Quarta-feira, Abril 23, 2008
Edição de Artigos de Quarta-feira do Alerta Total http://alertatotal.blogspot.com
Por Arlindo Montenegro
Minha avó materna era descendente direta dos Caetés, pelo que saí com os olhos meio puxados. Acho que esta coisa de índio, reservas e o bolodório todo que se agita nestes dias afirma a incapacidade dos nossos governantes e legisladores para elaborar e executar políticas suficientes para a educação e integração do país, com a redução gradual e continuada das diferenças sociais e econômicas. Acho que esta coisa de separação, que rotula classes sociais, demonstra o desprezo pela população brasileira, em sua maioria absoluta portadora de sangue negro ou índio com outras misturas. A miscigenação nestas paragens é cientificamente comprovada.
Os aborígenes que o Marechal Rondon aconselhava que fossem assistidos de perto pelo estado, já estiveram presentes no congresso nacional, integram Ongs, mobilizam a educação das populações esquecidas pelo poder público, negociam com estrangeiros e até falam inglês antes de falar português, alguns já freqüentam universidades, outros já têm indústrias de beneficiamento de óleos vegetais, já exportam madeiras nobres, já têm aldeias construídas em alvenaria, antenas parabólicas, celulares...
E os mais capazes, os que buscaram e agarraram a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento histórico e econômico, sabem muito bem e declaram alto e bom som que a tal Funai, atrapalha antes de ajudá-los a progredir e ocupar seu lugar como cidadãos, conservando e documentando os traços culturais ancestrais, formadores da língua portuguesa que se fala no Brasil, presentes nas lendas e ensinamentos morais do nosso imaginário, presentes na dieta comum a todos que habitam este solo.
Em vez de utilizar os aborígenes, desprezados como milhões de outros brasileiros, os governantes deveriam sim, utilizar o dinheiro que gastam com estes incapazes da Funai, para construir escolas e postos de saúde nas aldeias, ensinando aos “selvagens” como utilizar as riquezas da terra, como evoluir para um estado civilizado, como participar da construção desta nação, como exercer a cidadania sem estas amarras do rótulo da ingenuidade. Ingênuo é quem acredita que existam aborígenes ingênuos.
O Estado e o Brasil estaria cumprindo seu dever histórico, pagando a dívida do extermínio colonial com a implantação de infra estrutura – vilas com escolas e postos de saúde, máquinas, plantas fabris, técnicos, professores, médicos - para o beneficiamento da produção e da coleta primária, para o desenvolvimento de fazendas coletivas ensinando os brutos a emancipar-se e libertar-se de verdade, porque de fato continuam dependentes como escravos e no mundo atual não existe espaço para viver pelado e sobreviver de caça e pesca.
O contrário é blábláblá que não interessa aos ideais de um Brasil soberano. O mesmo desprezo histórico, os governantes escolheram para os negros, que foram libertados da escravidão sem que lhes fosse garantida a educação e a posse de propriedades para que pudessem evoluir como cidadãos emancipados. Agora querem com ferocidade vingativa e preconceituosa fazer valer um papo de quilombolas, garantindo até a posse de áreas onde foram construídos condomínios na mesma cidade do Rio de Janeiro. É triste e parece piada! Mas de humor destrutivo.
Os negros brasileiros, como os milhões de brancos marginalizados e sobreviventes em áreas específicas do interior e nas periferias das metrópoles e cidades médias, estão mais que cansados de esperar pelas políticas que lhes dêem o espaço digno. Já provaram que podem ser mais que reservas de mão de obra barata. Já provaram, os que puderam superar as limitações impostas, que podem ocupar qualquer posição como militares, nas profissões liberais, destacando-se luminares e líderes com formação cultural superior.
Negros, aborígenes e milhões de favelados, crianças de rua e tantas outras criaturas, anônimas e desesperadas com o avanço da civilização global, são utilizadas pelos governantes que pensam com cabeça de aristocratas; são utilizadas pelos oligarcas que têm patrocinado para esta nação uma sucessão de políticas retrógradas e contrárias à construção da democracia; políticas de integração, espírito cívico nos garantiria a liberdade de crescer e transformar-nos numa verdadeira nação identificada pela soberania pátria e trabalho construtivo. Bastaria que todos fossem vistos como brasileiros, pessoas, trabalhadores, dignos de respeito e dos direitos assegurados pela Constituição que, escamoteada no meio deste vozerio infame, parece mais um livrinho comprado a metro pra enfeitar prateleiras.
Ianomâmi, Caeté, Negro, Tupinambá, Guarani, branco, vermelho, amarelo, pardo, anão ou gigante, são todos brasileiros. E todos têm o direito a educação, saúde, segurança e meios para construir a própria vida com dignidade. Este é o papel requerido do estado: assegurar o cumprimento estrito da Constituição. Este é o papel rejeitado pelos governantes e políticos oportunistas que negociam as riquezas e impedem as Forças Armadas de cumprir seus deveres constitucionais – sem equipamentos, sem salários e até sem verbas para alimentação. Já está demorando muito esta tolerância com os subterfúgios que os políticos de meia tigela escrevinham na contra mão da Constituição para manter este país com a relação de 2 aproveitadores para cada 98 trabalhadores e miseráveis. Que burrice!
O General falou e a nação ouviu. Falta agora organizar-se e agir, para que a fala do General experiente e patriota capaz, possa transformar-se na voz de todos os que como os “selvagens” desprezados em suas aldeias distantes, querem viver com dignidade e certeza dos rumos da construção de uma nação soberana, alegre e comprometida com a construção democrática. Em liberdade e sem esmolas. Em posição de dizer: isto é meu e se você precisa vai pagar o preço justo e não o preço de banana.
Como tem sido o procedimento corrente com as negociatas oficiais e oficiosas com os minérios estratégicos – nióbio, ferro, bauxita – cotados a preço de banana em Londres, onde dizem: é isto que pago! Pela soja, pelo frango, pela carne, por todos os alimentos que produzimos para o mundo. Podemos ser o celeiro do mundo produzindo tudo quanto eles precisam no hemisfério norte. As políticas que eles, associados aos nossos governantes lenientes e corruptos, impõem, conservando o protecionismo que significa trocando em miúdos: pago o que quero pelo que vocês têm e vocês pagam o que eu quero pelo que transformo em mercadoria.
Arlindo Montenegro é Apicultor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário