Mídia Sem Máscara
| 01 Janeiro 2011
Artigos - Conservadorismo
Ser livre - liberal - era em si uma arte, algo que se aprendia não por natureza ou instinto, mas por refinamento e educação. No centro das Artes Liberais estavam as Humanidades, a educação de como ser um ser humano.
O estado escandaloso da universidade moderna pode ser atribuído a várias deturpações que penetraram fundo nas disciplinas de Humanidades. A universidade já foi o local exato das Humanidades: educação sobre os grandes livros; hoje, é mais provável encontrar lá doutrinação em Multiculturalismo, Estudos da Deficiência, Estudos Gays, Estudos Pós-Coloniais, um monte de categorias de raça, gênero e classe. As Humanidades atualmente parecem estar se desvanecendo em presença e poder na moderna universidade, em grande parte por causa de sua irrelevância solipsística, que previsivelmente aumentou o desinteresse dos alunos por elas.
Embora os críticos do sequestro das Humanidades possam estar inclinados a ver sua nova irrelevância como um motivo para comemorar, ela deveria ser uma profunda fonte de preocupação e o estímulo para esforços renovados em insistir em seu lugar central nas Artes Liberais, corretamente entendidas. Entretanto, para recuperar o lugar de direito das Humanidades, é necessário primeiro diagnosticar as origens de sua decadência. Estas origens precisam ser vistas em um quadro amplo, não começando simplesmente no clima liberacionista dos anos 60, mas tendo um pedigree que remonta a séculos, ao invés de décadas. A crise das Humanidades na verdade começou no início da Idade Moderna, com a idéia de que uma nova ciência era necessária para substituir a "velha ciência" das Artes Liberais, uma nova ciência que não buscasse mais simplesmente entender o mundo e suas criaturas, mas transformá-las. Este impulso deu origem, primeiro, a uma revolução científica na teoria e, por fim, a uma revolução científica, industrial e tecnológica, na prática. E o mais importante: ela viabilizou teorias de racionalização e padronização de método, ao mesmo tempo em que rejeitava as pretensões mais antigas da tradição e da cultura, do culto e do credo, do mito e da ficção. Ela deu origem à prosperidade, oportunidade, abertura, descoberta e tecnologia sem precedentes - contribuindo grandemente para o que Francis Bacon chamou de "o alívio da condição do homem." Mas, ao mesmo tempo, ao suprimir as Humanidades, ela tornou a humanidade cada vez mais sujeita a um tipo de hubris incontrolável. Infelizmente, a ciência moderna aspira a transcender o domínio da natureza rumo ao domínio da natureza humana, a última fronteira para seu domínio. A supressão das Humanidades levou inevitavelmente a um desdém gnóstico pelo humano.
Uma diferente concepção de conhecimento se encontrava anteriormente no coração da educação liberal. Ela era pré-moderna em suas origens, e era principalmente religiosa, cultural; sua autoridade emanando das tradições de fé e práticas culturais que uma geração buscava passar para a próxima. Ela ainda existe em muitos campi como um palimpsesto que um olho atento ainda consegue ler - os prédios góticos; os títulos de "professor," "deão," "reitor"; as becas flutuantes, vestidas uma ou duas vezes por ano em ocasiões cerimoniais - estas e outras presenças e práticas remanescentes são fragmentos de uma tradição mais velha, ainda bem viva na maioria dos campus universitários, mas lembretes, entretanto, do que um dia já foi o espírito animador destas instituições.
Durante séculos, as disciplinas humanísticas estiveram no coração da universidade; embora as ciências fossem parte integral da educação original nas Artes Liberais, estas últimas, sim, eram consideradas a principal via rumo a um entendimento da ordem natural e criada da qual a humanidade era a corôa. Reconhecendo o homem como o objeto mais merecedor de estudo, mas, pela mesma razão, o mais desafiador, esta tradição mais velha procurava adotar uma ética de humildade: buscar entender ao mesmo tempo em que admite a insuficiência da capacidade humana para algum dia entender completamente.
"A ciência mais velha" reconhecia que uma característica única do homem era sua capacidade para a liberdade: não movido pelo simples instinto, o homem era singular entre as criaturas por sua habilidade em escolher, em dirigir e ordenar conscientemente sua vida. Esta liberdade, como entendida pelos antigos e pelas religiões bíblicas, estava sujeita a mal-uso e excesso: algumas das histórias mais velhas de nossa tradição, inclusive a história da queda do Éden, falavam da propensão humana a usar mal a liberdade. Entender a nós mesmos era entender como usar bem nossa liberdade e especialmente como controlar apetites que pareciam insaciáveis. As Artes Liberais reconheciam que a submissão a estes apetites sem limites resultaria na perda de nossa liberdade e refletiriam nossa escravização ao desejo. Elas buscavam encorajar aquela tarefa difícil de negociar o que era permitido e o que era proibido, o que constituía o mais alto e melhor uso de nossa liberdade e quais de nossas ações eram hubrísticas, imorais, erradas. Ser livre - liberal - era em si uma arte, algo que se aprendia não por natureza ou instinto, mas por refinamento e educação. No centro das Artes Liberais estavam as Humanidades, a educação de como ser um ser humano. Cada nova geração era encorajada a consultar as grandes obras de nossa tradição, os vastos poemas épicos, as tragédias e comédias clássicas, as reflexões dos filósofos e teólogos, a Palavra revelada de Deus, os livros incontáveis que buscaram nos ensinar o que era ser um humano - sobretudo, como usar bem nossa liberdade.
A Ascensão da Multiversidade
No século XIX, as instituições americanas de ensino superior começaram a emular as universidades alemãs, dividindo-se em disciplinas especializadas e enfatizando a especialização e a descoberta de novos conhecimentos. As bases religiosas da universidade se dissolveram, a visão abrangente que a religião tinha oferecido não era mais um guia. O que tinha sido o princípio organizador para os esforços da universidade - a tradição da qual a faculdade recebia sua vocação - foi sistematicamente desmontada. Na parte central do século XX, uma ênfase renovada no treino científico e na inovação tecnológica - estimulados por investimentos maciços do governo nas "artes e ciências úteis" - reorientaram ainda mais muitas das prioridades do sistema universitário.
Quando os críticos conservadores de nossas universidades lamentam hoje o declínio da educação liberal, eles deploram sua substituição por uma agenda politizada tendente à esquerda. Mas a verdade mais profunda é que a educação liberal foi mais fundamentalmente substituída por uma educação científica fortalecida pelas demandas da competição global. Embora os conservadores talvez quisessem dividir a culpa com aquelas faculdades cada vez mais irrelevantes cujo pós-modernismo tinha se tornado uma forma de ortodoxia institucional antiquada, a verdade é que a ascensão deste tipo de faculdade foi uma resposta a condições que já estavam tornando a educação liberal irrelevante, um esforço auto-destrutuvo para tornar as Humanidades "atuais." Estes supostos radicais - na maior parte ex-filhos burgueses dos anos 60 - não eram agentes de libertação, mas antes, sintomas do negligenciamento das Artes Liberais no amanhecer de uma nova era de ciência reforçada por competição global.
Declarando a idéia da universidade estar se tornando um arcaísmo, o reitor da Universidade da Califórnia, Clark Kerr, saudou, em suas Palestras de Godkin, de 1963 (mais tarde expandidas e publicadas como o imensamente influente As Utilidades da Universidade), a ascensão de um novo sistema, a Multiversidade, uma entidade "central na industrialização posterior da nação, para aumentos espetaculares na produtividade com a riqueza subsequente, para a extensão substancial da vida humana e para a supremacia militar e científica mundiais." Os incentivos e motivações da faculdade seriam cada vez mais adequados ao novo imperativo científico de criar conhecimento novo: a instrução na faculdade enfatizaria a criação de trabalho original, e a cátedra seria alcançada através da publicação de um corpus de tal trabalho e a aprovação de especialistas avançados da área. Nascia um mercado de contratação e recrutamento universitários.
