Mídia Sem Máscara
| 02 Setembro 2009
Artigos - Educação
Como - porca miséria! -, pode haver "hegemonia neoliberal, que contribuiu para a crise da produção teórica", se o grosso da produção teórica tombada na biblioteca da UESC é francamente antiliberal? Como pode o "neoliberalismo" ser hegemônico e, ao mesmo tempo, não redundar em referências em quantidade relevante na biblioteca?
Alguns dias atrás um visitante do meu blog deixou um comentário, me recomendando a leitura de uma entrevista no site da UESC. O site estava fora do ar, e só hoje me toquei de ir ler.
Pois bem, a entrevistada era Márcia Rosely, do PC do B, conhecidíssima nos meios políticos da Universidade. Me abstenho de comentar toda a entrevista, mas somente um trecho, exemplificativo do que venho falando e criticando há muito tempo:
"Udo/Web - E quais os desafios para o ensino superior na atual conjuntura?
Márcia Rosely - A Universidade brasileira viveu um momento muito difícil. O pensamento neoliberal, além de sucatear as universidades públicas, sufocou o debate político durante vários anos. O chamado pensamento único contribuiu para a crise da produção teórica."
Eu esfreguei os meus olhos. "Cuméquié? Eu levei 5 anos numa universidade com hegemonia do pensamento neoliberal e não percebi?"
Parto da premissa de que não há ideologia sem ideólogos. Para atingir a hegemonia, a ponto de gerar "pensamento único" e "sufocar o debate", imagino que a literatura liberal deva ser dominante, ao menos na biblioteca. É o mínimo que se espera.
Fiz uma comparação da quantidade de livros/referência de autores marxistas (ou esquerdistas) e não marxistas no site da Biblioteca:
Adam Smith: 8 referências
Karl Marx: 66 referências
Olavo de Carvalho: 1 referência
Antônio Gramsci: 33 referências
Friedrich Hayek: 1 referência
Lênin: 36 referências
Aristóteles: 38 referências
Paulo Freire: 100 referências
Milton Friedman: 5 referências
Emir Sader: 15 referências
"O Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano": 0 exemplares
"As veias abertas da América Latina": 10 exemplares
Paulo Ferreira da Cunha: 0 referências
Boaventura Sousa Santos: 7 referências
José Guilherme Merquior: 7 referências (0 para o livro dele sobre Foucault)
Michel Foucault: 36 referências
Roberto Campos: 4 livros
Celso Furtado: 31 referências
Paul Johnson: 0 referências
Eric Hobsbawm: 14 referências
George Orwell*: 4 referências
Bertolt Brecht: 10 referências
Raymond Aron: 5 referências
Florestan Fernandes: 28 referências
Julián Marías: 6 referências
Marilena Chauí: 26 referências
Editora Instituto Liberal: 0 referências
Editora Paz e Terra: 234 referências
Vêem a completa distorção? A literatura filomarxista é francamente majoritária na universidade e vem gente reclamar de "hegemonia neoliberal"!
Como - porca miséria! -, pode haver "hegemonia neoliberal, que contribuiu para a crise da produção teórica", se o grosso da produção teórica tombada na biblioteca da UESC é francamente antiliberal? Como pode o "neoliberalismo" ser hegemônico e, ao mesmo tempo, não redundar em referências em quantidade relevante na biblioteca?
E mais, não há quase nenhum dos livros mais importantes do liberalismo ou "da direita": "Capitalismo e Liberdade", de Friedman, só possui um exemplar, na seção reserva. "A riqueza das nações", de Adam Smith, também não possui nenhum exemplar para empréstimo domiciliar. "O caminho da servidão", de Hayek, inexiste. Paul Johnson, que desmascarou Marx no seu "Os Intelectuais", também não possui uma única obra aqui. Ludwig von Mises, que provou que o comunismo é tecnicamente impossível, também não dá as caras na UESC.
Outros nomes (não necessariamente liberais): Ortega y Gasset - duas obras (nenhuma para empréstimo domiciliar); Eugen von Bohm-Bawërk - um livro (dois exemplares, somente um para empréstimo); Eric Voegelin - nenhuma referência; Michel Villey - nenhuma referência; Jean-François Revel - nenhuma referência; Guy Sorman - uma referência; Thomas Sowell - nada; Jagdish Bhagwatti - 1 referência; Allan Bloom - nada...
Aí sabe o que acontece? Começam as aulas, os militantezinhos começam a engabelar os calouros com esse papo, e todo mundo leva cinco anos numa universidade, recebendo marxismo güela abaixo, crente e abafando que está sendo sufocando pelo pensamento único neoliberal. E saem repetindo esse discurso, sem nem ao menos verificar e se tocar que isso é pura propaganda.
A explicação está em Gramsci. Na busca pela hegemonia a esquerda se faz de vítima até quando está
E assim se produz a crise da cultura, e se toma a sociedade de assalto.
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Notas:
* Orwell não é liberal, tampouco capitalista. Ele era um socialista moderado, que está presente para servir de contraponto ao stalinista Brecht, o qual possui suas obras completas na biblioteca, ao passo que, de Orwell, está presente "A revolução dos bichos", mas ausente "1984".
** Obviamente esta lista não se esgota. Existem outros nomes, títulos e editoras, de lado a lado, que eu não chequei. Mas, querendo, basta procurar nos sites das bibliotecas. Ponho meu dedo mindinho no torno se em alguma universidade pública os "reacionários" suplantem os "progressistas".
Edgard Freitas edita o blog Caxassa Filosofal - http://caxassafilosofal.blogspot.com/
Artigo publicado em fevereiro de 2008: http://caxassafilosofal.blogspot.com/2008/02/quod-erat-demonstrandum.html
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