terça-feira, 11 de agosto de 2009

Questão do Enem promove o ateísmo

Mídia Sem Máscara

Afinal, entre a complexidade da idéia de Deus e a rudimentaridade da idéia do seu super-homem, paira a mesma distância que existe entre a filosofia de um Aristóteles e a de um Daniel Dennet.

Volto às questões apresentadas como modelo do próximo Enem, divulgadas pelo MEC há cerca de uma semana. Ao analisar a primeira questão da prova de "Linguagens, códigos e suas tecnologias", no artigo "Enem: agitação e propaganda", procurei mostrar o conteúdo ideológico nas entrelinhas de seu enunciado. Já na questão 8, que também considero um exemplo de doutrinação, a ideologia aparece de modo mais explícito, pois o tema da pergunta é nada menos que a existência de Deus.

O motivo da escolha temática se evidencia na resposta dada como correta, que supostamente aponta para a improbabilidade da existência do Criador. O exame, portanto, difunde o ateísmo. Naturalmente, a questão procura aparentar neutralidade quanto à discussão veiculada em seu tema. Tanto que apresenta, lado a lado, duas opiniões distintas, a do cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, "nomeado pelo papa Bento XVI em 2007", e a do filósofo Daniel Dennet, "filósofo americano ateu e evolucionista radical, formado em Harvard e Doutor por Oxford".

Põem-se frente a frente o padre e o cientista, numa época em que a ciência transformou-se em dogma, como se não houvesse aí nenhum partido tomado. Para mim, que já não sou, graças a Deus, um jovem estudante, fica evidente que a questão só seria de fato neutra se fossem postos frente a frente dois filósofos ou dois cientistas, cujas credenciais se equiparassem. Mas vamos admitir que eu esteja enganado e ver a resposta que cada um deles dá à questão "Apesar da ciência, ainda é possível acreditar no sopro divino - o momento em que o Criador deu vida até ao mais insignificante dos micro-organismos?".

Dom Odilo diz que "o ato criador precede a possibilidade de evolução: só evolui algo que existe. Do nada, nada surge e evolui". Em outras palavras, mostra a insuficiência da teoria evolucionista, pois há nela uma lacuna quanto à, digamos, causa primeira. "Do nada, nada surge e evolui." Já Daniel Dennet, reconhecendo a existência da lacuna, garante que ela não precisa necessariamente ser preenchida com a idéia de Deus: "pode-se acreditar que um super-homem veio para a Terra há 530 milhões de anos e ajustou o DNA da fauna cambriana, provocando a explosão da vida daquele período". Ou seja, pode-se acreditar em qualquer coisa, embora Dennet ressalte que "não há razão para crer em fantasias desse tipo".

Do confronto, o filósofo parece se sair como vitorioso, pois seu argumento aparenta ser irrefutável: é possível preencher a lacuna na teoria da evolução tanto com a idéia de Deus quanto com a idéia de um super-homem, mas as duas são igualmente fantasiosas. Para mim, que já não sou, graças a Deus, um jovem estudante, está claro que o raciocínio do filósofo não é tão irrefutável quanto parece. Afinal, entre a complexidade da idéia de Deus e a rudimentaridade da idéia do seu super-homem, paira a mesma distância que existe entre a filosofia de um Aristóteles e a de um Daniel Dennet.

Em termos lógicos, de inquestionável no que se refere ao ato da Criação há somente o mistério, o mistério imenso, profundo, impenetrável. No entanto, numa época impregnada pelos mitos cientificistas como a nossa, não é difícil seduzir a juventude com explicações pretensamente racionais para ele. Não custa nada fazê-lo assim, subliminarmente, numa questão do Exame Nacional do Ensino Médio. Não há nada de sistemático nisso. Acreditar no contrário é tão absurdo quanto... crer em Deus!

http://observatoriodepiratininga.blogspot.com

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