quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Quod Erat Demonstrandum

Mídia Sem Máscara

Como - porca miséria! -, pode haver "hegemonia neoliberal, que contribuiu para a crise da produção teórica", se o grosso da produção teórica tombada na biblioteca da UESC é francamente antiliberal? Como pode o "neoliberalismo" ser hegemônico e, ao mesmo tempo, não redundar em referências em quantidade relevante na biblioteca?

Alguns dias atrás um visitante do meu blog deixou um comentário, me recomendando a leitura de uma entrevista no site da UESC. O site estava fora do ar, e só hoje me toquei de ir ler.

Pois bem, a entrevistada era Márcia Rosely, do PC do B, conhecidíssima nos meios políticos da Universidade. Me abstenho de comentar toda a entrevista, mas somente um trecho, exemplificativo do que venho falando e criticando há muito tempo:

"Udo/Web - E quais os desafios para o ensino superior na atual conjuntura?

Márcia Rosely - A Universidade brasileira viveu um momento muito difícil. O pensamento neoliberal, além de sucatear as universidades públicas, sufocou o debate político durante vários anos. O chamado pensamento único contribuiu para a crise da produção teórica."

Eu esfreguei os meus olhos. "Cuméquié? Eu levei 5 anos numa universidade com hegemonia do pensamento neoliberal e não percebi?"

Parto da premissa de que não há ideologia sem ideólogos. Para atingir a hegemonia, a ponto de gerar "pensamento único" e "sufocar o debate", imagino que a literatura liberal deva ser dominante, ao menos na biblioteca. É o mínimo que se espera.

Fiz uma comparação da quantidade de livros/referência de autores marxistas (ou esquerdistas) e não marxistas no site da Biblioteca:

Adam Smith: 8 referências

Karl Marx: 66 referências

Olavo de Carvalho: 1 referência

Antônio Gramsci: 33 referências

Friedrich Hayek: 1 referência

Lênin: 36 referências

Aristóteles: 38 referências

Paulo Freire: 100 referências

Milton Friedman: 5 referências

Emir Sader: 15 referências

"O Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano": 0 exemplares

"As veias abertas da América Latina": 10 exemplares

Paulo Ferreira da Cunha: 0 referências

Boaventura Sousa Santos: 7 referências

José Guilherme Merquior: 7 referências (0 para o livro dele sobre Foucault)

Michel Foucault: 36 referências

Roberto Campos: 4 livros

Celso Furtado: 31 referências

Paul Johnson: 0 referências

Eric Hobsbawm: 14 referências

George Orwell*: 4 referências

Bertolt Brecht: 10 referências

Raymond Aron: 5 referências

Florestan Fernandes: 28 referências

Julián Marías: 6 referências

Marilena Chauí: 26 referências

Editora Instituto Liberal: 0 referências

Editora Paz e Terra: 234 referências

Vêem a completa distorção? A literatura filomarxista é francamente majoritária na universidade e vem gente reclamar de "hegemonia neoliberal"!

Como - porca miséria! -, pode haver "hegemonia neoliberal, que contribuiu para a crise da produção teórica", se o grosso da produção teórica tombada na biblioteca da UESC é francamente antiliberal? Como pode o "neoliberalismo" ser hegemônico e, ao mesmo tempo, não redundar em referências em quantidade relevante na biblioteca?

E mais, não há quase nenhum dos livros mais importantes do liberalismo ou "da direita": "Capitalismo e Liberdade", de Friedman, só possui um exemplar, na seção reserva. "A riqueza das nações", de Adam Smith, também não possui nenhum exemplar para empréstimo domiciliar. "O caminho da servidão", de Hayek, inexiste. Paul Johnson, que desmascarou Marx no seu "Os Intelectuais", também não possui uma única obra aqui. Ludwig von Mises, que provou que o comunismo é tecnicamente impossível, também não dá as caras na UESC.

Outros nomes (não necessariamente liberais): Ortega y Gasset - duas obras (nenhuma para empréstimo domiciliar); Eugen von Bohm-Bawërk - um livro (dois exemplares, somente um para empréstimo); Eric Voegelin - nenhuma referência; Michel Villey - nenhuma referência; Jean-François Revel - nenhuma referência; Guy Sorman - uma referência; Thomas Sowell - nada; Jagdish Bhagwatti - 1 referência; Allan Bloom - nada...

Aí sabe o que acontece? Começam as aulas, os militantezinhos começam a engabelar os calouros com esse papo, e todo mundo leva cinco anos numa universidade, recebendo marxismo güela abaixo, crente e abafando que está sendo sufocando pelo pensamento único neoliberal. E saem repetindo esse discurso, sem nem ao menos verificar e se tocar que isso é pura propaganda.

A explicação está em Gramsci. Na busca pela hegemonia a esquerda se faz de vítima até quando está em vantagem. O fato de existirem meia dúzia de livros "de direita" soterrados por toneladas de filo ou criptomarxismo já é um fato inaceitável para os gauches, sinal de hegemonia Capitalista, que deve ser superada. Ou seja, só vão sossegar quando não houver mais resquício de liberalismo e conservadorismo nas Universidades.

E assim se produz a crise da cultura, e se toma a sociedade de assalto.


_______________________________
Notas:

* Orwell não é liberal, tampouco capitalista. Ele era um socialista moderado, que está presente para servir de contraponto ao stalinista Brecht, o qual possui suas obras completas na biblioteca, ao passo que, de Orwell, está presente "A revolução dos bichos", mas ausente "1984".

** Obviamente esta lista não se esgota. Existem outros nomes, títulos e editoras, de lado a lado, que eu não chequei. Mas, querendo, basta procurar nos sites das bibliotecas. Ponho meu dedo mindinho no torno se em alguma universidade pública os "reacionários" suplantem os "progressistas".

Edgard Freitas edita o blog Caxassa Filosofal - http://caxassafilosofal.blogspot.com/

Artigo publicado em fevereiro de 2008: http://caxassafilosofal.blogspot.com/2008/02/quod-erat-demonstrandum.html

Nenhum comentário: