25/09 - Índios tentarão o apoio da ONU
A verdade sufocada
JB Online
Com discreto apoio do governo, os índios favoráveis à homologação da Reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima, em área contínua vão intensificar a partir de hoje a pressão para que o Supremo Tribunal Federal (STF) mantenha a íntegra do decreto assinado em 2005 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) optaram por três frentes de luta: manifestações dentro da reserva e em Boa Vista, visitas aos ministros do STF para pedir que o decreto não seja alterado e um discurso durante a 6ª Sessão do Fórum Permanente da ONU para Assuntos Indígenas, aberta ontem em Nova York e que deverá se estender até o dia 3 de maio.
Em 2004, depois de sucessivas denúncias contra os interesses econômicos que impediam a demarcação da reserva e em defesa dos índios de Roraima, ela ganhou o Prêmio Reebok pelos direitos humanos, concedido pela Agência de Desenvolvimento e Cooperação Internacional da Noruega (Norad) anualmente a apenas três personalidades internacionais. A premiação ocorreu na mesma sede da ONU onde ela agora deverá fazer a defesa do decreto que será julgado dentro de dois meses pelo STF. Foi também na ONU que surgiu o primeiro ingrediente da crise entre o Exército e o Palácio do Planalto: uma das reclamações do general Augusto Heleno, chefe do Comando Militar da Amazônia, é o fato de o Brasil ter se tornado signatário da resolução prevendo o reconhecimento de tribos indígenas como nação independente.
A crítica à posição do governo brasileiro é o primeiro item da agenda militar contra a área contínua. Os militares temem que, com a saída dos não-índio, a Raposa/Serra do Sol ajude a criar um grande vazio demográfico numa região de fronteira, cuja ocupação seria importante para garantir a soberania do Brasil. Nos dois pronunciamentos que geraram a crise com o Palácio do Planalto – um em São Paulo e outro no Rio –, Heleno atacou a política indigenista do governo e avisou que o Exército, que já se recusara a participar da Operação Upatakon III, da Polícia Federal, é uma instituição a serviço do Estado e não do governo. Suas críticas animaram a ala radical das Forças Armadas, que é contra o governo Lula, e ajudaram a confundir ainda mais uma solução para a reserva. A decisão agora está nas mãos dos ministros do STF que, para alterar o formato da reserva – em área contínua ou em ilhas – terão de anular o decreto e a portaria que homologaram a reserva, ambos já publicados no Diário Oficial da União.
O coordenador do CIR, Dionito José de Souza, estará em Brasília a partir de hoje para visitar o gabinete dos ministros do STF junto com outras lideranças. Ele diz que os índios vão esperar pacificamente a decisão, mas afirma que o CIR – que representa mais de 90% dos 19 mil índios da reserva – não aceitará mudanças no decreto do presidente Lula. O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirma que ao suspender a operação de retirada dos não-índio da reserva, o STF tornou-se co-responsável pela solução, mas tem afirmado que o governo respeitará a decisão judicial.
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