terça-feira, 11 de agosto de 2009

Cadê o decoro, sr. presidente?

Mídia Sem Máscara

Tem decoro, pois és presidente! Não é por ti que exijo, isto, mas pelo cargo, que desmereces!

"No meu estudo das sociedades comunistas, cheguei à conclusão de que o propósito da propaganda comunista não era persuadir, nem convencer, mas humilhar - e, para isso, quanto menos ela correspondesse à realidade, melhor. Quando as pessoas são forçadas a ficar em silêncio enquanto ouvem as mais óbvias mentiras, ou, pior ainda, quando elas próprias são forçadas a repetir as mentiras, elas perdem de uma vez para sempre todo o seu senso de probidade... Uma sociedade de mentirosos castrados é fácil de controlar."[1]

Theodore Dalrymple

De uns tempos pra cá tem se tornado recorrente que os governantes xinguem a população. Parece que não tem bastado nos roubar praticamente a metade de todo o fruto dos que trabalham e produzem; não tem bastado torrar montanhas de dinheiro em finalidades as mais desprezíveis, e fazê-las faltar onde mais indispensáveis; Não tem bastado nos submeter a periódicas crises econômicas por investimentos que haviam de fazer com o nosso dinheiro e não o fizeram; eles também precisam xingar aos que minimamente lhes chamam a atenção para uma prestação de contas.

Fernando Henrique Cardoso já havia chamado os aposentados de "vagabundos"; o então ministro da Fazenda chamou de "otários" quem se submetia a comprar com ágio; todavia, ninguém até hoje superou a marca de Luís Inácio "Lula" da Silva. Não há uma semana, quiçá um dia, que seu espírito boquirroto não lance impropérios àqueles que, no mínimo, querem ouvir esclarecimentos sobre a aplicação do dinheiro público. Lula simplesmente não sabe governar sem a dialética do confronto, sem eleger um inimigo - aquele que, sendo concreto ou mesmo muitas vezes abstrato - situa-se no pólo oposto aos seus projetos.

Lembro-me de, ainda candidato, ter se referido ao Dr Constantine Menges, do Hudson Institute - em célebre entrevista ao jornalista Boris Casoy - como o "patife de Miami", por ter denunciado a existência do Foro de São Paulo e a aliança que Lula e Chávez haviam celebrado, fato de que hoje já nem sequer cuida de proteger, mas antes, já o exibe com satisfação e orgulho. Curiosamente, bastou esta pergunta para que Casoy ganhasse um sumiço da tevê por pelo menos seis longos anos.

Muito mal acostumado este senhor. Mimado pela imprensa e por sua militância, que o têm cultuado acima da condição de homem, e inexplicavelmente tolerado pelos demais representantes das instituições, que guardam por normal seu comportamento tosco e irascível, devido à crença injustificável na imputabilidade de sua origem simples - como se a maioria dos homens e mulheres simples não soubessem o que é decoro, respeito e decência - a cada dia alimenta a brutalidade de sua alma com os germes da arrogância e da impunidade.

No dia 1º de agosto, como bem noticiado - mas não bem criticado - este homem vitupera a mim e a todos os que acreditam no erro do bolsa-voto-de-cabresto-evoluído, chamando a todos de "imbecis". Pois eu retorno: imbecil és tu, patife! Tem decoro, pois és presidente! Não é por ti que exijo, isto, mas pelo cargo, que desmereces!

Por obra do acaso, no mesmo dia, o irmão do teu padrinho ideológico Fidel Castro - o Raulzito, vulgo "China" (bandidos e assassinos sempre são mais conhecidos por seus apelidos, não?), declara que os gastos públicos "fazem com que alguns não sintam a necessidade de trabalhar[2]":

(...)

"Los gastos en la esfera social deben estar en consonancia con las posibilidades reales, y ello impone, suprimir aquellos de que es posible prescindir. Puede tratarse de actividades beneficiosas y hasta loables, pero simplemente no están al alcance de la economía.

(...)

Con similar sentido de racionalidad se adoptarán otras decisiones en la educación, la salud pública y el resto del sector presupuestado, dirigidas a eliminar gastos que sencillamente resultan insostenibles, que han ido creciendo de año en año y que además son poco eficaces o peor aún, hacen que algunos no sientan la necesidad de trabajar".

Tradução:

"Os gastos na esfera social devem estar em consonância com as possibilidades reais, e isto impõe suprimir aqueles que são possíveis prescindir. Pode se tratar de atividades benéficas e até louváveis, mas que simplesmente não estão ao alcance da economia.

(...)

Com similar sentido de racionalidade se adotarão outras decisões na educação, na saúde pública e no restante do setor orçamentado, dirigidas a eliminar gastos que sensivelmente resultem insustentáveis, que têm crescido de ano a ano e que ademais são pouco eficazes ou pior ainda, fazem que alguns não sintam necessidade de trabalhar".

Quero ver-te agora chamar Raúl de imbecil pra todo o Brasil ouvir... (!).