A Universidade deveria ser reestruturada para incentivar a motivação e o progresso. Os reformadores educacionais seguiram a liderança de John Dewey, ao lutar para substituir a "leitura de livros" com a ação. Entendeu-se que o passado oferecia pouca orientação em um mundo orientado em direção ao progresso futuro. Dewey sustentou que
isto que se ensina [hoje] é considerado essencialmente estático: É ensinado como um produto acabado, com pouca relação seja com os modos como foi construído ou com as mudanças que certamente ocorrerão no futuro. É, em grande medida, o produto cultural de sociedades que supuseram que o futuro seria bastante parecido com o passado, e é usado, entretanto, como alimento educacional em uma sociedade onde a mudança é a regra, não a exceção.
No coração da velha universidade estava a biblioteca, normalmente um belo prédio e quase sempre ocupando um lugar central no campus, a par de seu lugar central na transmissão da cultura e da tradição. Na exposição de Dewey, o lugar de preeminência era, ao invés disto, ocupado pelo laboratório. (Na verdade, John Dewey começou o Colégio Laboratório em Chicago, substituindo um currículo baseado em livros por um "aprendizado experimental".) Cursos centrais - formados originalmente pelo entendimento do que as gerações mais velhas tinham vindo a considerar necessário para a formação de seres humanos completos - foram cada vez mais substituídos ou por "requisitos de distribuição" ou nenhum requisito sequer, na crença de que os jovens alunos seriam livres para estabelecer seu curso de estudos de acordo com suas próprias luzes.
Em resposta a estas mudanças tectônicas, as Humanidades começaram a questionar seu lugar na universidade.
Os que a exerciam ainda estudavam os grandes textos, mas se o exercício permanecia o mesmo, o objetivo era cada vez menos claro. Ainda tinha sentido ensinar aos jovens os desafios instrutivos de como usar bem a liberdade, se cada vez mais o mundo científico parecia tornar aquelas lições desnecessárias? Seria possível uma abordagem baseada na cultura e na tradição continuar relevante em uma época que valoriza, acima de tudo, inovação e progresso? Como as Humanidades poderiam provar seu valor, aos olhos dos administradores e do público mais amplo?
Liberalismo e Libertação
Estas dúvidas dentro das Humanidades tornaram-se um canteiro fértil para tendências auto-destrutivas. Informados por teorias heideggerianas que davam primazia à libertação da vontade, primeiro o pós-estruturalismo, e depois o pós-modernismo criaram raízes. Estas e outras abordagens, embora aparentemente hostis às pretensões racionalistas das ciências, foram encampadas, devido à necessidade de se adaptar às reivindicações acadêmicas sendo feitas pelas ciências naturais, especialmente por conhecimento "progressista."
A faculdade podia demonstrar seu progressismo mostrando como eram retrógrados os textos; elas podiam "criar conhecimento" mostrando sua própria superioridade sobre os autores que estudavam, elas podiam exibir seu anti-tradicionalismo atacando os próprios livros que eram a base de sua disciplina. Filosofias que pregavam a "hermenêutica da desconfiança," que exultavam em expor o modo como os textos foram profundamente informados por preconceitos não igualitários, e que até questionavam a idéia de que os textos continham qualquer "ensinamento" que fosse, ofereceram às Humanidades a possibilidade de provar serem elas mesmas relevantes nos termos estabelecidos pela abordagem científica moderna. Adotando um jargão conhecido apenas por alguns "especialistas", elas podiam emular o sacerdócio científico - traindo a lei original das Humanidades de guiar os alunos através da herança cultural e dos ensinamentos dos livros clássicos. Os professores de Humanidades mostraram seu valor destruindo a coisa que estudavam.
Subjacente a esta auto-imolação estava uma aceitação do entendimento moderno da liberdade. Para as Humanidades, há muito a liberdade tinha sido entendida como uma realização da disciplina severa, uma vitória sobre o apetite e o desejo. Mas no século XX, as Humanidades adotaram o entendimento moderno e científico, que sustenta que a liberdade é constituída pela remoção dos obstáculos, pela superação dos limites, pela transformação do mundo - seja o mundo da natureza ou a natureza da própria humanidade. Assim, a educação passou a ser vista como um processo de libertação do auto-controle. A pós-modernidade procurou expor todas as formas de poder e controle, dando a entender que a condição humana ideal era a da completa liberdade - até a liberdade daquilo que um dia foi considerado humano.
