sábado, 27 de setembro de 2008

URGE SALVAR O DÓLAR - NAHUM SIROTSKY


(Resposta a Carlos Lessa)

Nahum Sirotsky, de Israel

Carlos Lessa, velho amigo, você teve de mim inúmeras manifestações de admiração. Inteligência e boa intuição são combinações raras. Mas, mesmo sem a sua bagagem de conhecimentos e experiência no campo das artes da Economia, ouso discordar de certas afirmações feitas em sua entrevista ao Terra. Devo dizer que qualifiquei o subprime, derivativos e outras jogadas, de golpes de vigaristas que, pelas evidências de potencial de grandes lucros, tornou-se irresistível e atraiu atores em todos os cantos. Não se conhece a verdadeira extensão da teia formada nem do numero de vitimas. E é provável que jamais se venha a saber, pois não é do interesse de ninguém. São muitos os culpados ou colaboracionistas que se aproveitaram da possibilidade de ganharem os tubos sem darem satisfação a governos. Os golpistas se aproveitaram de uma área onde o único suposto poder era o livre mercado, a chamada mão invisível de Adam Smith. E deu no que teria dar.

Lembro de meus dias de repórter de Policia e dos otários de então, compradores de “ bilhete premiado” pela metade do premio, achando que tinham feito grande negócio em cima do apressado vendedor. Você sabe do golpe da Nigéria? Grupos organizados que “pescam” otários pela internet com a sugestão de lucros de milhões? E isto ainda hoje em dia?

Pescam, pois o otário acha que enganará os “negrinhos ingênuos da África”? E tal golpe rende muitos milhões de gente que chega a vender o que tem para ir ao encontro da “recompensa” em Abuja donde retornam de mãos vazias e desesperados. A crise atual, você sabe bem, foi precipitada pelo golpe da jogada da valorização da casa própria e virou bolha que tinha de acabar explodindo. Até bolha de sabão tem limites no seu crescimento. Quem cai em golpe de vigarista, “con man” em inglês, tenta, se pode, não confessar, pois seria admitir sido enganado pela própria gula e presunção de onipotência. Entraram nesta as mais veneráveis instituições financeiras que eram e são assessoradas por batalhões de economistas, advogados, ex-ministros. Ganhar dinheiro fácil é difícil de resistir.

O dólar não acabou. Não pode acabar pelo tamanho da questão criada. E está longe de acabar. A divida externa americana é gigantesca e estimulava as economias dos paises exportadores. O americano tem, ou tinha, o vício do consumismo. O dólar virou papel de troca do sistema financeiro internacional. Quais as somas acumuladas na China, Arábia Saudita, Irã, Rússia etc.? E isto sem considerar os valores do subprime, derivativos, e outros? Não se sabe. Como partir para a negociação de novo acordo internacional que você sugere sem imaginar, antes de tudo, como resolver a questão de tal dívida de centenas de bilhões? Os credores aceitariam gigantescas perdas? Repassa-las para serem pagas por seus povos? Não deixa de ser um bom negócio para os Estados Unidos e bancos comprometidos no golpe cometido que vai sendo chamado de nomes inventados por fabuloso marketing?

Aceitará o russo, ou coreano do sul, o chinês ou árabe saudita, um aumento de impostos ou um sistema de restrições ao próprio consumo em favor do consumidor americano? Um novo Bretton Woods seria as nações abrirem mão de sua soberania, um passo para a idéia do governo mundial? A criação de nova moeda internacional de troca? Um padrão único para fixar um valor monetário único abandonado pelos americanos no governo Nixon? Um Banco Central Internacional com autoridade para decidir políticas monetárias adequadas tanto para a Europa para a Bolívia? E fiscais? A transformação da Assembléia Geral da ONU num abrangente Legislativo com os poderes de emitir Leis para o mundo? E um Poder Executivo de abrangência universal? O chamado “Um Mundo Só” numa época em que, paradoxalmente, existem forças pressionando para a desglobalização como notou bem Klauss Schwab, fundador da Conferencia de Davos? Como, Lessa? Globalização política ? O jeito parece ser o de encontrar meios para promover com urgência mais estreita colaboração das lideranças dos paises para se salvar o dólar e sair da crise em cooperação. A alternativa, ao que sinto, pode ser uma recessão mundial que se tornará inevitável pois já se acumulam indícios. Alem disto, o quê?

A ONU já existe há mais de 60 anos e olhe o nosso mundo ...


Enviado e originalmente publicado no 'O MUNDO IG'

http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=375

Nenhum comentário: