quarta-feira, 30 de abril de 2008

O país dos absurdos e da hipocrisia

por João Luiz Mauad em 29 de abril de 2008

Resumo: A lógica do governo é impressionante: o maior prejudicado pelos crimes que comete, claro, é o criminoso. Desde que, evidentemente, não logre êxito e seja apanhado.

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CAMISINHABRÁS

Leio no jornal que acaba de entrar em operação, nos confins de Xapuri – AC, uma fábrica de preservativos estatal, gerenciada pelo governo do estado e financiada pelo governo federal. Criada com o objetivo de absorver a produção de látex natural da região, a fábrica terá um só cliente, o Ministério da Saúde. Certamente, Pindorama deve ser o único país dito capitalista do mundo a ter uma indústria de camisinhas (um produto altamente estratégico) estatal.

Isso só pode ser fruto da inveja atávica dos comunas ao lucro capitalista. Não há outra explicação.

SOFISMAS, SOFISMAS, SOFISMAS

Dia desses, tanto Lula quanto Dilma diziam, em alto e bom som, que não fazia sentido acusar o governo pelo tal dossiê, apelidado pela oposição infame de “Aloprados II – O Retorno” – afinal, o maior prejudicado por ele seria o próprio governo. Não é ótimo? Alguém precisava dizer a essa gente que o maior prejudicado por um crime de roubo é o próprio ladrão; o maior prejudicado por um crime de extorsão é o próprio extorcionário; o maior prejudicado por um crime de chantagem é o próprio chantagista. Desde que, evidentemente, não logrem êxito e sejam apanhados.

Mas, como no Brasil as coisas óbvias não costumam ser ditas, mais uma vez ficará o dito pelo não dito.

BOLSA-DITADURA

Em solenidade ocorrida nos salões da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o Estado brasileiro acaba de produzir, com o dinheiro dos contribuintes, mais uma “fornada” de indenizações a “perseguidos políticos da ditadura”. Desta vez, foram agraciados com pensões médias de R$ 4.300, mais indenizações médias de R$ 1 milhão, uma penca de jornalistas – muitos dos quais fizeram fortuna maldizendo a ditadura, como os próceres do finado Pasquim, Jaguar e Ziraldo.

Este último, por sinal, teve a pachorra de enviar carta ao jornal O Globo, onde “explica” que não pleiteou nada; que tudo foi feito pelos advogados da ABI e que só aceitaria a bufunfa porque a considera uma complementação de sua pobre aposentadoria do INSS.

E, por falar em Bolsa-Ditadura, vale destacar uma nota do colunista Elio Gaspari sobre a indigitada, que demonstra o verdadeiro roubo em que se transformou a coisa:

“Em 1952, a Alemanha negociou um acordo com o governo de Israel e se comprometeu a pagar 3 bilhões de marcos (US$ 5,8 bilhões em dinheiro de hoje) como reparação pelo que o nazismo fez aos judeus. O Bolsa-Ditadura já custou à Viúva US$ 1,5 bilhão”.

Ora, o número de mortos do nazismo está estimado em 6 milhões, enquanto o da ditadura brasileira é de aproximadamente 400 indivíduos. A desproporção é tão gritante que chega às raias do escárnio.

Eu só queria saber onde está, nestas horas, o diligente Ministério Público.

HIPOCRISIA NACIONALISTA

Recentemente, o país festejou a boa notícia de que a empresa de aviação norte-americana Jet Blue está pretendendo instalar-se por aqui. O incremento da concorrência, num setor extremamente concentrado, é uma notícia realmente alvissareira.

O que pouca gente sabe – ou se deu conta – é de um pequenino detalhe, que fez toda a diferença neste caso. Explico: como o transporte aéreo doméstico é uma “concessão de serviço público”, o setor está sujeito aos ditames de uma legislação tão nacionalista quanto retrógrada, que proíbe, dentre outras coisas, a operação de empresas aéreas com capital estrangeiro superior a 30%.

No caso da Jet Blue, o investimento só será possível porque o dono da empresa, por um detalhe do destino, nasceu em solo brasileiro, mais precisamente no Rio de Janeiro.

Não há exemplo mais claro de como é hipócrita e imbecil o nacionalismo econômico. O sujeito é filho de americanos, morou a vida toda nos Estados Unidos, lá estudou, trabalhou, constituiu família e construiu fortuna. Não fosse um mero detalhe, que lhe permitiu gozar de uma oportuna dupla nacionalidade, nada disso seria possível.

Sabem como é, o dinheiro do sujeito só é bem-vindo porque ele nasceu dentro das fronteiras tupiniquins. Torna-se, assim, um homem confiável, que não irá atentar contra a soberania ou a segurança nacionais. É mole, ou quer mais?

AUTO-SUFICIÊNCIA?

Mais uma queda no famigerado superávit comercial e as donzelas desenvolvimentistas já começam mais um festival das carpideiras, como se o mundo estivesse prestes a explodir, vítima de um cometa desgovernado. Mas não é disso que quero falar.

Lembram-se da pantomima da auto-suficiência? Aquela, montada pelos áulicos petistas, com direito a presidente com as mãos sujas de óleo e discursos de enaltecimento à rainha das estatais? Pois é! Leio no jornal “Valor Econômico” que nada menos que 20% do aumento verificado nas importações, este ano, veio da conta petróleo. Ano passado, aquela conta fechou com um déficit de US$ 6 bilhões e, em 2008, o mesmo já está próximo dos US$ 3 bilhões.

Como aqueles que me acompanham há mais tempo podem atestar, a mentira tem pernas curtas e a realidade acabou dando razão a este humilde escriba.

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