Quinta-feira, 3 de Setembro de 2009
Alerta Total
Por Valmir Fonseca Azevedo Pereira
Este foi o título de um famoso filme sobre a Primeira Guerra Mundial, produzido em 1930, baseado no romance do escritor alemão Erich Maria Remarque, que retratava os horrores da guerra e a profunda indiferença da vida civil alemã sentida por muitos homens que retornavam das frentes de batalha.
Em combate, diante da cruenta realidade da guerra, os soldados viam esvair os seus ideais. O trágico drama apagara a sua euforia, a sua crença juvenil nas lutas gloriosas e nos atos heróicos. O desalento e a desilusão desabavam sobre o ânimo dos soldados.
A sombra da derrota e do fracasso estavam presentes, e os militares que retornavam do campo de batalha, eram cercados pelos civis em busca de notícias, de seus filhos, e dos entes queridos que lá lutavam, e dos avanços das tropas nacionais, que as rádios anunciavam como estrondosas vitórias de seus generais.
Mas, os pobres soldados, envergonhados de confessar a triste realidade, de desabafar os seus temores e as suas descrenças, incapazes de mentir, sem olhar seus interlocutores, às suas ansiosas perguntas, respondiam, simplesmente, “Sem novidades no front”.
No Brasil, “Sem novidades no front” se tornou gíria popular para se referir a uma ausência total de ação, em referência a falsa guerra na frente ocidental da Primeira Guerra Mundial.
A lacônica resposta encerrava, sem réplicas, um estado de espírito. Cortava, secamente, um diálogo indesejado. Evitava ao soldado, debulhar - se em lágrimas sofridas.
Em 10 de junho de 1999, como uma catástrofe anunciada, os militares passaram a ser, efetivamente, subordinados ao poder civil. Antes, pasmem, não eram.
Até àquela data, os militares usavam e abusavam. Não simpatizavam com os chefes, golpe. Se queriam melhores salários, golpe. Se ambicionavam mais regalias, golpe.
Basta recorrermos à História da Pátria para comprovarmos que eles, durante a sua trajetória, tornaram a Nação uma grande sinecura. Exorbitavam do poder, recebiam salários nababescos, deleitavam – se num manancial de mordomias, etc. Portanto, não sem tempo, era hora de acabar com a ignomínia.
Com o advento do Ministério da Defesa passou a existir “uma grande novidade no front”, e os militares atingidos em sua principesca existência, julgaram que seria de bom - tom, mimosear suas autoridades, na esperança de que adulados, tornariam menos severas suas duras medidas. Foram distribuídas medalhas, diplomas e afagos. Nada adiantou.
Depois, assumiram diversos Ministros da Defesa, e as dúvidas ecoaram, e a resposta, ordinariamente, era “Sem novidades no front”.
No 6º, muitas mudanças, muitos fogos de artifício, discursos, muitos arrochos, e veio a sua promoção a Marechal de Campo, com direito a farda e tudo o mais, e nós, já acostumados, continuamos a afirmar, “Sem novidades no front”.
Veio a END, alguns torceram o nariz, mas, se alguém solicitasse, a resposta seria a mesma, “Sem novidades no front”.
Nos anos seguintes, os recursos minguaram e, para piorar, foram contingenciados. O equipamento e o armamento sucatearam e, mesmo assim, um “bando” de altas patentes, em coro, bradou, “Sem novidades no front”.
Após os substanciais cortes no orçamento militar e a redução de 40% no efetivo a ser incorporado, anualmente, o coro continuou proclamando, “Sem novidades no front”.
Ao revanchismo cotidiano, à busca de ossadas, às odes aos terroristas, aos memoriais em homenagem aos anti - heróis, em memória de todos os atos e destemperos contra o estamento militar, quando alguém pergunta, ensaiados, respondemos a uma só voz, ”Sem novidades no front”.
Com a assessora da Ministra, prestes a assumir o cargo de juíza do STM, se indagarem aos demais juízes, mesmo que a contragosto, a resposta virá, “Sem novidades no Front”.
Por penúltimo, pois certamente, sempre haverá mais, o 6º Ministro, que não tem problema de enfrentamento, anunciou a nova Estrutura das Forças Armadas.
De idêntica forma, na Petrobrás, nos Correios, nos Ministérios, nas Autarquias, nas ONGs, no Judiciário, no Legislativo, nas CPIs, para qualquer lado, ou nicho que vasculhemos, mesmo em locais inimagináveis, os tentáculos do polvo partidário estão infiltrados, quando não aboletados.
Se perguntarmos aos honestos, aos dedicados servidores, o que está acontecendo, a resposta será “Sem novidades no front”.
Por tudo isso, se alguém inquirir sobre o que pensamos a respeito, podemos retorquir, sem medo de ser feliz:
”Sem novidades no front”.
Valmir Fonseca Azevedo Pereira é General de Brigada Reformado do EB.
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