Mídia Sem Máscara
| 21 Abril 2011
Artigos - Movimento Revolucionário
Esclareço ainda, por conhecer as partes envolvidas, que o projeto não tem raízes xenófobas. Ele é, como afirmei antes, essencialmente anglofóbico.
O leitor destas linhas, se não for gaúcho, talvez não tenha sido informado sobre a usina de piadas que a base governista na Assembléia Legislativa estadual proporcionou ao aprovar o projeto de lei que torna obrigatória, nestas bandas, a tradução de palavras estrangeiras para o idioma pátrio sempre que houver, em português, termo equivalente. De modo inesgotável, a usina de piadas vem espalhando gargalhadas assim como a central nuclear de Fukushima espalha radioatividade.
Ao cabo de uma semana de gozações, a batata foi esquentar as mãos do governador Tarso Genro (você sabe, cada povo tem o governo etc. e tal). Indagado sobre sua posição a respeito da relevante peça legislativa - "O senhor vai sancionar ou não?" - Tarso usou a caneta como vara de salto e foi equilibrar-se em cima do muro, dizendo ser necessário avaliar o projeto sob o ponto de vista da constitucionalidade e da exequibilidade. Mas estocou a oposição, que está criticando o projeto: "Só uma visão muito caipira para achar que a gente não pode propor uma lei para defender o nosso idioma como elemento de identidade nacional". Coincidentemente, caipira (palavra do idioma guaianá), significa colonizador, ou seja, é um termo indígena para designar os que aqui chegaram falando... português.
Mas deixa tudo isso para lá. O tema me impõe duas pautas e ambas são sérias. A primeira se refere a alegada "defesa do idioma nacional". Ora vai atrás! O autor do projeto é um comunista (até que mudem o nome do partido, todo filiado ao PCdoB é comunista assumido e histórico, certo?) e toda a esquerda (gaúcha, pelo menos) é anglofóbica. Existe muito mais antiamericanismo por trás desse projeto do que sincero desejo de defender o idioma. Fosse como alegam, deveriam estar mais preocupados com o analfabetismo funcional dos estudantes brasileiros, do que com o fato de eles entenderem perfeitamente o que é hardware e software. Fossem os defensores do projeto esclarecidos além da alfabetização básica saberiam que, no mundo inteiro, os filósofos precisam de certo vocabulário alemão, os juristas de latim e grego, os tecnólogos de inglês, os chefs de francês, os músicos de italiano, os humoristas de economês e politiquês e assim por diante, independentemente de haver ou não palavra equivalente nos respectivos idiomas. Existem estrangeirismos da moda, que passam; palavras boas que ficam e palavras indispensáveis que se incorporam à linguagem universal.
Esclareço ainda, por conhecer as partes envolvidas, que o projeto não tem raízes xenófobas. Ele é, como afirmei antes, essencialmente anglofóbico. Creiam-me: quando aparecem por aqui representantes das FARC, dos tupamaros, do Partido Comunista Cubano, ligeirinho eles estão arranhando seu portunhol para agradar os visitantes e cantando "soy latino americano". E se aparecer um chavista na volta, vão logo se declarando bolivarianos.
A segunda pauta se refere ao projeto em si. Comete o autor o grave equívoco, que se explica pelo viés totalitário do comunismo, de pretender transformar sua vontade em lei. Impor a própria opinião aos que dela discordam. Não se alegue que a maioria legislativa é suficiente para legitimar tamanha desfaçatez. O verdadeiro democrata - e isso vale para todos os parlamentares, em todos os níveis - reconhece os limites da ação legislativa. Por isso, quando legisla, o faz mediante normas que não transponham espaços legítimos da liberdade alheia.
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