quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O menino do MEP

Mídia Sem Máscara

Escorar-se numa religião para recusar a testemunhar sobre os fatos, a bem da verdade, transformou o que seria uma vítima em um cúmplice. Não do assédio indecoroso, claro, mas da ocultação do malfeito.

Penso que um dos momentos culminantes do ano político que se encerra foram os artigos de César Benjamin escritos para a Folha de S. Paulo, que tiveram o condão de lançar luz sobre acontecimentos ilustrativos do caráter de Lula, um verdadeiro contraponto à abjeta edificação de sua imagem messiânica a partir do filme falsamente biográfico que entrou em cartaz. Benjamin abriu um debate público que ainda está em curso. Sublinho aqui o fecho de seu segundo artigo:

"Reitero: o que escrevi está além da política. Recuso-me a pensar o nosso país enquadrado pela lógica da disputa eleitoral entre PT e PSDB. Mas, se quiserem privilegiar uma leitura política, que também é legítima, vejam o texto como um alerta contra a banalização do culto à personalidade com os instrumentos de poder da República. O imaginário nacional não pode ser sequestrado por ninguém, muito menos por um governante. Alguns amigos disseram-me que, com o artigo, cometi um ato de imolação. Se isso for verdadeiro, terá sido por uma boa causa".

Palavra que edificariam qualquer biografia, um verdadeiro ato de coragem, pessoal assim com política. Nessa terra de compadrio nadar contra a corrente é gesto raro em política. Se não fosse por outra razão, e apenas por essa, teríamos que aplaudir César Benjamin.

O contraste ficou por conta da manifestação oficial dos acólitos de Lula, especialmente Gilberto Carvalho, que taxou Benjamin de "louco". Qualquer um que peite o poder é louco? Não, o gesto pode significar algo superior, como integridade pessoal, revelando alta diferenciação moral. Os acólitos de Lula, acostumados com a disciplina partidária que os obriga a fazer o culto da personalidade, têm dificuldade de entender tamanho desprendimento.

Outro contraste ficou por conta do "Menino do MEP", a quem a Folha de S. Paulo tentou entrevistar. Ele recusou-se a dar declarações, alegando que não podia mentir. De forma enviesada confirmou os fatos citados por César Benjamin, de que teria sido objeto de tentativa de estupro por parte do presidente Lula, quando dividiam a mesma cela. Na verdade, ao se recusar a dar um depoimento afirmativo João Batista dos Santos - o nome do Menino do MEP - está contando para a sociedade brasileira uma mentira, livrando a cara de um mau caráter. Nem digo que, por ser usufrutuário da bolsa-ditadura, ele tenha medo de perder a boquinha, porque essa está juridicamente assegurada. O fato de aceitá-la mostra que o seu nível moral não difere daquele ostentado pelo antigo companheiro de infortúnio.

Escorar-se numa religião para recusar a testemunhar sobre os fatos, a bem da verdade, transformou o que seria uma vítima em um cúmplice. Não do assédio indecoroso, claro, mas da ocultação do malfeito. O Menino do MEP assim contribuiu para a manutenção da suposta boa imagem que o Filho do Brasil (essa é de lascar!) carrega. Seu depoimento, se confirmasse César Benjamin, seria devastador à imagem messiânica que se constrói do Lula. Calar aqui não exprime neutralidade, exprime uma tomada de posição. Nenhuma religião e nenhuma suposta proteção à família exime João Batista dos Santos das suas obrigações perante os cidadãos brasileiros, enganados por Lula e o PT de forma permanente.

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