Segunda-feira, 27 de julho de 2009 | 6:13
Reinaldo Azevedo
Torço para que todos os leitores brasileiros tenham acesso à informação que segue, mas não estou muito certo disso. Afinal, as editorias de “Internacional” dos jornais andam muito ocupadas defendendo o grande democrata, estadista e paladino da liberdade Manuel Zelaya, o hondurenho que tentou dar um golpe na Constituição democrática do país e, por isso, foi deposto, segundo a… Constituição! Falo disso em outro post. Adiante.
A mais recente edição da respeitada revista SEMANA, da Colômbia, que chegou aos leitores neste sábado, informa que, em duas incursões do Exército em um acampamento dos narcoterroristas das Farc, foram encontrados lança-foguetes de fabricação sueca QUE TINHAM SIDO VENDIDOS AO EXÉRCITO VENEZUELANO. Sim, vocês entenderam direito. Hugo Chávez, aquele que, segundo Lula, garante “democracia até demais na Venezuela”, comprou foguetes dos suecos e os repassou para a narcoguerrilha colombiana. Dois generais que fazem parte do círculo mais estreito de relações do tiranete estão diretamente envolvidos na operação. Um deles integra uma lista de narcotraficantes elaborada pelo governo americano. Traduzo grande parte da reportagem da SEMANA. Comento no post seguinte.
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Os foguetes venezuelanos
No dia 2 de junho, durante a reunião da OEA
Tratava-se, nada mais, nada menos, de um informe dando conta de que a Colômbia havia encontrado num acampamento das Farc vários lança-foguetes de propriedade do Exército venezuelano. A preocupação não era para menos. Ainda que, no passado, se tenha encontrado material bélico das Forças Armadas da Venezuela em poder da subversão, especialmente munição e fuzis, era a primeira vez que se encontra artilharia daquele tipo, com alto poder de destruição, nas mãos da guerrilha.
Ao receber a informação, os funcionários venezuelanos se comprometeram a realizar uma investigação para tratar de explicar ao governo colombiano como material de guerra reservado ao Exército venezuelano havia ido parar nas mãos da subversão. Os dias se converteram
Os foguetes suecos
A história começou em meados do ano passado nas selvas de
No fim de julho de 2008, durante uma das incursões contra “Jhon 40″ e seus homens, o Exército chegou até um dos acampamentos do chefe guerrilheiro. Apesar de o subversivo ter escapado, os militares encontraram no local algo que os surpreendeu: vários lança-foguetes AT-
Os militares colombianos sabiam que, dado o modelo (AT-4), esses artefatos eram fabricados pela empresa Saab-Bofors Dynamics, da Suécia. Os projéteis traziam inscritos os números de série. Essa informação foi passada à embaixada sueca em Bogotá e a autoridades em Estocolmo, com o objetivo de buscar ajuda para estabelecer a origem do armamento e, sobretudo, saber como chegaram à Colômbia. Há pouco mais de três meses, veio a resposta oficial, que confirmou que os números de série dos foguetes encontrados nos acampamentos correspondiam a um lote que havia sido vendido, há alguns anos, pela firma sueca ao Exército da Venezuela.
SEMANA falou com diplomatas da embaixada sueca em Bogotá, que confirmaram que haviam sido, de fato, informados de que o material bélico fabricado por uma empresa de seu país havia sido encontrado na Colômbia: “Estamos muito preocupados com essa situação, e o governo da Suécia está colaborando efetivamente na investigação”.
(…)
SEMANA entrou em contato com representantes da empresa Saab Bofors Dynamics em Estocolmo, que afirmou que é extremamente desagradável que isso tenha ocorrido, porém é algo que sai do seu controle: “Nosso cliente era o Exército da Venezuela. A Saab sempre atua cumprindo a legislação sueca e as leis internacionais para a venda de material de defesa”.
A pergunta óbvia é como essas armas saíram dos quartéis da Venezuela para os acampamentos das Farc. E é aí que o assunto se torna muito mais complicado para o governo venezuelano.
