segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Veja: uma barriga irresponsável

Mídia Sem Máscara

Aventou-se também o suposto fato de que Marcelo Cavalcante faria delação premiada. Ora, quem quer fazer delação premiada está manifestamente fazendo o caminho de sobreviver, não de se matar. Essa absurda contradição não foi notada pela revista.

Marcelo Cavalcante morreu em 15 de fevereiro e a revista Veja acabou por ser o veículo que sedimentou a versão de que ele teria se suicidado, sem se dar conta das óbvias contradições envolvendo o caso. Veja se encarregou de dar o duplo veredito, legitimando a versão de suicídio e ligando o caso aos escândalos envolvendo o nome da governadora Yeda Crusius. Se eu não achasse que a Veja é uma publicação séria poderia pensar que se tratou de matéria plantada, a mando dos inimigos políticos do PSDB do Rio Grande do Sul, notadamente o PT. A matéria veiculada em 13 de maio passado (O caixa dois do caixa dois) não fez o elementar que consta em manuais de jornalismo, de checar as fontes e ouvir o outro lado, no caso o irmão Marcos Cavalcante. O subtítulo do texto mostra a sua grande fragilidade: "Gravações e um depoimento da empresária Magda Koenigkan lançam uma nova sombra sobre o governo Yeda Crusius". Primeiro, as gravações foram no mínimo suspeitas e enviesadas. Foram feitas pelo amigo de Marcelo Cavalcante, o conhecido lobista Lair Ferst. Eu não ouvi as gravações, mas pelo que veio a público tratou-se de uma armação para enlamear o nome da governadora, então sob fogo cerrado das denúncias do seu vice, Paulo Feijó, e da bancada do PT. Elas foram feitas à revelia de Marcelo.

A revista, em nenhum momento, colocou sob suspeita a forma e a motivação para que o conteúdo dessas fitas - gravações sorrateiras e maquinadas feitas por um falso amigo, em encontros casuais, tratando de boatos que circulam pela assessoria de qualquer candidato - viessem a público. Esse material deveria no mínimo ter sido objeto de reservas quanto à sua honestidade. Quando Marcos Cavalcante me contou que Marcelo morreu pobre e endividado e que durante toda sua vida foi um homem pobre cheguei à conclusão de que ele nunca foi homem da mala de quem quer que seja. Essas personalidades sombrias que transportam malas de dinheiro jamais se esquecem do seu próprio bolso. Marcelo não podia ser agente ativo da corrupção simplesmente porque nunca teve dinheiro. Quando muito serviu de elemento a buscar ou levar alguma quantia, ocasionalmente. Em resumo, era peixe pequeno e, enquanto tal, sequer dispunha de maiores informações de bastidores.

Caberia à revista checar esse fato facilmente constatável e, ao fazê-lo, colocar sob suspeita as bombásticas e falsas revelações que quase contribuíram para o impeachment da governadora Yeda Crusius. A revista Veja, com seu erro, acabou por criar um fato político que muito beneficiou o PT e o vice Paulo Feijó. A matéria publicada tem notório cunho partidarizado.

Em segundo lugar, a revista deu a Magda Koenigkan a credibilidade de que ela não poderia dispor. Ela foi descrita como empresária bem sucedida. A revista de sua propriedade tinha, segundo me foi informado por Marcos Cavalcante, como principal anunciante a Petrobrás, um feudo do PT. Marcos também ignora que o irmão tenha sido procurado pela Justiça para fazer qualquer depoimento, conforme consta na matéria. Em nenhum lugar essa informação foi confirmada. Posteriormente aventou-se também o suposto fato de que Marcelo Cavalcante faria delação premiada. Ora, quem quer fazer delação premiada está manifestamente fazendo o caminho de sobreviver, não de se matar. Essa absurda contradição não foi notada pela revista. Marcos me disse que o irmão não tinha o que delatar.

O fato é que Magda tinha ligações com o PT, via Petrobras, assim como Lair Ferst, que acabou sendo o pivô do grande escândalo contra a governadora Yeda Crusius. As fontes da revista, portanto, eram suspeitas à mínima observação. Veja acabou por servir de escada para que os inimigos políticos de Yeda Crusius armassem um grande circo contra o poder constituído no Rio Grande do Sul.

Se se confirmar a impossibilidade de suicídio será preciso buscar os suspeitos sobre a morte de Marcelo Cavalcante. Qualquer investigação não pode descartar os nomes de Magda Koenigkan e de Lair Ferst, pessoas de sua intimidade e que mantinham estreitos laços com o PT. Veja não atentou para a arapuca em que se meteu.

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