quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Os minaretes suíços e o Islã europeu

Mídia Sem Máscara

Daniel Pipes | 16 Dezembro 2009
Internacional - Europa

Por que, a Igreja Católica e outras estão perguntando, deveriam os cristãos sofrer tais afrontas enquanto os muçulmanos desfrutam de plenos direitos em países historicamente cristãos? O voto suíço se adapta a esse novo espírito.

Qual a importância do recente referendo suíço sobre a proibição da construção de minaretes (pináculos adjacentes às mesquitas de onde são emitidas as chamadas às orações)?

Alguns podem ver a decisão de 57,5 a 42,5 por cento endossando a emenda constitucional como quase inexpressiva. O establishment político se opôs à emenda de forma esmagadora, a proibição provavelmente nunca entrará em vigor. Apenas 53,4 por cento do eleitorado votou, portanto meros 31 por cento de toda a população endossam a proibição. A proibição não aborda as aspirações islamistas e muito menos o terrorismo muçulmano. Ela não tem nenhum impacto sobre a prática do Islã. Não previne a construção de novas mesquitas nem requer que os quatro minaretes da Suíça existentes sejam demolidos.

Também é possível rejeitar o voto como sendo o resultado peculiar da singular democracia direta da Suíça, uma tradição que teve inicio em 1291 e não existe em nenhum outro lugar na Europa. Josef Joffe, o respeitado analista alemão, vê o voto como um retrocesso populista contra a série de humilhações que os suíços tiveram que suportar em anos recentes culminando no sequestro de dois homens de negócios na Líbia e o humilhante pedido de desculpas do presidente da Suíça para conseguir sua liberação.

Entretanto, eu vejo o referendo como consequente e bem além das fronteiras suíças.

Primeiro, ela levanta questões delicadas de reciprocidade nas relações muçulmano-cristãs. Alguns exemplos: Quando a primeira igreja cristã do Qatar, Nossa Senhora do Rosário, foi inaugurada em 2008, não possuía cruz, sino, cúpula, torre ou símbolo. O padre do Rosário, Tom Veneracion, explica sua ausência: "A ideia é a de ser discreto porque não queremos inflamar emoções." E quando os cristãos de Nazlet al-Badraman, uma cidade do Alto Egito, após quatro anos de "negociações laboriosas, suplicação e conflitos com as autoridades" finalmente conseguiram em outubro obter a permissão de restaurar uma torre cambaleante da Igreja Mar-Girgis, uma gangue de aproximadamente 200 muçulmanos atacaram-nos, atirando pedras gritando slogans sectários e islâmicos. A situação dos coptas é tão ruim que eles tiveram que reverter à construção de igrejas secretas.

Por que, a Igreja Católica e outras estão perguntando, deveriam os cristãos sofrer tais afrontas enquanto os muçulmanos desfrutam de plenos direitos em países historicamente cristãos? O voto suíço se adapta a esse novo espírito. Os islamistas, claro, rejeitam essa premissa de paridade; o ministro das Relações Exteriores do Irã Manouchehr Mottaki ameaçou seu colega suíço com "consequências" não específicas sobre o que ele classificou de atos anti-islâmicos, implicitamente intimidando que a proibição dos minaretes se torne uma questão internacional comparável aos tumultos das caricaturas dinamarquesas de 2006.

Segundo, a Europa está numa encruzilhada em relação a sua população muçulmana. Das três principais futuras possibilidades - de todos se entenderem, muçulmanos dominando ou sendo rejeitados - o primeiro é altamente improvável, mas o segundo e o terceiro parecem igualmente possíveis. Nesse contexto, o voto suíço representa uma legitimação potencialmente importante das visões anti-islâmicas. O voto ocasionou apoio através da Europa, sinalizado pela votação on-line patrocinada pela mídia da corrente predominante e por declarações de personalidades proeminentes. Segue uma pequena amostra:

  • França: 49.000 leitores do Le Figaro, por uma margem de 73 a 27 por cento, votariam pela proibição de novos minaretes em seu país. Os 24.000 leitores do L'Express concordaram por uma margem de 86 a12 por cento, com 2 por cento de indecisos. O importante colunista, Ivan Rioufol do Le Figaro, escreveu um artigo intitulado "Homenagem à resistência do povo suíço." O presidente Nicolas Sarkozy foi citado como tendo dito "o povo, na Suíça bem como na França, não quer que seu país mude, que seja desnaturado. Eles querem manter sua identidade."
  • Alemanha: 29.000 leitores do Der Spiegel votaram 76 a 21 por cento, com 2 por cento de indecisos, para proibir os minaretes na Alemanha. 17.000 leitores do Die Welt votaram 82 a 16 em favor do "Sim, eu me sinto constrangido pelos minaretes" sobre "Não, a liberdade de religião está sendo restringida."
  • Espanha: 14.000 leitores do 20 Minutos votaram 93 a 6 por cento em favor da declaração "Positivo, nós precisamos conter a crescente presença da islamização" contra "Negativo, é um obstáculo à integração dos imigrantes." 35.000 leitores do El Mundo responderam com 80 a 20 por cento que eles apóiam uma proibição dos minaretes semelhante à da Suíça.

Embora não seja científica, a assimetria dessas (e outras) pesquisas de opinião, variando entre 73 e 93 por cento das maiorias endossando o referendo suíço, sinalizam que os eleitores suíços representam o crescente sentimento anti-islâmico por toda a Europa. A nova emenda também valida e potencialmente encoraja a resistência à islamização através do continente.

Por essas razões, o voto suíço representa um possível divisor de águas para o islamismo europeu.

Atualização de 9 de dezembro de 2009: Uma pesquisa científica dos belgas patrocinada pelo semanário Le Soir realizado pelo iVOX descobriu que 59,3 por cento da população belga é favorável a uma proibição semelhante à da Suíça a respeito da construção de novos minaretes e 56,7 por cento quer proibir a construção de mesquitas. A pesquisa de opinião de 1.050 pessoas foi realizada de 3 a 5 de dezembro com uma margem de erro de 3 por cento.


Publicado no Jerusalem Post

Original em inglês: Swiss Minarets and European Islam
Tradução: Joseph Skilnik

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