Não que eu considere errada a decisão do General Raúl: muito pelo contrário, considero que é correta, tempestiva e apropriada: afinal, já estava mais do que na hora de se colocar um freio a este consumismo desenfreado dos cubanos... Olha o aquecimento global, hein?

Não obstante, vou explicar como e porquê um bolsa-isto ou um bolsa aquilo, e especificamente o bolsa-família, jamais será uma solução benéfica para o Brasil. E vou fazer isto tanto no plano teórico quanto no plano empírico.

Pra começar, tem perdurado no seio do imaginário da economia política nacional a idéia de que o distributivismo gera renda, e o bolsa-família é o caso por excelência. Mito. Pois, onde mais tem sido aplicado, jamais se teve uma semeada de prosperidade. O dinheiro dos beneficiados - e aqui incluo aposentados e pensionistas, que nas cidades do Norte e do Nordeste muitas vezes representam a maioria e o dinheiro gordo da população local - realmente faz girar o comércio, mas apenas aquele varejista que se desloca para atendê-los. Idem com os salários dos servidores públicos envolvidos (Estes bem menos, pois mal passam nos concursos, conseguem liminares na Justiça para logo voltarem ao Rio ou a São Paulo). Tão logo a chuva mingua, seca a pimenteira. Agora o fato: recentes pesquisas têm dado conta de que os programas sociais - incluso o bolsa-família - não propiciaram o desenvolvimento do Nordeste.

Assim se expressou Lula[3]: "Tem gente tão imbecil, tão ignorante que fala: "O Bolsa Família é para deixar as pessoas preguiçosas, porque quem recebe o Bolsa Família não quer mais trabalhar'". A boa teoria econômica tem demonstrado, com precisão, que os estímulos encarecem o trabalho e barateiam o não trabalho. Quanto a isto, explica Hans-Hermann Hoppe[4]:

Portanto, a redistribuição das oportunidades de aquisição de ganhos deve resultar em mais pessoas usando a agressão para conquistar a satisfação pessoal e/ou mais pessoas tornando-se agressivas, ou seja, mudando-se gradativamente as regras de não-agressivas para agressivas, e vagarosamente mudando a personalidade delas como uma conseqüência disto; e esta mudança na estrutura do caráter, na composição moral da sociedade, em retorno, leva a uma redução no nível de investimento em capital humano.

Não é tão difícil imaginar o quanto é assertiva a presunção de que um benefício continuado e isento de contrapartidas pode gerar a indolência: o valor do benefício pago apenas compreende uma faixa pela qual alguém pode ser "comprado". Se a algumas pessoas parece ser insuficiente, porque são mais exigentes quanto ao que querem da vida, outras se conformam mais facilmente, e o valor se torna desta forma a medida do conveniente.

Agora, o fato, que já foi largamente noticiado: muitas mães no Norte e Nordeste (e em menor medida, no restante do Brasil), geram filhos com o único propósito de receber a indigitada bolsa!

Porém, mais do que isto, como ensinou Hoppe, o que mais importa são as expectativas criadas: o trabalho, a poupança e o investimento custarão mais caro, e o ócio, a despesa e o consumo imediato serão mais recompensadores.

Torna-se lucrativo, pois, investir em formas agressivas e não-contratuais de aquisição da propriedade, ao mesmo tempo em que vão escasseando as possibilidades de abertura de empresas ou o crescimento delas, e conseqüentemente, a oferta de empregos, que produziriam homens e mulheres independentes e críticos em relação aos atos de seus governantes. Ao governo, por sua vez, isto muito interessa: para fazer um cãozinho comer na mão, basta que esta ofereça um petisco.

Feitas estas considerações teóricas e provadas empiricamente, resta-me apenas dizer que já passa da hora para que homens e mulheres de bem levantem-se contra esta ousadia crescente que já se coloca em tom de desafio, a corroborar a tese exposta na epígrafe. Homens e mulheres de relevo na sociedade têm o dever de censurá-lo. Homens e mulheres do Congresso e do Judiciário idem. A boa imprensa também.


Notas:

[1] Extraído do artigo "Um Gênio da Inépcia", de Olavo de Carvalho: http://www.olavodecarvalho.org/semana/090129dc.html

[2] "A mí no me eligieron Presidente para restaurar el capitalismo en Cuba ni para entregar la Revolución. Fui elegido para defender, mantener y continuar perfeccionando el socialismo, no para destruirlo" (Discurso pronunciado por el General de Ejército Raúl Castro Ruz, Presidente de los Consejos de Estado y de Ministros, en el Tercer Período Ordinario de Sesiones de la VII Legislatura de la Asamblea Nacional del Poder Popular, en el Palacio de Convenciones, el 1º de agosto de 2009, "Año del 50 aniversario del triunfo de la Revolución"): http://www.granma.cu/espanol/2009/agosto/lun3/discurso.html

[3] http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/palanqueiro-lula-reajusta-bolsa-familia-e-chama-criticos-de-imbecis/

[4] Hoppe, Hans-Hermann. Uma Teoria sobre o Socialismo e o Capitalismo (tradução autorizada). Arquivo PDF - disponível na Livraria Virtual de meu blog LIBERTATUM (http://libertatum.blogspot.com)

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