terça-feira, 31 de maio de 2011

47 anos de dor

Mídia Sem Máscara

Javier Andrés Flores | 31 Maio 2011
Notícias Faltantes - Comunismo

Nossa história moderna tem um fantasma terrível e obscuro que se denomina FARC-EP.

Sem saber, Tatiana, uma desmobilizada da Coluna Móvel Teófilo Forero, ingressou no pior dos mundos quando tinha apenas 13 anos. Sua vida mudou de maneira drástica e a liberdade que era o único direito que realmente sentia como seu, lhe foi arrebatada pelas FARC. Vários abortos, trabalho forçado, árduas jornadas abrindo buracos, combates intermináveis, fome, amigos mortos, início de sua vida sexual obrigada, dentre outras tantas vivências a marcaram para sempre. Hoje Tatiana ainda se acorda nas noites, em sua cômoda cama nas instalações do Bem-estar Familiar, lembrando o momento em que o comandante da Teófilo Forero quis lhe tirar o único filho que não ficou em meio das tesouras do aborto, mas seu valor e determinação, do mesmo modo que seu engenho, permitiu que se desmobilizasse e pudesse compartilhar com seu pequeno.

Embora Tatiana possa compartilhar hoje com seu filho, a mãe de Johana Zarate, a menina de 5 anos assassinada por uma bicicleta-bomba das FARC no tradicional bairro Fátima de Bogotá, chora todos os dias por sua pequena. Nesse trágico 25 de janeiro de 2002, as FARC, em mais um de seus insensíveis atos terroristas por conta da ruptura dos diálogos de paz do Caguán, quis se vingar da sociedade colombiana através deste fato, cujo saldo foi uma vida a menos que apenas começava.

Do mesmo modo que estas duas histórias, há centenas ou milhares mais que confirmam a crueldade das FARC durante seus curtos 47 anos de existência. Recordemos, por exemplo, o atentado ao Hotel Pescador em Apartadó, em 27 de fevereiro de 1997, quando a Frente 53 das FARC assassinou dez humildes pessoas e deixou 53 feridos mais que ainda hoje se lembram, dia a dia, de sua trágica experiência. Ou o insólito e doloroso massacre de Bojayá-Chocó, ou o assassinato na via Apartadó-Turbo, onde morreram 25 pessoas queimadas pela Frente 5 das FARC em setembro de 1995, ou o massacre de Tacueyó, em Toribío-Cauca, onde uma frente "dissidente"das FARC assassinou mais de 160 pessoas entre dezembro de 1985 e janeiro de 1986. Ou o atentado ao Clube El Nogal em Bogotá, com um saldo de 36 mortos e mais de 200 feridos, ou o ecocídio que cometem sistematicamente ao explodir os oleodutos petroleiros, ou o seqüestro de milhares de pessoas por pretensões econômicas ou políticas, ou o massacre de Carepa-Antioquia onde morreram 16 camponeses indefesos em agosto de 1995, ou o seqüestro e posterior assassinato dos 11 deputados do Valle, ou as milhares de vítimas por conta da colocação indiscriminada de minas em boa parte do território nacional, ou tantas outras que o espaço não me deixa comentar. Em resumo, esta é a história das FARC, 47 anos de dor, tristeza e sofrimento para o povo colombiano.

As FARC são isso: criminosos, terroristas, seqüestradores, narcotraficantes, mentirosos, assassinos, corruptos, indolentes, subversivos, contrabandistas, desditosos e matadores. Sua história está repleta de momentos dolorosos para o povo colombiano. Não creio que haja um só colombiano que não tenha uma lembrança tormentosa relacionada com as FARC. Nossa história moderna tem um fantasma terrível e obscuro que se denomina FARC-EP.

Seu mito fundacional é uma vasta mentira, revestida de sofismas justificatórios que qualquer estudo comparado sério descartaria por completo. Marquetalia, Río Chiquito, El Pato e Guayabero estiveram esquecidos por culpa das próprias FARC, mas também por uma grande irresponsabilidade do Estado, e hoje sua relação com a população é muito mais tímida do que antes. Não esquecemos que as FARC desde seu começo oficial em 1964, começaram com os atos que hoje chamaríamos de terroristas, sem piedade contra a população civil: o ataque a várias casas camponesas em El Pato Medio deixando 10 camponeses mortos em 1966, o seqüestro maciço de 13 camponeses no Huila em 1970, desaparecidos até esta data, o seqüestro em 1965 de Harold Eder no Cauca, posteriormente assassinado em cativeiro e outros tantos fatos doloroso das FARC.

Isso demonstra com absoluta clareza que a história nos foi mal contada: que as FARC nasceram boas e se corromperam? Mentira! Seus atos criminosos começaram desde a própria origem do agrupamento. Que as FARC são produto das condições sócio-econômicas precárias do país? Mentira! Há sociedades mais pobres sem este tipo de violências. O que certamente podemos asseverar, é que as FARC vieram mudando sistematicamente para lógicas mais criminosas e delinqüenciais, melhorando suas capacidades de dano à população colombiana e se acomodando segundo as conjunturas do país, porém não se pode negar que desde seu início já se via com clareza o aparato repressor e tirano que criaram.

As FARC são uma praga de 47 anos de vida que não têm justificativa nem legitimidade alguma. Nossa realidade está cada vez mais ajustada à presença deste grupo armado ilegal, porém é necessária uma aposta nacional contra o terrorismo de qualquer espécie ou lado porque, se continuam subsistindo grupos sociais que justificam e valorizam sua existência como positivo, será muito difícil chegar a instâncias de verdadeira reconciliação nacional.

Como estas histórias há muitas outras que mostram a realidade permanente das FARC, uma história repleta de mortes, seqüestros, mutilações, massacres, bombas, abortos, narcotráfico e crimes em geral. Suas vítimas são os civis colombianos e estrangeiros, seus próprios membros, recrutados em sua maioria através de mentiras ou com o uso da coação armada, e os soldados da pátria que perderam suas vidas ou algum de seus membros em cumprimento de seu dever castrense.

Concluo com uma frase de Jorge, um avô e camponês do corregimento de Santiago Pérez, município de Planadas-Tolima, muito próximo de Marquetalia, que resume o que as FARC fizeram a toda a nação colombiana. Sem perguntar-lhe nada, Jorge se aproximou de mim e me disse ao ouvido, como sábio camponês, desses que existem sim e vale a pena: "meu povo tem um atraso de 47 anos". Isso são as FARC. Até quando?

Nota explicativa:
Será que o Governo de Juan Manuel Santos está negociando com as FARC de maneira silenciosa? Se é assim, seria bom fazer-lhe três considerações: 1. Os colombianos não estamos dispostos a ceder muito ante um grupo que nos tem causado tanta dor e tristeza. 2. A normatividade internacional impede os indultos e anistias. Será que Alfonso Cano e companhia estão dispostos a pagar alguns anos de prisão no marco da Justiça Transicional? E 3., com que parte das FARC ele está negociando? Olho vivo que pode ser outro vil engano.


Fonte: Blog Kyenyke, Bogotá

Tradução: Graça Salgueiro

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