Domingo, Abril 27, 2008
As idéias no lugar certo em favor do Brasil
Edição de Artigos de Domingo do Alerta Total http://alertatotal.blogspot.com
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Por Jorge Serrão e Arlindo Montenegro
No Brasil, a empolada intelectualidade tem a mania de copiar idéias, ideologias ou ideocracias de fora, dificilmente aplicáveis a nossa realidade. Adoram arrotar seus conhecimentos de javanês – como bem denunciou Lima Barreto no começo do século passado. O culto e a prática fundamentalista de equivocados conceitos, mecanismos e métodos dificultam ou impedem soluções objetivas e viáveis para a Nação.
Nossos “pensadores”, com raras exceções, detestam, têm vergonha ou simplesmente não sabem ou querem “pensar o Brasil”. A classe política e os partidos, com programas exóticos, nunca formularam um projeto para o Brasil, baseado nos princípios cívicos e patrióticos. Alguns sentem até vergonha de defender tal proposta. Outros, arrotando falsa erudição, são ainda mais radicais no comportamento inferior de colonizado intelectual que abre mão de pensar e propor saídas para seu próprio país.
Felizmente, temos exceções de acadêmicos que dedicam sua vida profissional a pensar o Brasil. Uma delas é uma sábia senhora estudiosa de geografia. Com a vivência de seus setenta e quatro anos, a professora Berta Becker tem estudos e conceitos precisos que podem ajudar o cidadão brasileiro a trilhar um caminho digno, civilizatório, patriota e fraterno.
A geógrafa Berta Becker, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Não leciona mais. Integra o conselho de projetos especiais, como o Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, liderado pela Nasa. Aos 74 anos, viaja pelo Brasil e pelo mundo fazendo palestras para todos os públicos, "de governantes até bispos e estudantes".
Ainda hoje, há quem veja em cada conflito social uma ameaça à ordem constituída. A solução que os governantes utilizam é o desprezo à ordem pública ou a utilização banal da repressão da polícia para resolver questões sociais, que são políticas e não de polícia. Existem também os que, não sentindo a ação de instrumentos de controle da ordem pública, sonham com a volta dos Generais ao poder.
A Amazônia tem sido o objeto de cobiça internacional e os controladores do mundo já trabalham naquele território há muito tempo, propondo soluções de internacionalização e mesmo de criação de territórios livres em mãos de etnias já trabalhadas por ONGs e missionários bondosos.
As questões ambientais têm sido objeto da atenção da comunidade científica internacional. Nas últimas décadas a Amazônia brasileira conheceu as maiores taxas de crescimento urbano. Apesar disto, as taxas são ainda baixas demais para a necessidade de ocupação racional desta estratégica região do planeta, que pertence ao Brasil em sua parte mais significativa.
A Dra. Becker nos dá uma aula magna:
“A diversificação das atividades econômicas e as mudanças populacionais resultantes, reestruturaram e reorganizaram a rede de assentamentos humanos na região. A visão da Amazônia no início do século 21 apresenta padrões e arranjos espaciais de uma Amazônia diferente: em meio a floresta tropical um tecido urbano complexo se estruturou, levando a criação e o uso do termo "floresta urbanizada" pelos pesquisadores que estudam e acompanham o processo de ocupação da região” (Becker, 1995).
Em entrevista concedida em 2005, ensinou textualmente:
“Preservação é diferente de conservação. Preservar é não tocar, é deixar como está. Conservação é utilizar sem destruir. E eu prefiro a conservação com inclusão, acredito piamente no uso não-destrutivo do patrimônio natural de modo a gerar trabalho e renda sem deteriorá-lo.”
Berta Becker adverte: “A região amazônica, primeiramente, não pode ser encarada como algo único. É um caldeirão de diferenças sociais, é grande e diversa. Mas uma coisa é comum: o nível de aspirações se elevou enormemente para todos os atores sociais daquela região, desde empresários, agricultores e governos, até ribeirinhos, índios e pequenos produtores agrícolas. Todo mundo quer se desenvolver, é um caminho sem volta. Acabou a fase de ocupação pura e simples. É urgente a concepção de uma política de consolidação do desenvolvimento.”
