sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Luzes e sombras de Bariloche

Mídia Sem Máscara

Cada eleição no continente é vista pelo bando como uma brecha no campo inimigo. Sua primeira reação é instintiva e subversiva: enviar valises de dólares, agitadores, agentes de influência, especialistas em "mobilização de massas" para transbordar os partidos, tirar do nada organismos sequazes e impor nas urnas um candidato de algibeira. A UNASUL não fará nada contra isso, pois faz parte dos mecanismos dessa subversão.

Não se deve passar muito rápido a folha do encontro da UNASUL em Bariloche. Muito se escreveu e disse a respeito, porém o tema não foi esgotado. O grande vencedor dessa cúpula de presidentes foi Álvaro Uribe. Só uns quantos sectários se negam a admiti-lo. O acordo de cooperação militar com os Estados Unidos não foi condenado. Esse era o ponto central do evento e seus inimigos mais tenazes não conseguiram o que queriam. O mandatário colombiano não foi crucificado por seus adversários, pelo contrário, o bando dos três (Chávez, Correa e Morales) não impôs sua lei e até terminou dividido. Desde essa tribuna, Uribe denunciou ante o mundo o imperialismo chavista, suas ameaças militares contra a Colômbia e criticou a apologia que Caracas faz do abatido criminoso Raúl Reyes. A declaração final da UNASUL reafirmou o princípio de fortalecer a luta contra o terrorismo e o narco-tráfico. Essa frase aponta direto contra as FARC, embora essa sigla não apareça na declaração.

Essa cúpula mostrou, ao mesmo tempo, a pouca utilidade da UNASUL. O intervencionismo chavista contra a Colômbia e contra outros países foi evocado por Uribe porém não foi tratado pelo coletivo. Esse fenômeno continuará e se agravará, e a UNASUL não fará nada para freá-lo. Do mesmo modo sobre a destruição deliberada da economia colombiana e venezuelana que Chávez está fazendo, ao sabotar o comércio bilateral. A UNASUL é impotente pois o mal vem desde dentro. Os da Venezuela, Equador e Bolívia não são governos normais. São governos revolucionários, ou que se crêem revolucionários. Ante os métodos diplomáticos eles preferem as vias de fato. O princípio da auto-determinação dos povos vale um pepino. Cada eleição no continente é vista pelo bando como uma brecha no campo inimigo. Sua primeira reação é instintiva e subversiva: enviar valises de dólares, agitadores, agentes de influência, especialistas em "mobilização de massas" para transbordar os partidos, tirar do nada organismos sequazes e impor nas urnas um candidato de algibeira. A UNASUL não fará nada contra isso, pois faz parte dos mecanismos dessa subversão.

Bariloche permitiu ver outra coisa: o estranho papel de Lula nos assuntos do continente. Nessa reunião, Lula apareceu como a eminência parda que guia os passos do presidente Chávez e de seu grupelho. Ele consegue freá-lo em alguns momentos, porém lhe solta a corda quando é necessário. Há como uma muito sofisticada hipocrisia de Lula em suas relações com o continente. Sorrisos e abraços nas instâncias diplomáticas, sobretudo em Washington e no G-8, e em outros fóruns mundialistas, orientações duras e anti-capitalistas nos conclaves privados e secretos do Foro de São Paulo, espécie de Kominform para a dominação do continente, que havia precisamente encerrado uma reunião no México [1] cinco dias antes que começasse a de Bariloche.

Lula impediu que a UNSAUL, organismo artificial e sectário, estourasse em Bariloche. Uma condenação dos acordos Bogotá-Washington teria obrigado o presidente colombiano a abandonar a reunião, a deixá-los sós com sua raiva e suas lunáticas resoluções. Lula não foi tão longe pois teme que outros poderes, entre esses Washington, lhe apliquem a recíproca e se ponham a esquadrinhar a pequena cozinha dos enormes acordos militares entre o Brasil e a França. E que a curiosidade transborde sobre os acordos militares que Moscou e Caracas guardam debaixo de sete chaves.

Os meios de comunicação, sobretudo a televisão, o rádio e a imprensa escrita, tiveram um papel muito positivo. Graças a eles o encontro foi quase transparente. Lula estava aborrecido pela transmissão do evento ao vivo e a imprensa argentina se deu conta disso e falou. Uribe havia exigido essa transmissão direta e conseguiu. Isso paralisou Chávez que não se atreveu a envolver-se em uma disputa direta com Uribe, pois faz tempo descobriu que este sabe como lhe responder. Essa transmissão direta permitiu ao presidente peruano Alan García lançar uma saborosa cutucada contra o chefe da "revolução bolivariana" que a imprensa nacional retomou com delícia. Todo mundo viu o ódio com que Rafael Correa se expressou.

A Colômbia deve continuar no jogo da UNASUL? Eu não creio. A menos que esse organismo se abra a todos os países do continente, continuar ali é alavancar a tentação hegemonista dos Lula e Chávez.



Nota:

[1] Segundo a agência castrista Prensa Latina, a essa reunião "assistiram 520 delegados de 32 países, fundamentalmente da América Latina e estiveram representados 62 partidos políticos e movimentos da esquerda continental". Criado a 19 anos, o Foro de São Paulo tem um objetivo: "desbaratar o modelo neoliberal", segundo declarou à PL um ativista mexicano anônimo. As duas próximas reuniões serão em São Paulo, em novembro de 2009, e em Buenos Aires, em 2010.

Tradução: Graça Salgueiro

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