A HORA DA ONÇA BEBER ÁGUA
Carlos Reis
É hora de novo da onça beber água. Lula disse isso mais de uma vez nas muitas eleições da qual participou como cabo eleitoral do PT. E ele está coberto de razão. A onça totalitária brasileira está bebendo água como nunca. Para citar o próprio presidente, nunca se bebeu tanta água de onça neste país! Que o diga o próprio ministro-presidente do STF, arranhado por uma unha da onça do Planalto.
Este último episódio dignificante da democracia consolidada (expressão tucano-petista) acontece neste momento de onça. E nunca ela teve tanta sede, e nunca ela teve de esperar tão pouco, e nunca para ela foi tão fácil espionar, corromper, se associar ao narcotráfico, proteger lideres guerrilheiros que mantêm campos de concentração na selva. A vida na selva socialista nunca foi tão fácil para a onça do Planalto. Nem um único tiro disparado contra a sua grei (exceto os descuidos familiares do Celso Daniel e do Toninho do PT) ninguém preso em 7 anos de corrupção somente 55 mil mortos por ano, e nenhum do grupo da onça. E para a lenda da democracia consolidada, algumas jaguatiricas presas e desmoralizadas.
Nunca foi tão fácil vacinar 70 milhões de pessoas sem qualquer pergunta embaraçosa, fato que considero a maior vitória democrática de todos os tempos do PT. Nunca foi tão fácil beber água a qualquer hora do dia e sem olhar para os lados. O próprio Gramsci não previu isso. Seus escritos tinham a marca do cuidado do revolucionário que teme a luta de vida ou morte. Eles tinham a marca da certeza, mas nunca o acento do total desrespeito ao inimigo burguês. Mas a onça brasileira foi fundo a caça burguesa desapareceu por completo e a predação já é canibalesca. Até Arthur Virgílio, Gilberto Carvalho, Greenhalgh foram espionados! A onça não está nem aí faz de qualquer incompetente um vitorioso eleitoral – ressuscita cadáveres políticos por onde passa, e devora puxa-sacos sem a menor cerimônia. E o povo convidado para assistir a onça bebendo água, aplaude emocionado já não a segue, marcha encantado para as urnas da democracia consolidada.
Mas se a onça lulista tem algum pecado este é justamente o da hybris, da arrogância. Sabemos que ela tem que ser monitorada de fora para não se perder, e ela sabe disso também. O episódio do loteamento de parte do território nacional em Roraima aponta para isso. A onça tem que se comportar e fazer tudo direitinho. Como um bom felino professor de seus filhotes, a onça lulista conhece a validade do conhecimento e da certificação, por isso deixa para os mais sábios a decisão de obedecer aos mandamentos internacionais, quanto ao que fazer do território que ela já doou aos grupos estrangeiros. A ideologia pintada ainda precisa de juízes para a sua coreografia democrática sair perfeita. Só por isso os magistrados deveriam considerar aqueles grampos apenas como pequenos arranhões de unhas que os trazem de volta à razão revolucionária. Eleições, exigências de direitos humanos, pregação religiosa contra a tortura, grandes embates jurídicos no STF, tudo isso faz parte do repertório da ideologia pintada. Em suma, a onça não está sozinha. O que seria dela sem os tucanos e as instituições da democracia consolidada?
Não será, portanto, o tímido protesto do ministro-presidente contra o atentado moral à sua pessoa e ao poder que preside, que fará a onça hesitar e recuar. Ele já disse, livre do impeachment e obediente, que a onça não seria capaz de fazer o que fez. Se houver algum recuo noticiado pela Jungle News, este será apenas estratégico, no que ela é mestre. Não faltarão tarsos genros e jobins e marcios para ajudar a desconversar, distrair, divertir. Já fizeram isso tantas vezes, com a ajuda de tanta gente...
Mas há um problema: o da proliferação das onças, ocasionado pela comida farta e superpovoamento de veados. A luta armada entre elas é questão de tempo no Brasil. Haverá luta pelo botim e pelas carcaças do Brasil honesto, cristão, digno. E será provavelmente uma luta interna, de felinos amazônicos. Já a tivemos antes. Hoje assistimos no Rio de Janeiro uma guerra que tem a característica típica da divisão da caça, de partilha do botim. Outros redutos ou enclaves menores estão por toda a parte. A criação de focos de disputa caracteriza bem o viver da selva ideológica em que se transformou o Brasil. O que são as aldeolas de Roraima, as quilombolas, os boiolas, os direitos humanos para bandidos e o desarmamento dos honestos, se não uma tentativa de potencializar o conflito social e banalizar a luta armada para a hora da onça beber água? Pois chegou a hora da onça beber água.
Carlos Alberto Reis Lima é médico e escritor.
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