Mídia Sem Máscara
Nivaldo Cordeiro | 05 Dezembro 2009
Artigos - Governo do PT
Por ter a biografia que tem esse testemunho é ainda mais potente. Talvez por isso o interesse pelo que diz seja ampliado, pois revela de fato uma tomada de posição que contraria os compromissos de uma vida inteira.César Benjamin vai agora amargar grande rejeição.
Recebi muitos comentários ao meu artigo anterior, no qual explorei os textos de César Benjamin sobre o governo e a pessoa de Lula. Muitos leitores questionaram a afirmação que fiz de que Benjamin teria manifestado uma disposição moral superior ao emitir tais opiniões. Reafirmo o que disse, mesmo considerando os flashes da história de vida do editor. Desde a sua trajetória enquanto guerrilheiro e a longa carreira revolucionária tudo isso eu sei, assim como fatos mais recentes de seus negócios editoriais. E daí?
Todo homem que tenha completado cinqüenta anos não poderá olhar para trás sem contemplar o mergulho nos infernos que é a própria existência, em si um processo de tentativa e erro continuado que nos leva inevitavelmente ao pecado. Não se espera de um vivente que seja puro, mas que, a partir das próprias experiências, depois de ter "experimentado de tudo", que passe a usar o que lhe "convém". A pretensão puritana da vida é descabida e irrealista. Esquece-se da própria condição humana. Não se pode condenar ninguém no altar da própria consciência olhando para trás, mas para frente. É da tomada de consciência dos próprios erros que a maioridade moral acontece.
Inevitável comparar o horizonte de César Benjamin e do próprio Lula. Este último jamais cogitou em criticar sua própria vida e de se perguntar das conseqüências do mal gigante que tem provocado em nosso país. Já César Benjamin, com uma trajetória de vida bem mais heróica, preferiu contemplar o real e partilhar a sua verdade com toda a gente.
Isso para dizer que a tomada de consciência manifestada por César Benjamin foi duplamente corajosa: por ter abraçado o real e por ter vindo a público partilhar dessa visão. Contemplar o real não é brincadeira, exige o despojamento de todas as ilusões e, no caso da realidade política, pode exigir o enorme sacrifício das crenças, das amizades, dos projetos políticos. Mesmo a vida econômica pode ser duramente afetada. A contemplação do real leva necessariamente a uma tomada de posição moral equivalente a uma conversão platônica. A vida desde então nunca mais será a mesma.
O fato de vir a público revela o senso de responsabilidade coletivo do editor, ele que, em larga medida, ajudou a construir o monstro que aí está. Por isso percebo como muito importante o seu testemunho, o relato dos fatos presenciados e a denúncia dos enormes perigos que estão latentes. Por ter a biografia que tem esse testemunho é ainda mais potente. Talvez por isso o interesse pelo que diz seja ampliado, pois revela de fato uma tomada de posição que contraria os compromissos de uma vida inteira.
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