E assim, no esforço de superar seus rivais científicos, as Humanidades se tornaram a mais ubiquamente liberativa das disciplinas, desafiando (embora de forma inepta) até a legitimidade do empreendimento científico. As condições naturais - tais como as inescapavelmente ligadas aos fatos biológicos da sexualidade humana - passaram a ser consideradas como "socialmente construídas," inclusive o "gênero" e a "heteronormatividade." A natureza não é mais um parâmetro em sentido algum, já que a natureza agora é manipulável. Por que aceitar qualquer um dos fatos da biologia, se estes "fatos" podem ser alterados? Se o homem tiver algum tipo de "natureza", então a única característica permanente que parecerá aceitável será a centralidade da vontade - a afirmação crua de poder por sobre quaisquer constrangimentos ou limites que poderiam limitar a ele e às possibilidades sem fim de auto-reprodução daquela.
As circunstâncias atuais apenas aceleraram a morte das Humanidades. Na ausência de defensores vigorosos de sua existência nos campi, hoje em dia, a combinação de exigências de "utilidade" e "relevância", paralelamente à realidade de orçamentos em retração, provavelmente tornarão as Humanidades uma parte ainda menor da universidade. Elas persistirão, de alguma forma, como uma vitrine de butique, um ornamento que indica respeito pela alta erudição, mas a trajetória das Humanidades continua sendo declinante.
Embora poucos professores de Humanidades agora consigam expor razões para protestos, eu prefiro pensar que as Humanidades de antigamente seriam capazes de se sair com uma argumentação poderosa contra esta tendência. O alerta seria muito simples: no fim do caminho da libertação está a escravidão. A libertação de todos os obstáculos é, no fim, ilusória, porque o apetite humano é insaciável e o mundo é limitado. Sem domínio sobre nossos desejos, nós seremos eternamente movidos por eles, nunca satisfeitos com sua posse.
A resposta da liderança de nossa nação e nossas instituições de ensino superior à recente crise econômica não é promissora, a este respeito. Ausente da tentativa de dominar a situação com ferramentas pseudo-científicas - os apelos por regulamentação, por melhor conhecimento técnico dos mercados financeiros - está uma simples porém esquecida verdade moral: Nós não podemos viver além de nossos meios.
Nas faculdades de todo o país, bancas de discussões organizadas por causa da crise econômica têm deplorado coisas como a ausência de supervisão, um regime regulatório leniente, a incompetência das entidades públicas e privadas em distribuir crédito ou desenvolver produtos financeiros complexos. Mas qual reitor ou líder de universidade admitiu que havia alguma culpabilidade da parte de sua própria instituição por falhar em educar bem seus alunos? Afinal de contas, foram os melhores universitários das instituições de elite da nação que ocupavam as posições de prestígio nas instituições financeiras e políticas de todo o país e que ajudaram a precipitar esta crise. Nossas universidades tomam crédito prontamente por seus estudiosos de Rhodes e vencedores do prêmio Fulbright. E aqueles universitários que ajudaram a cultivar um ambiente de ganância e golpes para enriquecimento rápido? Será que temos tanta certeza assim de que eles não aprenderam perfeitamente bem as lições que receberam na faculdade?
Para Recuperar a Educação Liberal
Se quisermos evitar os excessos da modernidade - o achatamento do espírito, uma ética do consumo, a dilapidação dos recursos do mundo - nós devemos tentar restaurar as Artes Liberais. Embora tenha restado uma grande miscelânea de Faculdades de Artes Liberais, a maioria das instituições de Artes Liberais se baseou profundamente nos pressupostos da perspectiva científica. A contratação e a promoção são feitas cada vez mais de acordo com as exigências da produtividade de pesquisa. Os departamentos e as faculdades de Artes Liberais operam à sombra das principais instituições de pesquisa, nas quais as prioridades aparentemente científicas dominam - e então elas internalizaram estas prioridades, mesmo que não se adequem bem ao cenário das Artes Liberais. O resultado é que muitas destas instituições aspiram incoerentemente ao status de elite macaqueando as universidades de pesquisa.
