terça-feira, 21 de abril de 2009

Reflexões sobre aborto e democracia

Mídia Sem Máscara

Se há um direito ao aborto, há também um direito ao assassinato, já que, entre aborto e assassinato, a única diferença é a idade e a vulnerabilidade da vítima.

Nunca é demais elogiar a coragem do papa Bento XVI na defesa dos valores da Igreja, particularmente no que se refere às suas posições quanto ao uso da camisinha, o que o tem indisposto junto à imensa maioria dos chamados formadores de opinião que pontificam nos meios de comunicação do mundo inteiro.

Trata-se de coragem idêntica à demonstrada por dom José Cardoso Sobrinho, no caso da menina violentada pelo padrasto, que foi "convencida" a abortar pelo aparato da saúde pública de Pernambuco. Dom José merece ainda mais admiração e solidariedade agora que o Partido da Causa Operária o criticou num artigo furioso, intitulado "Homenagem por perseguir os direitos das mulheres e defender o estupro", depois que o bispo foi agraciado com o prêmio Cardeal Von Galen, da Human Life International, por sua atuação no caso.

A retórica desse agrupamento mafioso, que se pretende um partido político, é verdadeiramente impressionante, a começar do próprio nome da, por assim dizer, instituição. Para haver uma causa operária digna desse nome seria necessário, antes de mais nada, que essa suposta causa fosse estabelecida pelos próprios operários e não por um bando de estudantes e pseudointelectuais de classe média que se arroga ao papel de porta-voz de quem não lhe deu procuração para tal.

O título do artigo também não passa de um amontoado de sofismas: para começar, inexiste qualquer perseguição, no sentido lato ou estrito da palavra. Em segundo lugar, dom José condenou o aborto, jamais defendeu o estupro (nem poderia fazê-lo, é evidente, na sua condição de sacerdote). Por fim, os tais direitos das mulheres, no caso, se restringem a um único direito, o direito ao aborto. É somente este suposto direito que está em questão no episódio.

Para mim, é cada vez mais difícil de acreditar que se possa falar em direito ao aborto. Se há um direito ao aborto, há também um direito ao assassinato, já que, entre aborto e assassinato, a única diferença é a idade e a vulnerabilidade da vítima.

Em nossa civilização, que dispõe de avançados recursos tecnológicos, é fácil disfarçar uma prática assassina e torná-la aceitável aos olhos de uma opinião pública que não veria da mesma maneira, por exemplo, a “exposição aos deuses” dos antigos gregos e romanos, isto é, a prática de se livrar da responsabilidade pelos recém nascidos, abandonando-os à própria sorte num lugar ermo – quando não jogando-os para morrer na cloaca máxima.

Considerar o embrião e o feto como simples objetos inanimados, como fazem os defensores do aborto, é simplesmente recusar-se à compreensão do que é vida – fenômeno que é tão biológico quanto metafísico. Aliás, um dos estratagemas dos abortistas é escamotear a discussão honesta e abrangente sobre o que é vida, recorrendo a subterfúgios fisiológicos, impregnados do materialismo mais mesquinho, segundo o qual, em última análise, todos nós não passamos de um punhado de genes impulsionados por determinismos a gosto do freguês.

Quem acusa a Igreja de ser inflexível e reacionária no tocante ao aborto não faz algumas considerações muito simples. Creio que ordenamentos, tanto morais quanto jurídicos, para serem abrangentes e inequívocos, têm de ser genéricos e categóricos. Ao instituir uma proibição, a lei não pode e não deve privilegiar os atenuantes e abrir, a priori, caminho para ser desobedecida, sob pena de transformar-se em letra morta ou em paródia de lei.

Por sinal, de normas paródicas, com resultados trágicos, pululam exemplos na legislação penal brasileira em que um ator assassina uma colega de trabalho, com dezessete tesouradas, cumpre uma pena de sete anos e está quite com a sociedade (que sociedade é essa?) e uma legião de assassinos se esconde sobre o argumento da menoridade.

Ainda em defesa do aborto, argumenta-se que nenhuma mulher pratica o aborto por esporte ou que cada caso é um caso. Que cada caso é um caso é indiscutível, trata-se de um truísmo, mas isso está previsto por uma Igreja acolhedora, para a qual não existe pecado sem perdão. Quanto a não se praticar aborto por esporte, claro, ninguém está prejulgando as mulheres que recorrem ao aborto, mas o que as leis da Igreja visam é que não se venha a praticar o aborto por esporte e, no ritmo em que andam nossos costumes, a lassidão moral de nossa sociedade, isso não é uma coisa tão assegurada assim.

Desde a tal revolução dos costumes dos anos 60, nossa sociedade estimula a prática sexual descomprometida, irresponsável, que põe o desejo acima do objeto do desejo, que põe a nossa condição sexual acima de nossa condição humana. Faça sexo, troque de parceiros, quanto mais parceiros melhor, você pode e deve descartá-los, não há nada que lhe impeça disso. Tudo é permitido. É no contexto dessa permissividade, dessa descartabilidade, desse modo leviano de encarar a vida que o aborto se afigura como inimputável.

Entendo que o aborto é um pecado não tanto por ofender o “Não matarás”, quanto por atentar contra o primeiro mandamento, o mandamento maior do amor, o “amai-vos uns aos outros”, o “ama ao próximo como a ti mesmo”. A defesa da licitude do aborto se coloca num contexto social que valoriza o sexo sem compromisso e sem amor, que preconiza o sexo objetificado e sem sujeito.

Minha intenção, porém, não é conceituar a vida e nem sequer discutir o aborto ao qual, como católico, me oponho. É antes mostrar que engolir essa conversa fiada de que o Papa e dom José se encontram em plena Idade Média, que não reconhecem direitos óbvios dos seres humanos e das mulheres em particular, etc. etc. é se deixar manipular por organizações do calibre do Partido da Causa Operária. E chamar atenção para o fato de o PCO defeder a causa abortista.

A defesa do aborto pode parecer com a defesa de eventuais direitos das mulheres, aos direitos individuais, vinculados ao universo da democracia. Mas, se fosse assim, por que o PCO defenderia esses direitos? Como se sabe, comunistas desse calibre só defendem propostas cuja finalidade se identifique com seu supremo objetivo revolucionário (que pode ser traduzido em duas palavras: terror vermelho). Afinal, de acordo com o artigo terceiro dos estatutos partidários:

“As bases programáticas do PCO - sobre as quais se estrutura o programa e a organização partidária - são o Manifesto Comunista escrito por Karl Marx e Friedrich Engels em 1848, o conjunto das resoluções dos quatro primeiros congressos da III Internacional e o Programa de Transição da IV Internacional, escrito por León Trotski.”

Ou seja, a defesa do aborto não se identifica necessariamente com a defesa da democracia e da liberdade individual e, nesse sentido, é estrategicamente promovida pela esquerda - light ou totalitária - para solapar as relações familiares, os valores morais e religiosos, as estruturas sociais da civilização ocidental (judaico-cristã) e a democracia que não só nela floresceu, mas que só nela pode florescer. É preciso estar atento a isso: ser a favor do aborto é abrir caminho para projetos sociais antidemocráticos, para os quais a vida individual nada significa.

http://observatoriodepiratininga.blogspot.com

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