segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O retorno da direita

Mídia Sem Máscara

A pergunta óbvia sobre estas eleições é se o maior perdedor a não perder de fato o emprego compreende a nova realidade política. A julgar por sua conferência de imprensa nesta semana, a resposta do presidente Obama é "não."

Ainda há poucos meses, articulistas de esquerda, reluzentes com a vitória presidencial de Barack Obama e o controle democrata do congresso, escreviam obituários alegrezinhos para o movimento conservador e seu adjunto, o Partido Republicano. Nesta narrativa triunfalista, a direita havia sido repudiada em sucessivas eleições e a era do domínio democrata havia começado. Se as eleições de meio-mandato demostraram conclusivamente alguma coisa foi que tanto o declínio da direita quanto o ressurgimento da esquerda haviam sido grandemente exagerados.

Os republicanos foram os vencedores incontestes no "tsunami político" deste ano. Seu reagrupamento nestas eleições - incluindo um ganho líquido de mais de 60 assentos anteriormente democratas - representa o maior ganho de uma só vez por parte um partido político desde as eleições de 1948. Esta vitória arrasadora, como aponta o articulista Michael Barone, deixa os republicanos com uma maioria mais ampla do que a que possuíram durante seus 12 anos a frente do congresso, entre 1994 e 2006. E o que é mais importante, ter reconquistado o controle de uma parte do Legislativo tornará mais fácil para os republicanos fazerem oposição à agenda da administração Obama e restaurarem a responsabilidade fiscal que esteve no centro de sua campanha.

Tão importante quanto o novo ânimo entre as fileiras republicanas é que o partido ganhou convertidos políticos entre a parcela insatisfeita do eleitorado independente do país. Depois de ajudarem Obama a conquistar a Casa Branca há apenas dois anos, os independentes bateram em retirada dos Democratas, desertando para o Partido Republicano em números recordes. Esta revolta eliminou até aqueles democratas que um dia contaram com o apoio confiável dos independentes. Russ Feingold, de Wisconsin, cujo apoio entre os independentes caiu em quase 20 pontos desde 2004, foi a vítima mais notável. Além de fortalecer o partido antes da eleição de 2012, a injeção de sangue novo pode ajudar os republicanos a cumprirem a promessa de cortar gastos federais e reduzir o déficit, ambos temas com apelo junto aos eleitores independentes.

Paralelamente, as eleições desta semana consolidaram o Tea Party* como um movimento popular genuíno, o que favorece os republicanos. Os democratas, inclusive Obama, passaram as semanas que antecederam as eleições desdenhando dos Tea Partiers como uma campanha "de araque" montada por patrocinadores estrangeiros ricos e carecendo do apoio popular do eleitorado. As críticas não poderiam ter sido mais míopes. De acordo com pesquisas de opinião feitas durante as eleições de terça, 41 por cento dos que votaram nas disputas para o congresso disseram que apoiavam o Tea Party. (A se acreditar nas pesquisas de boca-de-urna, os Tea Partiers também acabaram sendo mais flexíveis do que os democratas reconhecem, com 11 por cento deles apoiando candidatos democratas.)

Os Tea Partiers também justificaram muito do barulho que se fez sobre seu cacife político.Candidatos com seu apoio, como Rand Paul, no Kentucky, e Marco Rubio, na Flórida, venceram suas respectivas disputas após desbancarem oponentes do establishment republicano nas primárias. Na disputa pelo senado em Wisconsin, Ron Johnson, um fabricante de plásticos ligado ao Tea Party, teve uma vitória surpreendente sobre o atual senador e ícone da esquerda Russel Feingold. Os Tea Partiers também foram decisivos em disputas acirradas. A vitória do republicano Pat Toomey sobre o democrata Joe Sestak, na disputa apertada pelo Senado na Pensilvânia, deveu muito ao fato de que 39 por cento do eleitorado era constituído por membros do Tea Party.

Os grandes perdedores da noite foram, claro, o presidente Obama e os democratas. Sua derrota coletiva foi tornada ainda mais embaraçosa pela negação que marcou seus momentos finais no controle do congresso. Como o comediante Jon Stewart apontou, as previsões para as eleições deste ano dependeram grandemente de quem previa "ser um democrata ou qualquer um outro no mundo que não fosse um democrata." Coube às urnas restaurar a sanidade, à medida em que os parlamentares recebiam, um após o outro, a versão eleitoral de um aviso prévio.

