segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Daqui a oito anos

por Percival Puggina em 08 de setembro de 2008

Resumo: Quando o Brasil tem um problema, nossos presidentes criam um ministério para resolver. Não resolve, mas arruma vários empregos e escancara sorrisos na tal "base de apoio".

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Noticiário nacional, em algum dia do mês de setembro de 2016: "Câmara dos Deputados arquiva CPI dos Jogos Olímpicos". Alguém duvida de que, na hipótese de o Brasil sediar os Jogos daquele ano, como pretende o presidente Lula, o evento acabe em escândalo? Vai ter de tudo. Piscina olímpica com 49 metros, invasão da Vila pelos sem-teto, venda clandestina de ingressos e de medalhas nos camelódromos e arrastão na arquibancada. A menos, é claro, que entreguem a realização para os barões do tráfico, como acontece com o carnaval do Rio.

Mesmo sabendo que a China gastou algo como 40 bilhões de dólares para sediar os jogos de 2008, nosso presidente deu a volta ao mundo, vestiu a camiseta promocional, estufou o peito, contou as verdinhas no estoque do BC, e entrou na campanha para recepcionar no Rio de Janeiro o evento de 2016. Complicado. Lula se dispõe a gastar uma grana com a qual poderíamos, entre outras coisas, construir a bagatela de 6 milhões de casas populares ou resolver todos os gargalos da infra-estrutura nacional, apenas para albergar os jogos de 2016.

Quando o Rio de Janeiro se ofereceu para sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007, foi divulgado para aquele evento um orçamento geral da ordem de US$ 200 milhões, que seriam cobertos com importante participação da iniciativa privada. Na prática, ou seja, na hora do "paga pra fazer", os apoiadores particulares sumiram e se estima que os gastos públicos tenham multiplicado por dez a expectativa inicial. Essa avaliação é, de fato, meramente estimativa porque os números nunca foram convenientemente abertos ao conhecimento público. Só o estádio João Havelange custou o que estava previsto para todo o evento. E a CPI solicitada pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro acabou sendo esvaziada por absoluto desinteresse da base do governo local.

Quando o Brasil tem um problema, nossos presidentes criam um ministério para resolver. Não resolve, mas arruma vários empregos e escancara sorrisos na tal "base de apoio". Foi assim, mediante esse método absolutamente científico, classificando para estudar melhor, que nós chegamos a 37 ministérios, somados os de direito, os de fato e os de status. Os Estados Unidos organizam seu governo – o executive branch – em apenas 16 departamentos. Coisa de país pequeno e fácil de levar. Um dos tantos ministérios que nós temos e eles não têm é, precisamente, o do Esporte. E deve ser por isso que, em competições internacionais, nós vamos tão bem e eles tão mal.

Você provavelmente não sabe, mas é oficial e está no site do ministério do Esporte: o Brasil, preparando-se para a Copa de Futebol de 2014, vai investir R$ 38,5 bilhões em mobilidade urbana. O programa, anunciado em maio por Marta Suplicy (ela não é candidata à prefeitura de São Paulo?) reserva R$ 30 bilhões para São Paulo (linhas de metrô, ônibus e trem-bala para o Rio de Janeiro). A migalha restante será repartida entre uma dezena de cidades que se habilitam a sediar os jogos.

Como se vê, para quem gosta de perder tempo e dinheiro, essa agenda esportiva é um prato cheio.

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