sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Década perdida

Mídia Sem Máscara

Livro? Bem, fico com o Quixote, de Cervantes. Alguém dirá que não é da década. É, sim, é um livro para todo o século XXI, como ensinou Vargas Llosa. Se não é o livro para a multidão, é para mim.

"Ainda que eu caminhe por um vale tenebroso,
nenhum mal temerei, pois estás junto de mim;
teu bastão e teu cajado me deixam tranqüilo
".
Salmo 23

Tempo de balanço, fim de década, fim de um ciclo. Para mim uma década perdida, no sentido material, mas no sentido espiritual muito ao contrário. Se nos anos noventa conheci o meu zênite, posso dizer que no último decênio conheci o meu ocaso, o meu nadir. Mergulhei no abismo, como Nietzsche narrou de seu Zaratustra, depois de dez anos gloriosos. Tive que olhar nos olhos o lado escuro da força e carregar um cadáver às costas para enterrar em um oco de árvore qualquer, o meu próprio. Pelos vales tenebrosos caminhei. Um cão medonho me fez companhia, que nenhum passeio no Tártaro se pode fazer sem que o Cão nos mande o seu representante.

Paradoxalmente, me elevei ao fazer o meu mergulho no vale das sombras. Para começo de conversa, jamais perdi a conexão com Deus e sempre e sempre o sangue vertido por Nosso Senhor Jesus Cristo me protegeu, assim como o manto sagrado de Maria. Não julgue, caro leitor, que isso é mera retórica. É um fato. E eu nada fiz para ter a dádiva, diga-se, foi-me dada pela graça de Deus, que eu nada mereço. Quis o bom Deus que eu sobrevivesse a tudo, apesar de tudo. Para falar nos termos poéticos de Bob Dylan, bati nas portas do céu, tendo antes descido aos infernos. Uma experiência e tanto para se contar, embora possa parecer a um incrédulo uma história literária. Quem me dera! Deixei no caminho as dores e as lascas do meu couro, que endureceu com as cicatrizes. Só espero que no período que agora se abre eu possa novamente trilhar, como Dante, o caminho da elevação e que, ao final, possa de novo voltar-me para a Luz. Beatriz já está comigo, com outro nome, doce nome. Dez anos de mergulho na floresta escura é o bastante para mim.

Aprender é sobreviver de forma consciente. Não se aprende, a não ser por puro impulso pavloviano (que não é verdadeiro aprendizado), se não sabemos de onde vem a dor e porque ela vem. Eu sei da minha dor porque sei como gira a minha Roda da Fortuna. "Mãe, guarde esses revólveres para mim", poderia eu dizer para minha mãe, se ela fosse viva. Estou cansado de guerra e de derrotas. Mas não estou cansado nem da vida e nem do bom combate. "Mãe! Tire o distintivo de mim". Bem sei que ela não pode fazê-lo, porque o tempo de maiores combates virá, na verdade já chegou. O distintivo é feito tatuagem, irremovível. Precisei primeiro enfrentar o dragão interior para emergir e se o bom Deus quis assim é porque outros combates, agora no mundo exterior, terei eu que combater. (Ouço a voz fanhosa de Bob Dylan, batendo na porta do céu).

Filme da década? Claro, a trilogia Matrix, de longe o grande filme. Certo que temos a obra de Clint Eastwood e outros grandes, mas nada se compara à aventura de Neo. Seriado? Roma, da HBO, sem dúvida. A mais perfeita reprodução de César já feita. O personagem Voreno encarna o guerreiro romano como sempre imaginei. Livro? Bem, fico com o Quixote, de Cervantes. Alguém dirá que não é da década. É, sim, é um livro para todo o século XXI, como ensinou Vargas Llosa. Se não é o livro para a multidão, é para mim. Junto com o livro de Guimarães Rosa, Grande Sertão, Veredas. Reli-o muitas vezes. Estão ali as minhas raízes, o meu pai, a minha mãe, eu mesmo. Toda a minha aventura, a minha alma brasileira. É o grande romance brasileiro, que honra Cervantes. Elejo-os.

No cinema brasileiro tenho que citar Tropa de Elite. Capitão Nascimento é o novo capitão do mato, o novo bandeirante que dormita em cada um de nós que está ansioso por restabelecer a ordem perdida para a malta niilista que tomou o poder. Bela história, grande atuação de Wagner Moura. Na crônica, João Ubaldo Ribeiro. Sem seu humor dominical eu teria ficado mais triste e infeliz. Sem seus ricos personagens da Ilha de Itaparica a política medonha dos podres poderes teria ficado impune. João Ubaldo vinga-nos a todos nós com a sua fina ironia, sua implacável elegância.

Que se vá logo esse tempo sombrio dominado pelas massas e pelos idiotas por elas eleitos, como o apedeuta Lula. Que se vá logo! Não vejo a hora de raiar o Ano Novo, um grande dia. Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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