Quinta-feira, Setembro 18, 2008
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Por Márcio Accioly
Parece estar completamente liberada a libertinagem e a ladroagem no Brasil, se tomados como base apenas recentes acontecimentos da vida nacional. A entrevista do delegado da PF Protógenes Queiroz, na revista Época (último final de semana), é capaz de meter medo até mesmo no mais profundo dos alienados.
O delegado, como a maioria deve ainda recordar, chefiou a Operação Satiagraha que teve a infelicidade de flagrar o banqueiro Daniel Dantas cometendo falcatruas financeiras nos ricos quintais da República. Crimes que envolvem figuras ditas respeitáveis de nossa cúpula político-administrativa.
Preso e algemado, o banqueiro disparou telefonemas que alcançaram nomes de destaque de nosso cenário social, sendo imediatamente liberado por força de hábeas corpus assinado por ninguém menos do que o próprio presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.
E por que se diz que o delegado Protógenes foi “infeliz” ao flagrar Daniel Dantas? Porque passou da condição de investigador a investigado, foi destituído do caso e transferido para Brasília, sob a desculpa de ter de fazer curso de aperfeiçoamento que não poderia esperar nem mais uma hora, um minuto, ou um segundo sequer.
Antes de ser afastado do comando da Operação, no entanto, ele viu Daniel Dantas ser libertado, mais uma vez, numa segunda prisão determinada pelo juiz Fausto De Sanctis. O caso, inédito, estabeleceu novo trâmite no Judiciário, queimando etapas e instâncias.
Mas o que diz Protógenes de tão assustador na sua entrevista à Época? Aquilo que muitos desconfiam e afirmam, sem possuir provas: fala abertamente do envolvimento de toda a cúpula do Estado brasileiro, num caso em que a proteção dispensada a um banqueiro transgressor extrapola limites do entendimento comum.
Fica-se com forte cheiro de queimado no ar, que nos remete a preâmbulos da Revolução Francesa (1789), inclusive com os atuais acontecimentos internacionais que adicionam grave impacto de crise econômico-financeira capaz de rachar o mundo ao meio.
Na França de Luís XV (que sucedeu seu bisavô, Luís XIV), existiam ingredientes similares, inclusive com grave crise econômica gestada ao longo do século XVIII por conta das estripulias financeiras do escocês John Law que cuidava das questões econômicas da monarquia.
Não se sabe se existe ainda ambiente ou clima, no nosso mundo de economia globalizada, para uma revolução nos moldes clássicos a que o mundo se acostumou a assistir até pelo menos o advento da derrubada de Fulgêncio Batista em Cuba (1959).
O que se tem como certo é que a miséria vai se ampliando e que a inadimplência das classes médias clama pela adoção de novo modelo em que se reverta cenário de horror insuportável no arrocho financeiro a que a maioria planetária se vê submetida.
Num país em que um delegado de órgão importante como a Polícia Federal é obrigado a correr aos jornais e avisar que possui cópias de documentos apreendidos nos computadores de um banqueiro criminoso, envolvendo os mais altos escalões da República, há de se convir que a estrutura do sistema se apresenta inteiramente rachada.
No Brasil, ninguém é punido, dependendo da quantidade de lama armazenada de que disponha para fazer face aos seus detratores. Os únicos inteiramente desamparados são os chamados cidadãos comuns, que pagam impostos e acreditam em contos da carochinha. Mas mesmo esses sentem algo de podre perpassando os insensíveis narizes.
Márcio Accioly é Jornalista.
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