Entretanto, seu reestabelecimeno não está totalmente fora do alcance. Quando consideramos a história das Artes Liberais, reconhecemos corretamente uma variedade de instituições diferentes, a maioria com filiação religiosa (ao menos passada). A maioria foi formada tendo alguma relação com as comunidades nas quais foram construídas - fosse por suas tradições religiosas, pela a atenção dada aos tipos de perspectivas profissionais que a economia local permitiria, por uma íntima associação com os "anciãos" da localidade, por uma forte identificação com o lugar ou por um possível corpo estudantil atraído da vizinhança. A maioria procurava uma educação liberal não para libertar seus alunos do local e do "ancestral," mas para imergi-los nas tradições de que eles vieram, aprofundando seu conhecimento das fontes de suas crenças, buscando devolvê-los a suas comunidades, onde se esperará deles que contribuam para o bem-estar cívico e a continuidade.
Até o século XX, a maior parte das instituições de Artes Liberais clássicas fundadas dentro de uma tradição religiosa exigiam não só conhecimento dos grandes textos da tradição - incluindo (e especialmente) a Bíblia - mas um comportamento correspondente que constituía um tipo de "habituação" às virtudes aprendidas em sala de aula. A frequência compulsória na capela ou na missa, regras para a interação entre alunos e alunas, atividades extra-curriculares supervisionadas por adultos e os cursos obrigatórios de filosofia moral (muitas vezes ministrados pelo diretor da respectiva faculdade) buscavam integrar as Humanidades e os estudos religiosos da sala de aula com a vida diária dos alunos.
Baseada em um entendimento clássico ou cristão da liberdade, esta forma de educação foi empreendida com vistas a enfocar nossa dependência - não nossa autonomia - e nossa necessidade de auto-controle. Como o ensaísta e agricultor Wendell Berry escreveu, os limites
não são a condenação que podem parecer. Pelo contrário, eles nos devolvem a nossa real condição e nossa herança humana, da qual nossa auto-definição como animais ilimitados há muito nos amputou. Toda tradição religiosa de que tenho conhecimento, mesmo reconhecendo nossa natureza animal, nos define especificamente como humanos - ou seja, como animais (se esta palavra ainda se aplicar) capazes de viver não só dentro de limites naturais, mas também dentro de limites culturais auto-impostos. Como criaturas terrenas, nós vivemos, por necessidade, dentro de limites naturais, que podemos descrever por nomes tais como "Terra", "ecossistema". "bacia hidrográfica" ou "lugar." Mas como humanos, nós podemos escolher responder a esta localização necessária por meio dos auto-limites aos quais a sociabilidade, o bom governo, a parcimônia, a temperança, o zelo, a gentileza, a amizade, a generosidade e o amor obrigam.
Uma educação baseada em um conjunto de condições culturais partiria da natureza e operaria em concordância com ela, por meio de atividades como a agricultura, o profissionalismo, o serviço religioso, a ficção, a memória e a tradição; ela não buscaria a rendição da natureza. Ela adotaria como responsabilidade fundamental a transmissão da cultura - não sua rejeição ou transcendência. Evitaria o tipo de filosofia desenraizada recomendada por uma educação baseada num mero "pensamento crítico" e não se curvaria à trajetória intelectual exigida por nosso sistema econômico global.
Por fim, uma educação liberal restaurada não seria uma libertação do "ancestral" ou da natureza, mas uma educação sobre os limites que a cultura e a natureza nos impõe - uma educação sobre como viver de um modo que não nos tente rumo a formas prometéicas de auto-engrandecimento individual e generacional. E particularmente numa era em que nos familiarizamos cada vez mais com as consequências de viver somente no e para o presente, quando muitos de nós não conseguimos viver dentro de nossos meios -seja financeira ou ambientalmente - , nós nos beneficiaríamos com uma restauração do entendimento correto da liberdade: não como uma libertação dos limites, mas antes como uma capacidade de nos controlarmos. Este auto-controle, igualmente recomendado por tradições antigas e religiosas, torna possível uma forma de liberdade mais verdadeira - liberdade da escravidão em relação a nossos apetites e à força destruidora deles.
Patrick J. Deneen é professor adjunto de Ciências Políticas na Universidade de Georgetown, onde ocupa a Cadeira de Estudos Helenisticos Markos e Eleni Tsakopoulos-Kounalakis e é diretor-fundador do Fórum Tocqueville sobre as Raízes da Democracia Americana.
Tradução e links do blog DEXTRA.
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