É claro que nem tudo foram glórias para os republicanos e seus aliados Tea Partiers. Os analistas políticos de esquerda adquiriram o hábito de zombarem de Sarah Palin e outros correligionários do Tea Party por terem um toque de Midas invertido - quer dizer, apoiarem candidatos que são ideologicamente simpáticos mas politicamente falhos. Este argumento tem sido repetidamente desmentido - veja o sucesso de candidatos do Tea Party, como Paul e Rubio - mas ocasionalmente mostrou-se correto. Em Nevada, Sharon Angle perdeu uma eleição apertada para o presidente do senado, Harry Reid, ajudando os democratas a manterem o controle da casa. Um eterno sobrevivente, a morte política de Reid foi, no entanto, sugerida por várias pesquisas, antes das eleições. E poderia ter ocorrido, sustentam alguns, tivessem os republicanos apresentado um candidato mais astuto e menos polarizador. Em Delaware, Chistine O'Donnell, riscada desde o início como uma perdedora certa, mostrou-se ser exatamente isto, ao perder por 17 pontos para o democrata Chris Coons. Do mesmo modo, em Nova Iorque, o desafiante republicano na disputa pelo governo, Carl Paladino, alinhado ao Tea Party, sofreu uma pesada e muito discutida derrota. E embora a disputa em Nova Iorque não estivesse favorável aos republicanos, muitos estrategistas e analistas do partido haviam sustentado que Delaware certamente estaria ao alcance, tivessem os republicanos seguido a assim chamada regra de Buckley, escolhendo um concorrente mais elegível - no caso de Delaware, Mike Castle, abominação para o Tea Party. Qualquer que seja a realidade, dá pra dizer que estas eleições não terão convencido todos os críticos da viabilidade dos candidatos do Tea Party.

Mas se os republicanos às vezes escolheram a estratégia errada, o castigo merecido recaiu sobre os democratas por implementarem as políticas erradas. A mais visivelmente repudiada foi o Obamacare**. Embora os democratas tenham argumentado, corretamente, que itens isolados da lei sejam populares junto ao público, a lição inescapável das eleições é que, como um todo, ela foi um fracasso junto aos eleitores. O Wall Street Journal aponta que 33 dos 219 parlamentares democratas que votaram pelo ObamaCare perderem seus empregos esta semana, um despejo em massa condizente com a postura de 48 por cento dos eleitores que apoiavam a derrubada da lei, de acordo com pesquisas de boca-de-urna. Os democratas que acreditavam que os méritos do ObamaCare por fim convenceriam o público foram adequadamente desenganados. Na Virgínia, o deputado Tom Perriello desafiou muitos dos eleitores em seu distrito pró-republicano ao votar pela aprovação da lei. A esquerda saudou Perriello como um verdadeiro "político de convicções," mas aqueles que ele realmente representa discordaram. Coube-lhe a derrota na terça-feira.

A pergunta óbvia sobre estas eleições é se o maior perdedor a não perder de fato o emprego compreende a nova realidade política. A julgar por sua conferência de imprensa nesta semana, a resposta do presidente Obama é "não." Formalmente, pelo menos, o presidente penitenciou-se, reconhecendo a "sova" que seu partido levou e oferecendo-se para trabalhar com os republicanos. Entretanto, não há sinais de que ele vá mudar de rota. Ele não parece ter reconhecido até que ponto suas políticas - especialmente o pacote de estimulo econômico de $800 bilhões e o Obamacare - motivaram o voto de insatisfação que se viu nesta semana. Pelo contrário, Obama insistiu que o "povo americano" não quer ver republicanos e democratas entrando de novo nas "brigas que tiveram nos últimos dois anos."

Na verdade, os resultados das eleições sugerem o contrário. Se o presidente Obama parece pouco inclinado a repetir as brigas dos seus primeiros dois anos no cargo é porque ele reconhece que os americanos têm cada vez mais tomado posições. E não escolheram as dele.

*Movimento popular contrário ao inchaço do governo e a explosão da dívida pública;

**Reforma socialista do sistema de saúde, idealizada e aprovado pela administração Obama.

Editorial da FrontPage Magazine, 4 de novembro de 2010

Artigo original AQUI.

Tradução: DEXTRA

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