terça-feira, 7 de outubro de 2008

Política da salvação

Mídia Sem Máscara

7 outubro 2008
Editorias - Economia, Estados Unidos, Livre iniciativa

Nada demonstra mais dolorosamente o que está errado com o Congresso do que a atual crise financeira.

Dentre os “líderes” partidários convidados à Casa Branca para criar uma “solução” de salvamento estão as mesmas pessoas que têm, por anos a fio, criado os riscos que agora nos atormentam.

Cinco anos atrás, Barney Frank apoiou a “racionalidade” de Fannie Mae e Freddie Mac [1], dizendo que “Eu não vejo” qualquer “possibilidade de perdas financeiras importantes para o Tesouro”.

Além disso, ele disse que o governo federal tem “provavelmente feito muito pouco, em vez de excessivamente muito, para estimulá-los a alcançar os objetivos de moradias a preços razoáveis.”

No início deste ano, o senador Christopher Dodd [2] elogiou Fannie Mae e Freddie Mac por “liderarem o resgate” quando outras instituições financeiras estavam reduzindo os empréstimos habitacionais. Ele disse também que elas “precisavam fazer mais” para ajudar os credores subprime a conseguirem melhores empréstimos.

Em outras palavras, o deputado Frank e o senador Dodd queriam que o governo pressionasse as instituições financeiras a emprestarem às pessoas que elas, por si mesmas, não emprestariam pelo risco de inadimplência.

A idéia de que políticos podem calcular riscos melhor que pessoas que passam suas vidas profissionais calculando riscos deveria ser tão obviamente absurda que ninguém deveria considerá-la seriamente.

Mas as palavras mágicas “moradia a preço razoável” e a palavra horrorosa “redlining” [3] levaram os políticos a determinarem para onde os empréstimos deveriam ir, por meio de coisas tais como o Community Reinvestment Act (Lei do reinvestimento comunitário) e várias outras coerções e ameaças.

As raízes desse problema são antigas de muitos anos. Mas, como a crise a que tudo levou aconteceu na presidência de George W. Bush, isso foi motivo suficiente para aqueles que pensam em termos de retórica, não desejando ser “confundidos pelos fatos”.

Na realidade, o presidente Bush tentou sem sucesso, anos atrás, que o Congresso criasse alguma agência reguladora que supervisionasse Fannie Mae e Freddie Mac.

N. Gregory Mankiw, presidente do Conselho de Consultores Econômicos de Bush, alertou, em fevereiro de 2004, que a esperança de uma ajuda financeira governamental de emergência em caso de crise criava “um incentivo para uma empresa se arriscar e desfrutar do respectivo aumento de crescimento.”

Como investimentos de risco pagam usualmente mais do que investimentos mais seguros, o incentivo é para que empreendimentos apoiados pelo governo assumam maiores riscos, pois eles auferem maiores lucros se tudo der certo, e os contribuintes ficam com os prejuízos, caso isso não ocorra.

O governo não é avalista de Fannie Mae e Freddie Mac, mas a suposição geral tem sido de que o governo interviria, com ajuda financeira, para prevenir o caos nos mercados financeiros.

Alan Greenspan, então presidente do Federal Reserve System (o Banco Central americano), disse o mesmo em depoimento no Congresso em fevereiro de 2004. Ele disse: “O Federal Reserve está preocupado” que Fannie Mae e Freddie Mac estivessem usando essa esperança implícita no salvamento governamental numa emergência para assumir mais riscos, a fim de “multiplicar a lucratividade de débitos subsidiados”.

O presidente Greenspan adicionou sua voz à daqueles que insistiam que o Congresso devia criar um “agente regulador com autoridade similar às agências reguladoras do sistema bancário” para reduzir os riscos de Fannie Mae e Freddie Mac, riscos estes que cairiam nas costas dos contribuintes.

Fannie Mae e Freddie Mac não merecem ser salvos, mas nem os trabalhadores, as famílias e os empresários merecem ser colocados num caos econômicos por um colapso dos mercados de crédito, tal como ocorreu durante a Grande Depressão dos anos 1930.

Tampouco os eleitores merecem ser decepcionados nas vésperas de uma eleição pela noção de que isso é uma falha dos mercados livres que deveriam ser substituídos por uma microgerência política.

Se Fannie Mae e Freddie Mac fossem instituições do livre mercado, elas não conseguiriam manter suas práticas financeiras arriscadas, pois ninguém teria comprado seus certificados de crédito sem uma suposição implícita de que os políticos as salvariam.

Teria sido melhor que tais empreendimentos com apoio governamental não tivessem sido criados e que os empréstimos habitacionais fossem deixados para o livre mercado. Essa operação de salvamento cria expectativas de futuras operações similares.

A desativação progressiva de Fannie Mae e Freddie Mac faria muito mais sentido do que deixar os políticos brincarem com elas de novo, com o risco e as despesas sendo deixados para os contribuintes.

[1] Fannie Mae é o apelido da Federal National Mortgage Association (Associação Nacional de Hipotecas Federais) e Freddie Mac é o apelido da Federal Home Mortgage Corporation (Corporação Federal de Hipotecas). Essas empresas, criadas em 1968, são patrocinadas pelo governo e conhecidas como GSEs. Isso significa que elas são empresas privadas, mas protegidas financeiramente pelo governo federal. Essa proteção inclui acesso ao Tesouro Americano. (N. do T.)

[2] Sobre esse senador é interessante ler, de Dennis Prager, Caro sen. Dodd: Educação não é uma resposta para todos os problemas. (N. do T.)

[3] Recusar empréstimos habitacionais para áreas ou bairros considerados de alto risco. (N. do T.)

Publicado por Townhall.com

Tradução de Antônio Emílio Angueth de Araújo

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