Mídia Sem Máscara
| 17 Novembro 2010
Internacional - América Latina
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, ao qualificar Hugo Chávez como seu "novo melhor amigo", cometeu, no melhor dos casos, um excesso desnecessário.
Soltei uma gargalhada, só para depois ficar perplexo. Acreditei que era outra das saídas esquizofrênicas do Tenente-Coronel, que agora tratava Santos como seu compadre quando apenas semanas antes lhe havia chamado de mafioso e para-militar. A perturbação veio quando constatei que não era Chávez quem falava de novas amizades, senão Santos que se referia afetuoso ao aprendiz de tirano. Reafirmo que é melhor ter relações que não tê-las e creio que o esforço para baixar a tensão da situação com o vizinho tinha sentido estratégico e, portanto, merecia uma cuidadosa tarefa diplomática. Sempre pensei, e escrevi aqui, que Uribe fazia um favor enorme a Santos arejando os vínculos do governo venezuelano com a guerrilha colombiana e que para o novo mandatário, nas condições em que recebeu as relações, tudo era lucro. Ademais, me pareceu justificado o empenho se conseguia-se ao menos o pagamento da dívida de mais de 800 milhões de dólares da Venezuela com exportadores colombianos. Recuperar essa graninha, ou ao menos parte dela, bem valia uma missa ou, para o que nos ocupa, um encontro em San Pedro Alejandrino. Uma dose de pragmatismo era justa e necessária.
Porém, uma coisa é uma coisa e outra muito distinta é qualificar Chávez como seu "novo melhor amigo". Não pode ter sido senão uma brincadeira porque Santos, como Uribe, tem pouco senso de humor. E porque o Presidente é frio e calculista nestes temas, como deve ser, e sabe muito bem que não pode se dar semelhante luxo retórico (qualificar Chávez como seu "novo melhor amigo" foi, no melhor dos casos, um excesso desnecessário).
E porque não é crível a súbita transformação dos afetos em um Presidente que conhece como poucos, desde muito antes de ser Ministro da Defesa, a natureza agressiva e expansionista da revolução bolivariana e seu apoio às FARC e o ELN. E porque a realidade, que é o que afinal importa, mostra que apesar das aproximações, Chávez ainda não mudou nada substantivo que mereça que deixemos de vê-lo com prevenção, lhe abramos os braços e apreciemos sua amizade.
Na política internacional o que vale é alcançar os objetivos estratégicos. O que pesam são os fatos, não as palavras, por muito que estas tenham um inocultável simbolismo. E os fatos mostram que Chávez não pagou ainda as expropriações à Argos e aos sócios colombianos do Éxito, que os giros da dívida são anunciados porém não chegam, e que os cabeças da guerrilha colombiana continuem tranqüilos em território venezuelano. Até que isso não mude, até que a Venezuela não expulse Iván Márquez, Granda, Jesús Santrich, e Granobles, Gabino, Antonio García e Pablo Beltrán, todos refugiados na Venezuela, as precauções na relação com Chávez têm de ser máximas e as denúncias internacionais, se não houver mudança, um imperativo. Não serve para nada que Chávez não insulte o Presidente colombiano, ou que se reunam algumas comissões, se a realidade da cooperação de Chávez com a guerrilha permanece e se os industriais e exportadores não recebem o que se lhes deve.
Agora, não é demais lembrar que na hora de escolher amigos é necessário ser cuidadosos: o récord de Chávez é tenebroso. É como o escorpião da fábula: sua natureza é picar, mesmo a quem lhe estende a mão.
Finalmente, seremos tão insensatos de extraditar o narco Walid Makled à Venezuela, para que Chávez o silencie?
Fonte: Diario El País de Calli
Tradução: Graça Salgueiro
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