quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O falso nacionalismo de uma esquerda radical

Mídia Sem Máscara

Fala-se muito em dilapidação do patrimônio público, o que é algo realmente inquietador. Nenhum governante, bem intencionado e em perfeito domínio de sua consciência, há de querer livrar-se de algo que é da sociedade como um todo, por preço aviltado. Mas, da mesma forma, não parece boa prática administrativa aferrar-se a um patrimônio que ano após ano traz prejuízo, apenas por razões ideológicas.

"Quando as ideologias ficam bem velhinhas, vêm morar no Brasil."
(Millôr Fernandes)

Desde que assumi a presidência do Clube Militar, tenho sido assediado por um não desprezível número de pessoas e instituições, propondo-me a adesão a alguma forma de protesto contra privatizações. Naturalmente, procuram o prestígio e a abrangência nacional do Clube para dar mais credibilidade a suas reivindicações. Tenho recusado a todas. Inicialmente, julgo que o Clube não deva ser utilizado para esse tipo de atividade, salvo quando o interesse nacional estiver em risco, sem nenhuma sombra de dúvida. Como todos apresentam suas reivindicações sob o rótulo de nacionalistas, cheguei a questionar-me. Será que tenho agido ao avesso de meus ideais, eu que sempre me julguei nacionalista?

Com tantos grupos alardeando o nacionalismo para fazer valer seus interesses, nem sempre muito claros, julguei importante tentar entender o termo em um sentido justo, considerando o desgaste que o mau uso tem nele provocado. O dicionário do Aurélio apresenta como primeiro significado: "Exaltação do sentimento nacional, preferência marcante por tudo quanto é próprio da nação à qual se pertence, patriotismo". Nesse estrito sentido, não tenho a menor dúvida em me definir como vibrante nacionalista.

Acontece, no entanto, que uma parcela da esquerda política brasileira não tem o menor constrangimento em fazer uso da palavra nacionalismo de forma distorcida. Consegue, com alguma freqüência, confundir consciências bem intencionadas, às vezes por ingenuidade, às vezes no afã de seguir a onda da moda. Faz parte da estratégia de comunicação sabidamente utilizada através dos anos por esses setores radicais. Arregimentam massa de manobra para reivindicar suas posições políticas, enganando-a com falsos slogans centrados em assuntos capazes de empolgá-la. É uma prática bastante conhecida por quantos se dedicaram ao estudo da guerra revolucionária, em nosso país e no exterior.

Não posso aceitar a simplificação que esses grupos tentam nos impingir. Não posso concordar que para ser nacionalista seja preciso estar alinhado a todos os trabalhos de massa que promovem, contra qualquer tipo de privatização. Obviamente, nenhuma privatização pode, a priori, ser taxada de boa ou de má, sem uma análise profunda das conseqüências que irá gerar. Importante é, da mesma forma, separar a idéia da ação. Esta pode estar contaminada por algum tipo de fraude, mas isso não invalida a concepção inicial. A corrupção que porventura aconteceu não pode servir de argumento contra a decisão política de transferir uma empresa para a iniciativa privada. Cabe, se houver alguma suspeita, apurar as responsabilidades pelos desvios ocorridos durante o processo, unicamente.

Fala-se muito em dilapidação do patrimônio público, o que é algo realmente inquietador. Nenhum governante, bem intencionado e em perfeito domínio de sua consciência, há de querer livrar-se de algo que é da sociedade como um todo, por preço aviltado. Mas, da mesma forma, não parece boa prática administrativa aferrar-se a um patrimônio que ano após ano traz prejuízo, apenas por razões ideológicas.

Tampouco julgo salutar um embarque, sem reflexão, na onda antiamericana que essa mesma esquerda procura disseminar entre nós. Parece que tudo o que é feito ou idealizado ao norte do Rio Grande tem objetivo específico e determinado de prejudicar o Brasil. Ora, temos de ser mais realistas e menos infantis. O que os americanos fazem é o que qualquer nação procura praticar - defender e lutar por seus interesses. Esses, por vezes, se alinham com os nossos, outras vezes não. Quando colidirem, fato que tende a se tornar mais freqüente, na medida em que formos ganhando maior expressão política e econômica no cenário mundial, teremos, forçosamente, de enfrentar ações potencialmente prejudiciais a nós. Aí, pouco adianta lamentar ou fazer imprecações. Ser sistematicamente contra qualquer país, seja para seguir a moda ou seja por que motivo for, não me parece atitude sensata. Muito mais efetivo é tratar de adquirir competência e poder para defendermos adequadamente nossos interesses.

Acredito, assim, que nossa energia, impregnada de sadio nacionalismo, deve ser direcionada para fatos que realmente afetem a segurança e o desenvolvimento do país. Por exemplo, muito oportuno seria propugnar por Forças Armadas capazes de responder efetivamente pela soberania nacional, ou, também, pelo direito ao desenvolvimento tecnológico, como na área nuclear, campo onde a Marinha do Brasil obteve conquistas espetaculares e, estranhamente, não tem contado com o necessário apoio de sucessivos governos.

Vamos ser nacionalistas sim, mas com mais agudeza de espírito e, sempre, na defesa dos reais interesses do Brasil, sem embarcar em slogans da esquerda radical. Vamos, ao menos, saber escolher os verdadeiros inimigos.

Gen. Gilberto Barbosa de Figueiredo é Presidente do Clube Militar.

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