Os generais e as Farc
No acampamento de Raúl Reyes no Equador, foram encontrados vários computadores do chefe guerrilheiro. Nesses computadores, cuja autenticidade foi certificada pela Interpol, encontrou-se a informação que descreve em detalhe as polêmicas relações das Farc com o Equador e com a Venezuela. Poucas semanas depois do bombardeio de 1º de março, conheceu-se publicamente o conteúdo de parte da informação que Reyes guardava. E se evidenciavam, entre outras coisas, vínculos estreitos e colaboração econômica, política e militar de funcionários e militares do governo de Hugo Chávez com a guerrilha colombiana.
Muitos desses documentos foram entregues pelo governo da Colômbia à Venezuela poucas semanas depois do bombardeio. Chávez sempre negou publicamente qualquer colaboração de seu governo com a guerrilha. Algumas das mensagens mais polêmicas eram aquelas nas quais Reyes e outros chefes guerrilheiros trocavam informações sobre a entrega de armas da Venezuela para as Farc. Caracas sempre negou.
Chamou atenção a coincidência de informação de alguns e-mails e os lança-foguetes que a Suécia vendeu ao Exército venezuelano e que acabaram em poder da guerrilha.
Em 4 de janeiro de 2007, “Ivan Márquez” envia um e-mail a Reyes e a outros membros do Secretariado [das Farc] no qual dá um informe sobre vários pontos.
“Como estava previsto, em 3 de janeiro, eu me reuni com os generais (Cliver) Alcalá e (Hugo) Carvajal, com quem Já havia me reunido em três ocasiões na companhia de Ricardo (Rodrigo Granda). Falamos do Plano Patriota, troca de prisioneiros, a “parapolítica” e de três aspectos do plano estratégico: finanças, armas e política de fronteiras. Eles vão nos fazer chegar (na próxima semana) 20 bazucas (não me lembro o calibre) de grande potência segundo eles, das quais 10 seriam para Timo (Timochenko) e 10 para cá. Alcalá sugeriu que fosse uma quantidade maior”.
É o que diz o quarto dos oito pontos do e-mail de Márquez. Poucos dias depois dessa comunicação, Márquez enviou uma nova mensagem a Tirofijo e ao Secretariado. Ele confirmou, entre outras coisas, que “o aparato que recebemos com Timo são foguetes antitanques de
Quando os e-mails foram encontrados e divulgados, em maio de
(…)
Os dois militares venezuelanos que são mencionados por Márquez em seu correio fazem parte do círculo de maior confiança do presidente venezuelano e podem ser apontados como colaboradores das Farc. O general Alcalá é o comandante da 41ª Brigada Blindada e Guarnição Militar de Valencia. Mas o mais polêmico, sem dúvida alguma, e o general Hugo Carvajal, chefe da Direção Geral de Inteligência Militar da Venezuela (Dgim). Em fevereiro de 2008, SEMANA publicou uma extensa investigação que evidenciou a estreita colaboração de Carvajal com as Farc, assim como a proteção efetiva que esse oficial dava a grupos de narcotraficantes. Carvajal estaria também envolvido na tortura e assassinato de membros do Exército colombiano em território venezuelano.
(…)
No ano passado, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos incluiu na lista especial de traficantes de drogas, popularmente chamada de “Lista Clinton”, Carvajal, três altos funcionários do governo venezuelano, o ex-ministro do Interior e Justiça Ramón Rodríguez Chacín e Heny de Jesús Rangel Silva, diretor dos Serviços de Prevenção e Inteligência (Disip).
O assunto dos lança-foguetes do Exército venezuelano em mãos das Farc, sem dúvida, vem a público num momento crítico das relações entre os dois países. Ainda que o governo de Uribe tenha tentado cuidar do caso discretamente para “não jogar mais lenha na fogueira”, é claro que a Venezuela deve explicações não só à Colômbia, mas também à Suécia.
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