11/08 - Exército protesta contra revisão de Anistia e ataca "terroristas"
A verdade sufocada
Por RAPHAEL GOMIDE DA SUCURSAL DO RIO
Em meio à polêmica de rediscussão da Lei da Anistia para permitir punição a acusados de tortura, o Comando Militar do Leste -cujas tropas abrangem os Estados do Rio, Minas Gerais e Espírito Santo- divulgou mensagem de solidariedade aos militares que se opuseram a "agitadores e terroristas de armas na mão".
O CML colocou em destaque na sua página oficial na internet -sob o brasão do Exército Brasileiro- texto datado de 1983 e atribuído ao general-de-Exército Walter Pires de Carvalho e Albuquerque, ministro do Exército no governo João Figueiredo (1979-1985, período em que foi feita a Lei da Anistia). "Estaremos sempre solidários com aqueles que, na hora da agressão e da adversidade, cumpriram o duro dever de se oporem a agitadores e terroristas de armas na mão, para que a nação não fosse levada à anarquia", diz a frase destacada.
O CML é comandado pelo general-de-Exército Luiz Cesário Silveira Filho, integrante do Alto Comando da Força.
Trata-se da primeira resposta do oficialato da ativa à proposta do ministro da Justiça, Tarso Genro, que defende a revisão da Lei de Anistia (1979) para quem praticou tortura no Regime Militar (1964-1985).
Ontem, Cesário e o diretor de Ensino do Exército, Paulo César de Castro (também do Alto Comando), foram à sessão de palestras no Clube Militar, em que militares da reserva atacaram a revisão da Lei da Anistia e o governo federal.
O evento ocorreu sob protesto de representantes do Grupo Tortura Nunca Mais de Goiás e da União Nacional dos Estudantes (UNE), em frente ao Clube Militar. Houve bate-boca entre manifestantes, militares, simpatizantes e até o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). "O grande erro foi ter torturado e não matado", disse. Sob os gritos de "assassino" e "torturador", Bolsonaro dizia: "Fodam-se!"
Filho de coronel e aspirante de Cavalaria da turma de 1964, o comandante do CML já tinha sido porta-voz informal do Alto Comando em outra reunião no Clube Militar, após a concessão da patente de coronel ao guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária Carlos Lamarca, que desertou em 1969.
Estava presente o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, alvo de ação civil pública do Ministério Público Federal, sob a acusação de tortura, assassinatos e desaparecimentos.
Em palestra, o general da reserva Sérgio Coutinho primeiro afirmou que não citaria, "por fidelidade à Lei de Anistia", nomes dos "terroristas que ensangüentaram nosso país", mas acabou, ao fim, lendo as fichas dos arquivos do Exército atribuindo crimes aos ministros Tarso Genro e Paulo Vanucchi (Direitos Humanos).
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