sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Micropensamentos de macrocéfalos

Mídia Sem Máscara

O conhecimento que liberta é a filosofia e a religião, a grande literatura, que nos liga com a fonte transcendente, que nos descortina as profundezas abissais da Origem, da História, de Deus. Mas não creio que Andrea Matarazzo tenha pensado nisso, embora tenha intuído.

Caro leitor, aderi de mala e cuia ao Twitter. Estou lá: http://twitter.com/nivaldocordeiro. Divertidíssimo. Eu agora virei (per)seguidor de um bando de macrocéfalos da nossa República, especialmente daqueles mais notórios, cujos egos são maiores que o mundo. Essa gente, em regra, não tem muito que dizer fora daquilo que suas assessorias de comunicação lhes indicam. São fabricantes de imagens postiças, moedeiros falsos que são. Mas o Twitter é traiçoeiro. Se o microblog for feito profissionalmente dá na cara, de nada serve, nem mesmo para cartão de visitas. Ninguém terá interesse de visitá-lo. Porém se for feito de forma descuidada, desqualifica o sujeito, causando grandes prejuízos. É caminhar no fio da navalha.

Alguns de meus (per)seguidos fazem verdadeiros diários de sua existência inútil, do tipo: "Fui ao banheiro". Cinco minutos depois: "Voltei, foi ótimo". Sem exagero. Alguns, mais entusiasmados: "Vou almoçar com o macrocéfalo fulano de tal, meu brother". Logo depois: "Estou almoçando com o tal macrocéfalo, no restaurante fulano de tal". A seguir: "Já comi". Em geral o restaurante citado é caro e na moda, para sair bem na fita. Um reality show de mau gosto, um confessionário público de besteirol e inutilidades.

Já vi coisas do tipo: "Vou passar o fim de semana no Rio de Janeiro". Logo depois: "Estou dentro do avião". Em seguida: "Cheguei". Pior que diário de Mariazinha adolescente, mas feito por gente cinquentona, autoridades públicas. É, de fato, mais que engraçado, deprimente. Essa gente, desprovida dos cargos, de nada vale. É um conjunto vazio. Quer se divertir, caro leitor? Faça seu Twitter e (per)siga, como eu faço, gente graúda e vaidosa. Diversão garantida.

O senador Aloísio Mercadante, por exemplo, queimou-se nos infernos ao escrever sua renúncia irrevogável no Twitter, prontamente revogada logo depois. A tribuna aqui é impiedosa: escreveu algo, instantaneamente os (per)seguidores chatos como eu ficam sabendo irrevogavelmente (para usar a palavra mercadântica preferida), pois esse negócio de Twitter vicia. Mercadante falou besteira e teve que corrigi-la imediatamente, online. O Twitter tem o poder de revogar até o irrevogável, ficou provado.

O governador José Serra, por exemplo, no último domingo ficou descrevendo suas ocupações de descanso. Escreveu que viu a bela Penélope Cruz em filme, que ouviu música da Edith Piaf. Não é comovente? Romântico? Serra, com aquela cara de vampiro brasileiro da Mooca, ouvindo Piaf e admirando Penélope Cruz! Quase me fez acreditar que é um ser humano normal.

O que mais me diverte é quando tropeço com nulidades que querem filosofar. Aí a coisa fica imperdível. Um exemplo notável hoje foi Andrea Matarazzo, secretário recém desempregado da Prefeitura de São Paulo, que escreveu: "Hoje 7 de setembro dia da independência. O que assegura a independência de uma pessoa e o conhecimento". (Sic) Profundidade abissal, vê-se logo. Não satisfeito, emendou logo a seguir: "O conhecimento nos assegura liberdade e independência!" Claro que ele deu o salto de pensamento aqui, passando da independência política comemorada no Dia da Pátria para a independência do Ser, pessoal, algo bem mais dificultoso e problemático.

Mas Matarazzo me levou a pensar, preciso reconhecer. Qual conhecimento nos liberta? Não o lixo que as universidades, tomadas por niilistas militantes, ensinam para nossa juventude. Nem mesmo o conhecimento técnico é libertador, posto que meramente instrumental. O conhecimento que liberta é a filosofia e a religião, a grande literatura, que nos liga com a fonte transcendente, que nos descortina as profundezas abissais da Origem, da História, de Deus. Mas não creio que Andrea Matarazzo tenha pensado nisso, embora tenha intuído. Matarazzo é um dos meus (per)seguidos prediletos, tal a sua loquacidade. É meu (per)seguido da estimação. Seu pensamento é uma ânsia de escalar os cumes ensolarados do saber para quem está acorrentado irremediavelmente no nível rés do chão da filosofia.

Voltarei a esse tema mais vezes.

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