por Carlos I.S. Azambuja em 02 de setembro de 2008
Resumo: Mais um exemplo de organização que congrega a militância de extrema esquerda latino-americana.
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Populares Autônomas) se definiu como “organizações sociais orientadas pela luta de classes e identidade como povos originais deste continente, com princípios de democracia de base, solidariedade entre os de baixo, luta popular e autonomia dos oprimidos e dos povos originais”.
A ELAOPA manterá a autonomia frente a partidos políticos, Estado e seus governos, ONGs, empresas, e de todos aqueles que, com estruturas autoritárias e distantes de nossa realidade venham dizer o que fazer.
Fazer ações políticas a partir de organizações sociais com a participação de todas e todos para criar um Poder Popular, é o desafio da ELAOPA.
Mudar a realidade de desemprego, fome, doenças e um sem-fim de carências, é a forma com que podemos vencer a globalização feita pelos ricos, criando resistência, através dos valores de nossos povos e tradições culturais.
Conjuntura Latino-Americana
Prossegue o documento da ELAOPA definindo a conjuntura latino-americana de 2003: “Os de cima que hoje se chamam neoliberais causaram e causam as privatizações, a dívida externa, as más condições de trabalho, violência e destruição de valores, costumes, tradições e riquezas naturais: água, florestas, terra, ervas medicinais, animais, sol, ar, etc. Tudo isto já acontece e ficará ainda pior com o Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA). A ALCA destrói a autonomia dos países, cria um espaço territorial dos ricos do mundo, que fazem da dominação uma lei que não respeita as fronteiras. Os governos que estão negociando a ALCA estão negociando na verdade a vida de nossa gente e querem nos convencer que a ALCA é algo que virá para o nosso bem. O Mercado Comum do Sul, o MERCOSUL, por seu turno, representa o fim das fronteiras somente para as empresas e governos, não representa uma união dos povos. As empresas e o governo do Brasil se impõem sobre os demais povos (Argentina, Paraguai, Uruguai), causando ainda mais miséria.
Os Estados Unidos, com a cumplicidade dos governos de nossos países, está minando de militares os nossos povos, desde o México até a terra do fogo, para impor pela força a sua maneira de viver e nos fazer ficar dependentes deles para tudo. Isto não é passado, é algo que está acontecendo agora com o Plano Puebla Panamá, Plano Colômbia, a base de Alcântara no Brasil, a tríplice fronteira Argentina-Brasil-Paraguai, o plano “Dignidade” da Bolívia, entre outros exemplos.As conseqüências da dívida externa em nossos países fazem mais dura a vida da maioria da população, enquanto seguem se beneficiando os de sempre. Não pagar a dívida externa é uma condição para que os povos da América Latina avancem em suas conquistas. Não podemos pagar com nossa miséria por uma dívida que não fomos nós que geramos.(...). Como povos e organizações em luta, cremos ser possível a coordenação e articulação política, técnica, de capacitação, econômica, etc., para enfrentar o perigoso inimigo que é a globalização capitalista e sua expressão na América, a ALCA. Porém, devemos combater esse inimigo construindo alternativas práticas e concretas, e não apenas rechaçando-o. Vamos desenvolver a solidariedade entre nós como eixo central neste início, fazendo desde ações em comum simultâneas até ações de apoio às organizações irmãs”.
Assinaram a declaração acima organizações sociais do Brasil, Bolívia, Uruguai, Argentina, México, Chile, Colômbia e África do Sul.
O II Encontro foi realizado na Bolívia em 2004, de 06 a 08 de fevereiro, em Cochabamba, com a participação de aproximadamente 100 integrantes de cerca de 35 organizações e independentes.
Mais de 400 pessoas de 59 organizações da Argentina, Uruguai, Chile, Brasil, Bolívia, etc., levaram adiante entre os dias 11, 12 e 13 de fevereiro de 2005, em La Plata, Argentina, o IIIº Encontro Latino-Americano de Organizações Populares Autônomas. Nesse Encontro foi constatado que a situação dos países latino-americanos é similar, e que os avanços do imperialismo vêm gerando a violação dos direitos mais básicos, como a alimentação, saúde, moradia, educação e trabalho.
A ELAOPA deve organizar os desorganizados: para enfrentar a desorganização que existe na classe, criando âmbitos de participação com independência política e autonomia orgânica. Autonomia que se deve entender de forma integrada a um projeto unitário. Unir o disperso: para reverter a dispersão e a fragmentação de nosso povo e unificar as lutas.
Manter a autonomia das organizações e movimentos sociais em relação aos partidos políticos, a igreja e a o Estado.
Reconstruir os laços sociais e valores de solidariedade para romper com o individualismo e a decomposição social.
