Mídia Sem Máscara
| 18 Julho 2009
Media Watch - O Estado de São Paulo
Quem lê desavisado vai achar que o Estadão está acima da disputa. O editorial rememora a questão da CPMF, não como uma vitória da cidadania brasileira, mas como uma derrota de Lula. Na seqüência, coloca o fantasma de Sarney atrapalhar o PAC, esse monstrengo elegido para dar a Lula a marca que todo governo esquerdista tem que ter, um "plano", mesmo que seja uma enorme colcha de retalho com todas as obras que estejam em execução.
Os leitores que acompanham as minhas notas aqui no MSM sobre o Estadão sabem muito bem o que se passa, especialmente se acompanham também o que tenho escrito sobre a Folha de S. Paulo: o jogo de poder de Lula e do PT contra o coronel Ribamar do Maranhão tem sido implacável. O Estadão, nesse jogo, tem dado todos os supostos "furos" jornalísticos, vez que se tornou a trincheira das mais sórdidas intrigas políticas contra o presidente do Senado. Recordando: Sarney é nominalmente aliado de Lula e do PT, mas tem agenda própria, com isso contrariando os interesses dos governantes. Ao se eleger presidente do Senado e ao entronizar sua filha governadora da ínsula (em honra do Dom Quixote) do Maranhão, alargou o desconforto dos supostos aliados. Isso deixou os caciques do PT irados, mostrando que Sarney não hesitará em contrariar os interesses deles. Veio a ordem para apeá-lo do poder, embora Lula faça embaixadas diárias de assoprar as estocadas dadas por seus correligionários contra Sarney.
Por conta disso, o Estadão tem gerado manchetes diárias de escândalos atrás de escândalos, envolvendo Ribamar Sarney. Sempre dá primeiro, sempre ataca, é o destino final das ações fos arapongas do PT dentro do Senado. O editorial de hoje (16) ("A captura de uma instituição") destoou um pouco, pois aparentemente faz uma crítica ao governo Lula. Mas apenas aparentemente, pois o alvo é mesmo malhar o Judas, isto é, Ribamar Sarney. Vejamos o texto: "O escândalo dos escândalos é a transformação do Senado da República em repartição do governo Lula. A captura da instituição tornou-se a meta principal, nas relações com o Legislativo, de um presidente escaldado pela única derrota séria que a Casa lhe infligiu, ao derrubar a prorrogação da CPMF, em dezembro de 2007, e obcecado em remover do Congresso o menor obstáculo ao programa de aceleração do crescimento da candidatura Dilma Rousseff - a "sucessora", como não se peja de proclamar, indiferente ao prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral para o início da campanha".
Quem lê desavisado vai achar que o Estadão está acima da disputa. O editorial rememora a questão da CPMF, não como uma vitória da cidadania brasileira, mas como uma derrota de Lula. Na seqüência, coloca o fantasma de Sarney atrapalhar o PAC, esse monstrengo elegido para dar a Lula a marca que todo governo esquerdista tem que ter, um "plano", mesmo que seja uma enorme colcha de retalho com todas as obras que estejam
Contraditoriamente, o editorialista, talvez para dar um mínimo de coerência do seu discurso ao público leitor, escreveu: "Para tutelar o Senado, o Planalto não precisou recorrer a um meio tão rudimentar como foi o mensalão na Câmara. Bastou acertar-se com as suas caciquias - as dos Sarneys, Calheiros, Jucás, em suma, a escolada primeira divisão dos profissionais do PMDB - e o resto, previsivelmente, veio por gravidade. Rudimentar, isso sim, é a forma como o esquema aplasta não só a desvitalizada oposição, no curso daquilo que na linguagem política é o "jogo jogado", mas qualquer entendimento entre os blocos partidários que contenha ao menos um semblante de respeito ao direito da minoria na Casa outrora chamada Câmara Alta. A tática da terra arrasada funcionou a pleno vapor no deplorável espetáculo da instalação da CPI da Petrobrás, anteontem, passados dois meses da sua criação. Com a leonina vantagem de 8 cadeiras a 3 no colegiado, a maioria impôs os nomes que desde a primeira hora Lula queria ver na presidência (o seu fraternal amigo petista João Pedro) e na relatoria do inquérito (o ex-ministro e líder do governo Romero Jucá)". Em sendo assim, o editorial deveria dar foco à relação corruptora do governo Lula com o Congresso. O fato é que só uns poucos senadores, Sarney incluso, separam o PT do poder total, inclusive aquele da re-reeleição. Não é o Senado que está podre, apenas, é toda a estrutura de poder no Brasil que apodreceu. O fedor é muito maior na esfera do poder Executivo, algo que o editorialista não aponta. Credito ao Senado o mérito de não deixar o PT se transformar em um instrumento ditatorial, como vimos Chávez fazer com o Congresso da Venezuela.
Por isso, pôde o editorial concluir: "A sessão em que se instalou a CPI foi dirigida e sumariamente encerrada pelo decano da Casa, o peemedebista Paulo Duque, de 81 anos. Ele era o candidato do líder do partido, Renan Calheiros - outro sustentáculo de Lula -, para presidente do Conselho de Ética que já recebeu três representações contra Sarney por quebra de decoro. Duque espelhou à perfeição a esqualidez moral deste Senado jungido pelo lulismo ao dizer que "ficar vasculhando a vida dele é bobagem". Renan é obstáculo a Lula no que ele tem de continuista, apenas. De resto, tem feito tudo que o PT manda, como aliás também o fez Ribamar Sarney. Que Renan se cuide, pode ser o próximo da fila a ser objeto da campanha farisaica do Estadão, o moralismo de fachada que persegue implacavelmente os inimigos do PT.
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