segunda-feira, 27 de abril de 2009

A Carta marcada de Mino Carta

Mídia Sem Máscara

Pois não é que a Carta Capital resolveu fazer eco à falta de decoro com que o ministro Joaquim Barbosa tem denegrido o Supremo Tribunal Federal, com sua renitente mania de bater boca com seus colegas da instância maior do poder Judiciário?

Pelo menos desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, a revista Carta Capital se tornou uma revista totalmente descartável, por ter se transformado numa carta vendida ao capital lulo-petista, capital acumulado de maneira que o leitor bem conhece. No entanto, a edição de número 543, que ora se encontra nas bancas, conseguiu superar todos os padrões do jornalismo marrom brasileiro e olhe que o país é pródigo no gênero.

Pois não é que a Carta Capital resolveu fazer eco à falta de decoro com que o ministro Joaquim Barbosa tem denegrido o Supremo Tribunal Federal, com sua renitente mania de bater boca com seus colegas da instância maior do poder Judiciário? Suprimindo qualquer distinção entre o papel da imprensa e aquele que se usa na privada, uma reportagem intitulada “Barbosa Reage” simplesmente esquece o que qualquer reportagem deve ter de informativo para se transformar em louvação do exaltado ministro, bem como em execração ao presidente do STF, ministro Gilmar Mendes.

Estou exagerando? Basta ler o “abre” da reportagem para concordar comigo: “Não houve aplausos nem discursos. Na quinta-feira 23, data em que o ministro Gilmar Mendes completou um ano na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), o plenário da Corte ficou vazio. As sessões, assim como as demais atividades do dia, acabaram canceladas. Reinou o silêncio, a traduzir a fratura institucional do STF finalmente exposta, no dia anterior, pelo ministro Joaquim Barbosa”.

O parágrafo é uma pérola da manipulação dos fatos, pois induz a crer que, não fosse por ter Gilmar Mendes no cargo, o Supremo estaria repleto de gente no plenário cantando parabéns a você ao seu presidente quando este completasse seu primeiro ano de mandado. Não creio que tal comemoração acontecesse, qualquer que fosse o presidente da Corte, a menos que ele não tivesse nem um pingo de espírito republicano e resolvesse transformar a sede do STF na casa da mãe Joana, onde o ocupante de um cargo presidencial pode se sobrepor à Instituição que preside e comandar festinhas em homenagem própria.

Quanto a “Reinou o silêncio a traduzir uma fratura institucional” é – escancaradamente – uma frase composta de figuras de linguagem, cuja intenção é persuadir, de modo subliminar, pela emoção. Não tem nem pode ter nenhum fundamento nos fatos, em especial diante da nota publicada e assinada por oito ministros da Corte, em que estes reafirmam sua “confiança e o respeito ao senhor ministro Gilmar Mendes na sua atuação institucional como presidente do Supremo, lamentando o episódio ocorrido nesta data”.

Assim como a antipatia a Henrique Meirelles, cuja demissão do BC a revista já noticiou em capa uma vez pelo menos, embora ela não tenha acontecido até o momento, a antipatia da Carta Capital por Gilmar Mendes não tem cunho jornalístico. Além de serviços prestados ao poder Executivo, trata-se provavelmente de uma antipatia pessoal de seu capo, il vecchio Mino Carta, jornalista que, a exemplo da saudosa Dercy Gonçalves, tem se despedido definitivamente de seu público numa semana para tornar a saudá-lo com novos e disparatados artigos na semana seguinte.

Enfim, as birras de Carta Capital dessa semana não se encontram somente na matéria principal, mas também em textos menores como o intitulado “A semana Severina de Gabeira”, em que a revista se congratula com Severino Cavalcanti, sem dúvida um injustiçado gigante moral do mui respeitável Congresso nacional, e se deleita com o fato de Fernando Gabeira ter sido atingido pelo escândalo das passagens aéreas.

Que Gabeira não é o que aparenta ser, quem é mais esclarecido já sabe. Mas, ao apresentar Gabeira como “porta-voz da indignação seletiva dos freqüentadores dos calçadões da zona sul carioca e das ruas arborizadas de São Paulo” (numa das quais, por sinal, fica a redação da própria Carta), a revista entrega sua visão classista e preconceituosa e coloca-se no papel de porta-voz dos freqüentadores do número 132 da rua Silveira Martins, no centro de São Paulo, onde, para quem não sabe, funciona o Diretório Nacional do PT.


http://observatoriodepiratininga.blogspot.com

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