No Uruguai, em 2006, no IV Encontro, foi constatado que a estratégia do império mudou em torno da ALCA, já não a apresenta como projeto global, senão que agora a impulsiona através dos tratados bilaterais de livre comércio, como forma de ir tecendo e implementando dito projeto. Os governos “progressistas” da região não só continuaram o modelo neoliberal, senão que o aprofundaram. Verifica-se com clareza os diferentes níveis de desenvolvimento do neoliberalismo em cada país e como isso condiciona o trabalho militante. Por outra parte, os governos da região têm maior margem política para aprofundar o modelo, já que muitos ex-militantes da esquerda estão no governo, assumiram prometendo mudanças que não estão dispostos a realizar e contam com o respaldo popular. Isso desarma a classe na hora de enfrentar o avanço do modelo. A construção do poder popular parte da necessidade de procurar articulações complexas nos diferentes setores que se expressa a luta de classes na América Latina, entre outros problemas os das mulheres, indígenas, bairros marginalizados, desocupados, jovens, adolescentes, os sem teto, mineiros, cocaleiros, trabalhadores, etc., e é a partir das necessidades e ações destes que se vai construindo o poder popular. Entre eles se dá uma influência recíproca, onde os desenvolvimentos desiguais e formas diversas de resolver os conflitos interagem mutuamente. A questão está em como construir uma perspectiva política estratégica sem a qual nem a fome, nem a pobreza, nem a desocupação são em si condições suficientes para propiciar a mudança ou a transformação social. Para que estas condições construam a vontade de poder no povo, que este comece a discutir então o como exercer o poder junto à gente para construir essa perspectiva estratégica. Por último, o IV ELAOPA reafirmou que a acumulação estratégica de forças para construir o poder popular deve entender-se no marco de fortalecer o campo popular, já que em definitivo é o povo quem deverá levar as mudanças e transformações adiante, e a este não há partido nem organização política que o substitua. Valorações finais: Frente ao avanço do imperialismo e do capitalismo em curso se faz hoje mais necessário que nunca o apontar a avançar na unidade regional das organizações e movimentos sociais como norte político, apontando como objetivo estabelecer um trabalho permanente para a construção de um corpo político claro e consistente.
Estiveram presentes organizações do Uruguai, Bolívia, Chile, Brasil, Argentina.
No Chile, em 2007, foi realizado o V Encontro, sendo deliberado que, com algumas exceções, os governos “progressistas” da região não só têm continuado o modelo neoliberal sem que encontrem a resistência do campo popular, senão que o tem aprofundado. Os participantes encararam com clareza os diferentes níveis de desenvolvimento do neoliberalismo em cada país e como isso condiciona o trabalho militante. Isto condicionado além da ambivalência que se instala com a perda de um inimigo claro e com a mimetização por parte de alguns setores, a cooptação dos organismos sociais, a institucionalização dos movimentos, a burocratização no meio sindical, etc., contribuem para a fragmentação do movimento popular.
“Não obstante, vemos no surgimento de novos movimentos sociais sintomas de rearticulação de nossa classe, somos conscientes da necessidade de construir um poder popular real para fazer frente ao imperialismo, o capitalismo e as classes dominantes de cada país”. O Estado se desvincula de sua direta responsabilidade em áreas como a saúde, educação, entre outras, e é nestas instâncias onde existe uma brecha para construir resistência desde a sobrevivência. Nestes espaços em que se dá a construção é imprescindível uma permanente revisão desde os pensamentos e prática “para que nossa intencionalidade libertadora não se transforme em funcional ao sistema”. Junto com isto, o manejo midiático dos meios de comunicação, o que tem levado a um aprofundamento do modelo que se tem coberto de uma “maquiagem” de humanidade social.
No Brasil, em 2008, está prevista a realização do VI Encontro, no momento em que os movimentos populares do Continente estão, em geral, em uma posição mais ofensiva do que há cinco anos. Na aparência, a América Latina está mais à esquerda, embora com governos que se dizem de esquerda e governam pela direita, governos nacionalistas e outros de meio termo. Afirmando a opção bolivariana, com distintos matizes, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador e Hugo Chávez na Venezuela acumulam décadas de ódio de classe e organização popular. A encruzilhada para estes povos está em saber se esta adesão crítica a um governo inspirado em Simón Bolívar vai atingir a marca de auto-organização e poder popular. No Brasil, Chile e Uruguai a situação é ao inverso. Governos ditos de esquerda mas orientados para a subordinação neoliberal destes países. O uruguaio Tabaré Vázquez e a Frente Ampla flertam abertamente com George Bush, servindo como uma cabeça de ponte para a aliança Lula-Bush em troca de esmolas. No Chile, Michelle Bachelet se esquece da condição de ex-torturada e presa política, afiando as garras da “Concertación” e aumentando a repressão de rua. Nunca é demais lembrar que foi na ditadura de Pinochet que o neoliberalismo iniciou sua experiência macabra em nossos pagos. Com uma planilha de custos em uma mão e a baioneta na outra, milicos e economistas viraram o mundo de cabeça para baixo pendurando opositores em paus de arara e privatizações. Falando em ex, Lula supera o recorde sendo ex-tudo. Ex-sindicalista, ex-metalúrgico, ex-militante, ex-trabalhador. Assim, afirma em alto e bom som que nunca foi de esquerda nem socialista. Não precisava lembrar, basta observar seu governo de direita para notar. O problema não está em baixar o pau nessa laia de corruptos e mensaleiros. Difícil é desassociar as esperanças e expectativas de milhões de bons militantes de base, lutadores sociais sem medo de tomarem as ruas, mas ainda afiançados em vagas promessas e possibilidades em governos de turno. Em menor grau, isto ocorre também na Argentina.
Para quem vê a sociedade de baixo para cima, tendo como o norte o sul do mundo, nossos desafios são ainda maiores hoje do que na década passada. Esta democracia de fachada a cada dia que passa cai mais em descrédito. Aumentar a participação nas tomadas de decisões centrais, convocando as forças vivas das classes oprimidas para as lutas diretas, apontar no longo prazo um horizonte que não passe pela intermediação de políticos profissionais é apenas alguns de nossos desafios. Se a luta é difícil, bons exemplos não faltam. Que a “Otra Campaña Zapatista” e o “Levante da APPO” em Oaxaca, ambos no México, inspirem esse próximo ELAOPA.
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