A Dra. Berta Becker também faz uma séria advertência teórico-operacional que
desmancha com o cinismo contido nas tradicionais propostas de reforma agrária,
que incendeiam o país desde as velhas Ligas Camponesas de Francisco Julião até o
MST e seus anexos terroristas comandados pelo fundamentalista João
Pedro Stédile: “O modelo tradicional de assentamento rural, aquele em que cada
família ganha um pedaço de terra para trabalhar isoladamente, não funciona na
Amazônia. É obsoleto e não atende nem às necessidades ambientais nem ao povo
da região.”
A professora Becker demonstra a fragilidade estrutural do romântico conceito de agricultura familiar: “É uma atitude perversa pegar um monte de gente vulnerável, despreparada, e mandar para uma região sem estradas, sem infra-estrutura, sem informação, sem nada. É por essa razão que a evasão dos assentados ao redor de Santarém, no Pará, chegou a 70%. Não é porque exista má vontade ou preguiça dos assentados, mas sim porque não dá para produzir desse jeito, não dá para trabalhar no meio do nada, de forma isolada. Até agora o governo não deu o apoio necessário e não vai dar, simplesmente porque não é possível em termos operacionais.”
Berta faz a crítica e aponta solução: “Eu tenho uma proposta polêmica, mas que, na minha cabeça, depois de tudo o que eu já vi, faz todo o sentido. Proponho que sejam implementadas grandes fazendas de colonos, num esquema cooperativo, para possibilitar produção em escala. Em vez de colocar cada assentado num pedaço pequeno, em que ele só poderá utilizar 20% da área, conforme a legislação ambiental, será melhor partir para unidades maiores, exploradas cooperativamente. Numa grande propriedade, usar 20% da área permitirá uma grande produção, muitas vezes maior do que se fossem utilizados os pedacinhos de cada assentamento individual Além disso, esse modelo facilita a organização de infra-estrutura, ao criar um pequeno pólo populacional com luz, esgoto, escola e apoio técnico. Não se deve dar o título de propriedade da terra, pelo menos por um tempo, mas apenas garantir a concessão.”
Com essa proposta, não estaria, em parte substancial, resolvido o problema da produção de alimentos para o mundo? A resposta é óbvia. No entanto, os interesses transnacionais que dominam a indústria de produção de alimentos não permitem que propostas deste calibre sejam implementadas no celeiro natural do mundo que é o Brasil. Além da sabotagem externa, sofremos da miopia produtiva interna, em que os tradicionais produtores também têm dificuldade em se associar para produzir mais e melhor com menores custos. A tudo isso se somam os sabotadores e terroristas da agroprodução no Brasil.
A Dra. Berta Becker demonstra como operam estes sabotadores, que se escondem sobre as “bem-intencionadas” ONGs. A pesquisadora descreve com precisão o que acontece na Amazônia:
“Acredito que precisamos sempre prestar atenção ao papel dessas organizações no que diz respeito à geopolítica. Algumas entidades, muitas delas bastante fortes e representativas de interesses internacionais, fazem de certa forma um jogo anti-Estado. Elas pregam um pouco a tese de que o Estado diminuiu e que são elas que precisam ocupar o espaço deixado, como as salvadoras da pátria.”
A Professora aprofunda a crítica: “Na verdade não foi nada disso. Os Estados não acabaram, estão aí definindo políticas e muitos deles têm braços que apóiam aberta ou secretamente as grandes ONGs e organismos multilaterais, para financiar políticas em outros países em desenvolvimento. As ONGs acabam sendo ferramentas de influência direta de alguns governos sobre outros. Também chamo a atenção para o fato de que muitas vezes são essas organizações e organismos que ditam a agenda de discussão. E quem define a agenda tem o poder, porque o que entra em discussão pode ser definido e o que não entra não tem nem chance. São as regras do jogo.”
Pelo que nos ensina Berta Becker, não vale a pena jogar o jogo no cassino do Al Capone. Nós, brasileiros, vamos sempre sair perdendo. Por isso, precisamos “Pensar Brasil”. E com idéias, conceitos e mecanismos no lugar certo.
Arlindo Montenegro é Apicultor e Jorge Serrão é sopa no mel.
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