estado Unidos. O presidente Santos tem a palavra. Reconsiderar sua decisão de 16 de novembro seria o mais sensato que poderia fazer.
Tradução: Graça Salgueiro
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