Paulo Carvalho Espíndola
Cel Reformado
Vi hoje que o governo brasileiro sancionou uma lei de grande alcance social. Agora, moça nenhuma menor de dezesseis anos pode trabalhar como empregada doméstica. Para misteres outros, pode... Xô trabalho infantil, xô prostituição, xô meninas-de-rua, xô pedofilia, todas desconhecidas da diligência prática da lei.
Auricleide, a diarista lá de casa, comentou comigo essa decisão, inconformada. Dizia ela não saber como a sua irmã vai poder contribuir com a renda familiar dos seus pais, sem os cinqüenta reais que o patrão lhe paga, semanalmente, descontada a condução.
- “Seu Paulo, o patrão é foncionário do guverno, é do PT e ganha muito bem. Ele é muito exigente e até passa o dedo em cima dus armariu para ver se tem sujeira. Cleidogênia tem que deixar tudo limpinho. De noite, é claro que dispois que minha irmã sai, ele faz festinhas no apartamento, com muito visque e meninas petistas peladas, deixando tudo sujo para ela limpar no dia seguinte.
- Isso é bom ou ruim, Seu Paulo? Ele trata ela com rispeitu. Num tenho nada cum a vida dele nem ela. O pobrema é que ela vai ficar sem saláriu e meu pai, muito abestado, se recusa a ganhar a tal de bolsa família”.
Enquanto eu pensava na resposta para Auricleide, reportei-me aos meus dezessete anos. Aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro, aproveitei-me de uma ida de minha mãe a São Paulo e fiz uma farrinha em minha casa com a empregada da vizinha - a Soraia, que não era a vizinha - e dois amigos. Orgia que me consumiu o tenro fígado com caipirinha baratíssima e suspeitos petiscos com longínquo gosto de camarão. Ao livrar-me dos dois comparsas de farra e a sós com Soraia, ofereci-lhe mais um pedaço da guloseima assassina e ela me respondeu: “não, Paulo isso é para mim uma verdadeira bomba antônica”. Daí me veio a certeza de que o maior problema do Brasil é a Educação o resto vem depois.
Veio nada! Passados quarenta e cinco anos, hoje Auricleide mesma me disse que um seu primo metalúrgico pretende cortar o dedo mindinho da mão esquerda. Segundo ele, somente mutilados têm vez “nesse país”. Fui obrigado a concordar com ela, mesmo na certeza de que para alguns seria melhor uma lobotomia completa para “nunca na história desse país” incomodar mais.
Voltando ao caso da irmã da minha diarista, a jovem e agora desempregada Cleidogênia, eu não soube o que dizer. Afinal, os donos do poder e seus prosélitos têm idiossincrasias muito peculiares, mas tudo de acordo com a essência do ser humano. Esse patrão gosta de mulher e quem não gosta, tirante as mulheres de fato? E as outras vontades de gregos e baianos? Por exemplo: os presidentes militares, todos, morreram pobres, malgrado terem sido ditadores Fidel Castro, dizem, tem fortunas em bancos suíços Lula e sua família amealharam fortuna, também como dizem, muito além do que fazem homens de dez dedos.
Pensativa, Auricleide voltou ao trabalho. Pude ver na expressão dela o desânimo e a preocupação. Em seguida, passei à leitura do meu Correio Braziliense diário e deliciei-me com o artigo de hoje, 18 Set 2008, do excelente cronista Eduardo Almeida Reis, na sua coluna “Pena Capital”. Suas reminiscências lembram-me muitas das minhas. A de hoje fala na esteatopigia patológica de certos povos que, submetidos à fome e à sede, desenvolvem gordura nas nádegas. Essa reserva acumulada serve-lhes de fonte de energia nos piores momentos de privação.
De novo lembrei-me de Soraia. Mulata de farto bum-bum, certamente, ela teve razão de sobra para recusar a bomba que eu lhe oferecia.
Entre a limpeza da sala e do banheiro social, Auricleide voltou a me indagar:
- “Seu Paulo, o Sr acha que meu pai deve aceitar a bolsa esmola do governo? A situação tá ruim”.
Prontamente, respondi-lhe que sim, pois me veio dúvida sobre o acúmulo esteatopígico de seus familiares, em particular o de Cleidogênia, a quem não conheço.
Auricleide, entretanto, não necessita de favores, já que trabalha muito, além de ser muito bem casada com um laborioso esposo. Os dois sabem que só do trabalho vem o sustento de gente séria, não importa quantos dedos têm e muito menos quanta gordura patogênica acumularam.
Por tudo isso, não tenho medo de perder a minha estimada diarista.
Por oportuno, falando em gente de traseiro grande, lembrei-me da falência do malfadado grupo Tortura Nunca Mais. Idiotas, não souberam aproveitar a poupança dos seus apanigüados terroristas e assassinos. O meu receio é de que o governo lhes dê alguma bolsa...
Não sei se serão abestados ou sócios da besta.
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