Mídia Sem Máscara
Nivaldo Cordeiro | 16 Janeiro 2011
Artigos - Cultura
Todos sabemos que os ineptos governantes tiveram todo tempo para agir e nada fizeram de forma preventiva. São homicidas. Mais que homicidas, ceifadores do futuro dos sobreviventes.
"Ô, Zeca, tu tá morando ond'é, Zeca?...
Olha rapaz, eu tô morando na sola do pé..."
Zeca Pagodinho
Escrevo porque vi agora uma foto de capa da Folha de São Paulo de hoje. A senhora Monica Cardoso, num flagrante pungente, chora de forma dolorida e desesperançada e no seu chorar expressa a dor de todas as perdas e o desamparo dos desvalidos que, como ela, perderam tudo. Teve que sair de sua casa para sobreviver. A sua dor foi o preço que pagou para sobrevivência. Centenas de outras pessoas não tiveram a escolha e pereceram.
Sei muito bem da dor da perda da casa de Monica Cardoso. Quando menino nossa casa sofreu um desastre - uma viga do quarto do meu pai rompeu-se e por muito pouco não nos matou a todos, meu pai, minha mãe, meus três irmãos e eu. Ali eu descobri, menino de tudo ainda, o sentido da casa - do lar - na existência das pessoas. Levamos meses para recuperar o que perdemos, na verdade anos, ajudados por parentes dadivosos e por amigos. No dia do evento eu soube o que é o desamparo supremo: o mesmo que vi no rosto de Monica Cardoso vi no rosto sofrido da minha mãe. A casa era tudo que tínhamos e nela estava tudo que tínhamos. Ao menos me consola o fato de que nosso infortúnio não tinha como ser evitado. Mas Monica Cardoso, não: todos sabemos que os ineptos governantes tiveram todo tempo para agir e nada fizeram de forma preventiva. São homicidas. Mais que homicidas, ceifadores do futuro dos sobreviventes. Uma dor como essa é irreparável e ficará marcada de forma indelével, para sempre, no coração dos que a sofreram.
Minha tarefa é dizer isso, que sua dor, Monica Cardoso, era evitável. Que esses criminosos que nos governam nada fizeram para prevenir o desastre. Que eles são culpados, mesmo que a Justiça sequer venha a se pronunciar. São culpados diante do tribunal de nossas consciências e culpados diante de Deus e sua culpa é imperdoável e imprescritível. Se eu pudesse eu gostaria de ajudá-la, mas nem a conheço. Gostaria de ajudá-la como ajudaram a mim e a minha família em nosso infortúnio. Mas nem sei onde você fica e onde vai morar. Então lhe dedico a minha oração. Acredite, não é pouco nesses tempos sombrios de ateísmo. E lhe dedico este artigo, o meu desabafo acusador, de dedo em riste, diante dos grandes criminosos que são os nossos governantes.
Que Deus a proteja e guarde!
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