Mídia Sem Máscara
Felipe Moura Brasil | 03 Abril 2011
Internacional - Estados Unidos
Barack Obama é a cara do Brasil. Por isso mesmo, ninguém mais o leva a sério. Como até hoje não apresentou sua certidão de nascimento, é legítimo desconfiar de sua brasilidade (e da autoria de seu livro; e de tudo que envolva o primeiro presidente obscuro dos EUA).
Barack Obama justificou a guerra na Líbia dizendo que os Estados Unidos não fecham os olhos para as atrocidades em outros países - o que seria muito lindo, não existisse, como de hábito, uma realidade para desmentir o discurso. Os críticos apontaram: e quanto à Síria, Arábia Saudita, Iêmen, Jordânia, Costa do Marfim, Bahrein? Eu aponto: e quanto ao Rio de Janeiro? E quanto ao Brasil? Por que ninguém se lembra da gente nessas horas? A resposta é simples, claro. Faça enchente ou faça sol, morram mil soterrados ou cinquenta mil assassinados, ninguém leva a sério o Brasil.
Neste sentido, a visita de Barack Obama foi, de fato, histórica. Dilma, Cabral e Paes devem agradecer. Se a intenção era propagandear nosso caráter bundalelê para o mundo, Obama foi insuperável. Citou Pau Coelho e Zorze Benzor, exaltou nossas belezas naturais, assistiu às piruetas da capoeira, bateu uma bolinha na Cidade de Deus e, de quebra, autorizou o ataque das tropas americanas às forças militares de Kadafi, sem consultar o Congresso. Nenhum lugar do mundo seria tão estapafúrdio para o anúncio de uma guerra assim quanto o Rio de Janeiro. Nos EUA, os críticos ainda debocham das "férias" do presidente por aqui. É como se, à simples menção da palavra "Rio", a fama carnavalesca da cidade reforçasse a irresponsabilidade obâmica, e vice-versa. Para inveja de Lula, Obama elevou o Rio a um novo patamar de sonsice.
Após a visita, Zuenir Ventura aplaudiu o nosso afeto. Eu vaiei: uuuuuhh! Nós brasileiros somos tão felizes e afetuosos que ninguém abre os olhos para as nossas atrocidades. Nem nós. Se, lá nas bandas do Oriente Médio, ditadores e terroristas promovem genocídios chocantes, aqui somos assassinados aos pouquinhos e espaçadamente, e de maneira terceirizada, de modo que não damos a menor bola e vamos bater tambor. Basta um Beltrame qualquer empurrar os bandidos mais pra lá ou mais pra cá, sem prender ninguém, que já ganha um Prêmio Faz Diferença, do jornal O Globo. Uma diferença e tanto. Nas últimas semanas, só ao meu redor (e que eu saiba), houve gente baleada em Ipanema (morta), em Copacabana, e na Lagoa. Ao que tudo indica, se você é um blogueiro crítico do governo ou anda de motocicleta, há mais chances de levar um tiro. Por sorte, eu não ando de motocicleta.
Para coroar a criminalidade homeopática do país, a Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD) propôs considerar apenas "usuário" quem possuir uma quantidade de entorpecentes para até 10 dias de uso. Em vez de serem encaminhados à Justiça Criminal, os infratores "são acolhidos por comissões especiais" cujo objetivo é "preservar sua saúde". Isto significa que, a cada vez que sair para vender, basta ao traficante levar uma quantidade equivalente a 10 dias de uso. Caso seja pego em flagrante, ele é considerado "usuário" e ganha de brinde uma avaliação médica e psicológica, paga com o dinheiro do contribuinte. Com o pretexto de diferenciar usuário de traficante, o que se faz na prática é igualar os dois, estimulando os traficantes a empregarem "usuários"; os usuários a virarem traficantes; e ambos a ficarem cada vez mais sonsos. De pouquinho em pouquinho, o Brasil fica legalmente doidão.
Barack Obama é a cara do Brasil. Por isso mesmo, ninguém mais o leva a sério. Como até hoje não apresentou sua certidão de nascimento, é legítimo desconfiar de sua brasilidade (e da autoria de seu livro; e de tudo que envolva o primeiro presidente obscuro dos EUA). A sonsice com que conduziu a guerra na Líbia só fez aumentar a desconfiança. O mesmo Obama que rejeitava a coalizão de 40 países na guerra do Iraque - autorizada pelo Congresso - celebra a aliança de 15 para as operações na Líbia. O mesmo Obama que era contra a imposição da democracia no Oriente Médio defende a liberdade do povo para se expressar e escolher os seus líderes. Se o objetivo de Obama é proteger o petróleo europeu, os rebeldes aliados da Al Qaeda, a Fraternidade Muçulmana, ou demais interesses que ele jamais ousaria confessar em público, a história dirá. O certo é que não se pode esperar critério e coerência de seu teleprompter.
Se Obama fecha os olhos para Darfur, imagine então para o Rio de Janeiro. Em vez do FBI revistando ministros petistas e do Exército americano matando ou prendendo nossos traficantes, vamos ter de nos contentar com as UPPs. Mas estamos felizes. Somos afetuosos. Bagulho não falta. Como cantou Zorze Benzor (ou foi Pau Coelho?), moramos num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.
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