segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Não há preços para a retórica política

Mídia sem Máscara

5 dezembro 2008
Editorias - Cultura, Economia, Estados Unidos, Política

Não seria maravilhoso viver num mundo em que preços não existissem?

Se você acaso desejasse um Rolex ou um Rolls-Royce, você poderia ter um – ou dois se você quisesse – e não teria de se preocupar com coisinhas feias tais como etiquetas de preços.

Há tal mundo. É o mundo da retórica política. Não admira que tantas pessoas sejam atraídas para esse mundo. Seria um fabuloso lugar para se viver.

Depois de Arthur Goldberg ter sido juiz da Suprema Corte, ele lamentou que outros problemas da sociedade não pudessem ser tratados como os que chegavam naquela corte – alcança-se uma decisão a respeito e, então, emite-se a declaração: “Cumpra-se.”

A política oferece algo similar. Teoricamente, decisões políticas são limitadas por orçamentos. Mas, para muitos políticos experientes, esses limites são, na maior parte, teóricos.

Orçamentos governamentais, afinal, são apenas projeções do que se espera que aconteçam, não um registro puro e simples do que aconteceu. E, raramente, o público ou a mídia farão uma coisa tão má quanto comparar o que o orçamento dizia que iria acontecer com o que realmente aconteceu.

Além do mais, os políticos podem colocar grandes gastos “fora do orçamento” por muitas “nobres” razões. E se você tiver longa experiência com o uso da retórica política, nada é mais fácil que criar “nobres” razões.

Se você pudesse colocá-la “fora do orçamento”, você não compraria uma segunda casa na praia ou talvez um iate para velejar? Por que não curtir a vida um pouco – ou muito?

Os políticos têm muito mais formas de escapar dos preços do que Houdini [1] tinha de escapar dos cadeados. Quando políticos espertos querem nos oferecer alguma benesse, mas não querem assumir a responsabilidade de elevarem os impostos para pagar por ela, eles oneram pessoas que não podem votar – ou seja, a próxima geração – conseguindo dinheiro através da venda de títulos do governo que os futuros contribuintes terão de resgatar.

Mesmo esses gastos deficitários deixam, contudo, um rastro – uma dívida interna que é o espírito do Natal passado.[2] Mas os políticos podem, mesmo assim, se safar disto.

A forma mais indolor de os políticos distribuírem benesses, sem assumirem a responsabilidade por seus custos, é criar uma lei dizendo que alguém deve suprir e pagar por tais benesses, enquanto eles levam o crédito pela generosidade e compaixão.

Os empregadores são alvos preferenciais para tais funções, pois há sempre mais empregados que empregadores, e isso é o que conta no dia da eleição. Quer seja um plano de saúde, quer sejam folgas remuneradas, tais exigências sobre os empregadores podem ser justificadas com um pouco de retórica sobre as “responsabilidades sociais” dos empresários.

Não se fala da origem dessas “responsabilidades sociais”. Elas soam bem, e isso é o suficiente para a política.

Algumas pessoas podem ir embora raivosas por serem ignoradas. Custos não são assim. Você pode ignorá-los o quanto for, e eles não irão embora.

Enquanto está curtindo todas as benesses que os políticos estão lhe enviando, você pode notar que seus impostos estão subindo ou que seu salário, ou sua poupança, não compra tantas coisas quanto antigamente.

Os custos que são impingidos nos empresários podem estar sendo repassados aos consumidores na forma de preços mais altos. O próprio dinheiro que o governo imprime para gastar reduz o valor do dinheiro em sua carteira ou na sua conta bancária.

Se você é alguém à procura de emprego – talvez um jovem entrando no mercado de trabalho ou uma mulher de volta a ele depois de alguns anos cuidando de um filho pequeno – você pode descobrir que não há muitos empregos disponíveis como costumava haver, antes de os empregadores serem obrigados a pagar por “responsabilidades sociais” (além de pagar pelo valor do trabalho do empregado).

Tempos desesperados podem exigir medidas desesperadas. Assim, você tentará descobrir por meio de algum economista o que está errado. Você pode não conseguir melhor explicação que a de que “Não há almoço de graça” – que é uma das muitas razões por que economistas não são figuras populares.

Mas, não há realmente almoço de graça, exceto no mundo da retórica política, um mundo em que muitos querem estar, em que se pode brincar de Papai Noel sem sequer pagar pelo custo da fantasia.

[1] Um dos mais famosos mágicos americanos de todos os tempos. Sempre usado por Sowell quando este fala das mágicas propostas pelos políticos. (N. do T.)

[2] Esta expressão se refere ao personagem de Charles Dickens, The Ghost of Christmas Yet to Come [O Espírito do Natal Vindouro], que assombrava o pão-duro Ebenezer Scrooge, na obra Christimas Carol, com as conseqüências futuras no além, caso ele não fosse menos sovina nesta vida. (N. do T.)

Publicado por Townhall.com

Tradução Antônio Emílio Angueth de Araújo

Autor: Thomas Sowell

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