quinta-feira, 2 de julho de 2009

Um mundinho visto por cifras

Mídia Sem Máscara

Curiosamente, Ayn Rand se tornou popular nos EUA, por conta dessa estranha filosofia. Gente como o economista e Presidente do Branco Central Americano Alan Greenspan é fã de carteirinha da romancista. Isso se explica, em parte, porque é uma visão simplória, vazia de conteúdo, típica de comerciantes que dão opiniões sobre coisas que não entendem. Daí acharem que o todo das relações humanas se resume ao seu estreito horizonte comercial.

Recentemente acompanhei o vídeo da "filósofa" Ayn Rand, queridinha dos liberais e "libertários" de plantão de nosso país, quando ela deu uma entrevista a um jornalista de um programa muito popular nos EUA, Mike Wallace, por volta dos anos 50 do século passado. Não vou me ater aos seus livros, porque não os li. Atenho-me tão somente à sua entrevista e à visão de seus admiradores, criaturas doentiamente egocêntricas e paranóicas, na figura de sua mestra romancista.

O mote da questão é a pseudo-ética individualista, ou "objetivista" da romancista: ela afirma categoricamente que a realidade é um "objetivo absoluto". O problema desta questão é que significa tão somente uma redundância, porque Ayn Rand considera "objetivo", basicamente, a realidade material visível, e, portanto, faz de sua filosofia um culto materialista. Para ela, não existe uma realidade espiritual. Se não bastasse o primarismo dessa filosofia, que não passa de uma forma vulgar de materialismo, a escritora sacraliza a razão como a única forma de conhecimento possível. E através desta premissa, ela se presta a criar um novo código moral para a sociedade. É paradoxal que ela reitere isso com a rejeição completa da fé (e isso se subtende a fé em Deus ou na religião), do mesmo modo que alimente uma idolatria quase divinizadora pela razão. O problema é como essa "razão" se apresenta: é uma visão utilitarista da sociedade e do indivíduo, cujos laços não implicam afetividade e obrigações superiores, mas apenas interesses. O paradoxo é a dona Ayn Rand querer provar que os "interesses" podem ser explicados logicamente por si mesmos. Como o princípio motriz para ela é o indivíduos e os os caprichos, logo, é "racional" que ele seja egoísta e só ligue para os vizinhos quando são úteis. Ela diz desafiar a moral cristã do altruísmo, rejeitando qualquer princípio ético ou moral que obrigue um ser humano a ajudar o outro. Casou com a esposa e ela é um estorvo? Jogue fora a mulher! Os pais estão velhos e inúteis? Dispense-os e mande-os para um asilo! Os amigos estão com problemas? Abandone-os à própria sorte! Viu o mendigo passando fome na rua e pedindo esmola? Despeje-o na lata do lixo! Essa é a maravilhosa "filosofia" da senhora "objetivista".

E ela insiste na "razão" como um "absoluto". O problema deste discurso é o chavão iluminista que está por trás disso. Não é por acaso que um de seus mais famosos admiradores, o Sr. Rodrigo Constantino, cidadão pertencente ao Instituto Liberal, tenha escrito um livro de conteúdo duvidoso chamado "Egoísmo racional" e repita freneticamente um racionalismo que é incapaz de entender e provar. Não sei até que ponto o sentimento egoísta pode essencialmente ser racional. Porém, da feita que o Século das Luzes esvaziou de sentido da palavra "razão", ao mesmo tempo que democratizou o termo em palavras, a racionalidade, por assim dizer, acaba por se tornar um artifício retórico, sem conteúdo prático. Na verdade, bem que a filosofia randiana deveria ser o "egocentrismo irracional".

Curiosamente, Ayn Rand se tornou popular nos EUA, por conta dessa estranha filosofia. Gente como o economista e Presidente do Branco Central Americano Alan Greenspan é fã de carteirinha da romancista. Isso se explica, em parte, porque é uma visão simplória, vazia de conteúdo, típica de comerciantes que dão opiniões sobre coisas que não entendem. Daí acharem que o todo das relações humanas se resume ao seu estreito horizonte comercial. A filosofia dela é para sujeitos vulgares como o Rodrigo Constantino e alguns outros demais indivíduos do Instituto Liberal, que pensam que a realidade humana é mera extensão da bolsa de valores. O reducionismo economicista é óbvio demais na visão filosófica de Ayn Rand e seus defensores. A ideologia randiana é uma concepção histriônica de plutocratas.

Os comerciantes deveriam se preocupar mais em vender e comprar do que se meter a assuntos onde não são aptos. Na Idade Média, esses mercantes filosofastros seriam considerados usurpadores, palpiteiros profissionais, estúpidos. Como vivem no capitalismo e decidem muita coisa, já que estão em lugares de proeminência, agora querem criar filosofia e ditar costumes, ao arrepio de uma civilização cristã de mais de dois mil anos. Há gente que não se toca em sua real insignificância.

Neste ponto tenho nostalgias da Idade Média. Parecia que cada um sabia onde era seu lugar. Saudades de uma nobreza guerreira que liderava e do clero pensante. Quando o comerciante começa a achar que é monge ou cavaleiro, a coisa fica muito feia. Tanto melhor que os comerciantes só se preocupassem em vender ou produzir, do que opinar sobre filosofia. A filosofia da mentecapta, paranóica e egocêntrica Ayn Rand é tão somente um mundinho visto por cifras.

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