Mídia Sem Máscara
Eduardo Mackenzie | 21 Novembro 2010
Internacional - América Latina
Esta amizade, que Cícero não recomendaria em seu inesquecível diálogo, durará o que convenha a Chávez.
Para se fazer querer por Chávez, Santos quer passar por baixo das forcas caudinas. Nós não.
Lamentamos discordar. Quando a opinião comum se faz línguas sobre os êxitos diplomáticos de nosso Presidente no manejo das relações com o comandante Chávez, a nós nos parece esta ópera bufa o pior dos cem dias do Governo. O doutor Santos não podia esquecer o tratamento indigno que seu antecessor, Álvaro Uribe Vélez, recebeu do vizinho. Porque não é questão pessoal, como se se tratasse de bate boca entre donos de cantina. O Presidente é o Chefe de Estado, a cabeça do Governo e o símbolo da unidade nacional. E a Colômbia não pode permitir que se trate de assassino, narcotraficante e bandido a quem ostentasse esses títulos. Nesse abraços de San Pedro Alejandrino havia uma irremediável aceitação das injúrias passadas, das quais o agressor nunca se desdisse.
O próprio presidente Santos havia recebido o mesmo caudal de impropérios. Nas vésperas do segundo turno eleitoral, o para-quedista o chamou de mafioso, sem que tampouco se desse ao trabalho de nos contar quando averiguou que seu novo melhor amigo não era tal coisa. Perdoar ofensas é virtude de cristãos. Porém, quem representa a dignidade de um povo não pode esquecê-las tão rápido e tão barato.
Esta amizade, que Cícero não recomendaria em seu inesquecível diálogo, durará o que convenha a Chávez. Porém, supondo que, pelo bem da Pátria, valham os riscos, não podemos aceitar os condicionamentos óbvios que devemos suportar para conquistar estes amores. O primeiro, que lancemos ao esquecimento os acampamentos que albergam "Granobles", "Granda", "Timochenko" e "Márquez", com centenas de seus acompanhantes na Venezuela.
Tampouco poderemos mencionar "Pablito", o assassino que deixamos escapar em Arauca e que comanda o ELN naquela região, tantos anos maltratada por esse bando de facínoras.
Nem uma palavra nos resta permitida sobre as gigantescas compras de armas que Chávez fez nos últimos anos. Os aviões supersônicos, as fragatas, os submarinos, os tanques russos, os fuzis AK-47 com sua fábrica e suas munições estranhamente compatíveis com as que as FARC usam, os foguetes de última geração, a planta nuclear, não são para assustar o Suriname, nem para prevenir ataques em Aruba. Chávez está se armando contra a Colômbia e Santos não pode ignorar isto.
Outra condição para que se conserve esta comovedora amizade é o silêncio em que nos comprometemos manter em relação o conteúdo dos computadores do "Mono Jojoy". Se os de "Reyes" foram tão reveladores, o que conterão os do verdadeiro chefe militar das FARC? Porém, nem mencioná-los. O que é fácil de prometer porém menos de cumprir. O Presidente não pode reservar-se provas judiciais, nem pode recusar ao Procurador o que lhe interesse saber como responsável pela ordem jurídica da Nação.
A última condição é a de extraditar Walid Makled à Caracas e não aos Estados Unidos. Erro jurídico colossal e diplomático. Nossos vizinhos do Norte não aceitarão jamais esse desvio de seus sócios na luta contra o narcotráfico. O mafioso foi capturado na Colômbia por notícias da DEA e não da Venezuela. E o que ele sabe interessa à Colômbia e aos Estados Unidos, e não a Chávez, a quem só lhe importa esse saber para silenciá-lo. Extraditado à Venezuela, esse personagem, chave para entender como o governo desse país maneja o tráfico de cocaína, se encontrará com seus verdugos e não com seus juízes. Os generais Rangel e Carvajal entendem pouco de direitos humanos e matérias vizinhas. O único argumento com o qual o Presidente respaldou sua decisão é o muito válido de sua palavra empenhada. O que ele não disse é por quê a empenhou em causa tão má.
Tradução: Graça Salgueiro
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