por Percival Puggina em 01 de setembro de 2008
Resumo: Criar uma empresa para "reparações históricas" ou gerar "recursos à Educação" é uma patologia ideológica que não distingue os fins da economia dos fins da política.
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O presidente Lula, falando em Marabá, no último dia 14, teceu considerações sobre os achados de petróleo no pré-sal e observou que "Deus não nos deu isso para a gente continuar fazendo burrice". Alegrou-me o início do discurso. Fracassariam, enfim, as previsões de Roberto Campos sobre o futuro promissor da burrice? "É preciso que a gente aproveite este momento e tente discutir como vamos utilizar esse petróleo, quem vai explorar esse petróleo, se o lucro vai ficar apenas para uma empresa, ou se parte desse lucro vai para fazer as reparações históricas", prosseguiu o presidente, mencionando, em seguida, que o país "tem uma dívida com a educação do seu povo, com os pobres, que não são poucos". Uma semana mais tarde, Lula fincou pé na idéia de criar uma estatal para explorar o petróleo do pré-sal e promover "reparações históricas" com o lucro dessa organização.
O presidente tem, desde já, minha autorização para destinar à Educação a parte que me corresponde no petróleo do pré-sal. Mas ele terá outros problemas pela frente antes de o meu dinheiro entrar na conta dele. Por exemplo: onde e em que bases obter os imensos recursos necessários à exploração? Note-se que estamos falando de algo como US$ 600 bilhões. E aí, presidente, lamento informar que não estou em condições de entrar com coisa alguma no negócio.
Tem mais. Ainda que tudo dê muito certo, que o dinheiro venha barato e que o petróleo seja vendido caro, pergunto: como equilibrar o preço do dólar no mercado interno diante da enxurrada de verdinhas que vai entulhar a toca do Leão? O exemplo de outros grandes exportadores de petróleo é preocupante: moeda local altamente apreciada, dólar desvalorizado, atividade econômica interna inviabilizada, tombo nas outras exportações, disparada das importações e desemprego. Não é uma equação fácil de fechar.
Entenda-me bem, leitor. Não estou dizendo que é ruim ter petróleo. O que estou afirmando é que esse "sinal" que "Deus nos deu" exige, de fato, a urgente demissão da burrice. O mapa geopolítico mundial mostra uma quase incompatibilidade entre democracia e muito petróleo, bem como entre muito petróleo e expansão do emprego industrial. O exemplo venezuelano é apenas o mais recente dentre muitos: quando Chávez assumiu o poder, em 1998, o petróleo estava cotado em US$ 9,00 o barril. Hoje a Venezuela flutua sobre dólares e a coisa está para lá de complicada nos planos político, econômico e social.
Uma empresa tem que cumprir suas obrigações e gerar lucros que permitam novos investimentos e um ciclo de crescimento tão longo quanto possível. Assim também as riquezas: para serem convertidas em resultados exigem a ação humana competente, orientada aos fins produtivos.
Criar uma empresa para "reparações históricas" ou gerar "recursos à Educação" não é sinal de muito juízo. Corresponde a uma patologia ideológica que não distingue os fins da economia dos fins da política. Uma empresa não gera lucros para fazer justiça. Quem tem que fazer isso é a política, através dos impostos que o governo arrecada das atividades econômicas. Essas mesmas visões, negativas do passado e ideológicas do presente, que fundamentam a proposta presidencial, fazem com que Bolívia e Paraguai nos apontem como os algozes de seus destinos. E nosso presidente concorda.
Publicado pelo Zero Hora em 31/08/2008
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