domingo, 26 de julho de 2009

As eleições no Irã e Israel

Mídia Sem Máscara

Um Iraque independente, de maioria xi'ita, representa um grande perigo para a Arábia Saudita e para os Emirados Árabes pela possibilidade de união com os xi'itas do Irã e a formação de uma superpotência regional que desafiaria a capacidade bélica dos Sauditas, até agora a maior da região. Já se fala em contatos velados de Israel com esses reinos o que poderia levar até a uma permissão secreta de sobrevôo de seus territórios para a Força Aérea israelense atacar as instalações nucleares do Irã.

Como demonstrei recentemente o resultado das eleições no Irã são pouco relevantes para Israel e não deverá influir na sua política estratégica em relação à ameaça iraniana. Se tanto, Ahmadinejad é conhecido, falastrão e mais confiável. Eleito Mousavi, poder-se-ia prever um política mais dissimulada que levaria a um reforço da idéia de que o Irã não é tão ameaçador como parece. Mas a ameaça continuaria a mesma. Deixei implícito que mais importante era o não dito do que o dito. Verifiquei posteriormente que o ex Ministro do Exterior da Índia, ex Secretário Geral do Movimento dos Não-Alinhados em 1983 e expert em Irã, K. Natwar Singh, afirmava com mais ênfase ainda o que eu dissera. Singh foi o primeiro Ministro estrangeiro a conversar com Ahmadinejad recém eleito em 2005. Usando um ditado iraniano - a palavra não falada é sua escrava, a falada é sua feitora - ele também concorda que dificilmente houve fraude, pois não acredita em 11 milhões de votos fraudados e que a contestação foi realmente por razões sigilosas. E estas são oriundas das mais profundas raízes da revolução iraniana. E é nelas e no pensamento de Khomeini que devemos buscar as respostas.

A revolução iraniana foi uma revolta contra o projeto de modernização da Dinastia Pahlavi. Desde as primeiras medidas modernizadoras tomas por Reza Xá Pahlavi (1925) o clero se opôs, pois o desenvolvimento industrial, os projetos de infra estrutura, a rápida construção de ferrovias, a reforma do judiciário criando uma justiça laica e a melhoria da saúde da população levou à urbanização, ao surgimento de uma classe média profissional e de trabalhadores qualificados, com o conseqüente afastamento da rigidez religiosa. A resposta há muito esperada pelos elementos mais reacionários do clero, foi avassaladora: em pouco tempo o Irã regrediu à Idade Média.

Muitos manifestantes pró-Mousavi podem ter acalentado sinceramente a idéia de um afrouxamento dos controles dos Aiatolás e um retorno a algum grau de modernização. Nada mais enganoso: o grupo de Mousavi, títere de Rafsanjani, representaria uma maior participação do clero na governança do país. Para Israel e o Ocidente nada mudou e nada mudaria.

Os dados novos com o quais Israel deve contar são ligados diretamente com a Casa Branca e o Departamento de Estado nas mãos de dois inimigos dissimulados, o pior tipo de inimigo que existe. As últimas juras de amor a Israel do Vice, Joe Biden, a meu ver nada mais representam do que a estratégia da tesoura, para iludir que há amigos por lá. Mas a política de defesa de Obama também trouxe indiretamente alguns benefícios, como a retirada das tropas do Iraque. Um Iraque independente, de maioria xi'ita, representa um grande perigo para a Arábia Saudita e para os Emirados Árabes pela possibilidade de união com os xi'itas do Irã e a formação de uma superpotência regional que desafiaria a capacidade bélica dos Sauditas, até agora a maior da região. Já se fala em contatos velados de Israel com esses reinos o que poderia levar até a uma permissão secreta de sobrevôo de seus territórios para a Força Aérea israelense atacar as instalações nucleares do Irã.

Em discurso sobre os desafios militares no Oriente Médio, patrocinado pelos Emirados Árabes Unidos no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, o chefe da Junta de Comandantes do Exército americano, Mike Mullen, afirmou que os esforços do Irã para adquirir uma arma nuclear e, mais tarde um míssil de grande raio de ação, "podem ter êxito em breve". Em linguagem diplomática - não falada - isto quer dizer que ele sabe que já está perto de ser conseguida ou até mesmo pronta a arma.

Um ataque israelense preventivo não pode ser desconsiderado, pois certamente Israel será o primeiro alvo. É tranqüilizador saber que Israel se encontra bem preparado para obter informações e até agir por meios cibernéticos contra o Irã, segundo nos informou hoje Nahum Sirotsky.


Publicado no Jornal Visão Judaica, Curitiba, PR

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