terça-feira, 25 de março de 2008

24/03 - Coadjuvantes da história

24/03 - Coadjuvantes da história

A verdade sufocada

Por Ternuma Regional Brasília - Gen Bda Paulo Chagas

Caros amigos "Afinal, o Brasil é dos brasileiros! Caso permaneçamos indiferentes, ausentes, medrosos, nossos filhos terão o direito de cobrar-nos: Por que não fomos capazes de, além de doar nossas vidas em defesa do que recebemos, dar-lhes razão para continuarem a viver dignamente?"

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Ao ler este trecho, de recente artigo do Professor Marcos Coimbra, sobre a ameaça de "balcanização" do Brasil, lembrei-me do que temos feito e assistido há muito tempo, há muito mais tempo do que a lógica da prudência recomenda.

Desde o fim do Governo do Presidente Figueiredo, temos sido testemunhas do processo de afastamento voluntário dos militares da vida política nacional. Processo lógico e natural, após o período marcado pela ordem contra-revolucionária de 1964.

A estratégia, inteligentemente adotada, foi a do silêncio, apostando no amadurecimento racional do pensamento político e da consciência popular sobre importância das Forças Armadas para a Nação, não apenas durante os anos de exceção, mas em todas as épocas, passadas e ainda por vir.

O efeito esperado foi, em grande parte, alcançado. As FA podem, hoje, orgulhar-se de poder ostentar os mais elevados índices de prestígio e confiança conquistados junto à sociedade, em uma época em que impera a desonestidade, a corrupção, a impunidade, a compensação do crime, a malversação de recursos públicos, a ameaça à integridade e à soberania, entre outras enfermidades da moral!

Em contrapartida, acostumamo-nos ao mutismo! Embora não tenhamos deixado de pensar, transformamos o silêncio em medo de dizer o que pensamos! Deixamos de ser protagonistas para aceitar, acomodados, a posição de coadjuvantes da história, platéia privilegiada, mas sem direito de aplaudir ou vaiar.

Não sabemos mais fazer uso do prestígio que alcançamos nem da própria democracia que salvamos em 64 e que ajudamos a consolidar ao longo destes 44 anos.

O prestígio oferece o respaldo da fé pública, enquanto a democracia dá direito de voz a todas as correntes de pensamento, até mesmo aos que contra ela, permanentemente, conspiram. Ela permite a manifestação de todos os segmentos da sociedade e condena a omissão dos que podem e devem contribuir para a sua boa prática e para o Bem Comum.

As FA, como instituições e como segmento da sociedade, têm direito à opinião e o dever democrático e constitucional de torná-la conhecida e de com ela contribuir para a segurança do Estado e para a construção da opinião pública!

O silêncio prolongado, além dos limites da dignidade e do dever, transformou-se em acomodação, temor do contraditório, pretexto para não assumir as conseqüências da participação e da argumentação em defesa dos interesses nacionais e corporativos, tendo como reflexos a baixa auto-estima, a desastrosa evasão dos quadros mais jovens e o descaso do governo para a importância dos meios de guarda e de defesa da Nação.

É erro grave atribuir o êxodo de jovens vocações aos baixos salários ou a "sinais dos tempos", quando sabemos que a verdade está na desimportância que nós mesmos deixamos atribuir a nosso papel de instituições integradas, instruídas e preparadas para defender os interesses e garantir o futuro da Nação.

Gaston Courtois, em sua conhecida obra "A Arte de Ser Chefe", já nos alertava para os efeitos danosos da pouca fé na missão: "Só se faz bem o que se faz com paixão. Quem trabalha simplesmente por dinheiro e não tem paixão pelo que faz não será jamais um homem de valor e, muito menos, um chefe". E acrescenta: "A inteligência não pode levar adiante um esforço de construção se não crê na verdade e na utilidade de sua missão".

Portanto, caros amigos, companheiros de farda, princípios e paixões, não temos o direito de permanecer indiferentes, ausentes e medrosos diante de nosso dever para com os interesses da Pátria, particularmente nós que juramos até o sacrifício da vida, de toda a vida!

Em que pese à disciplina intelectual e a meu irrestrito respeito às decisões e posturas dos Chefes Militares, entendo ser meu dever alertar e exercer o direito de manifestação e de contribuir para a construção de um novo comportamento, capaz de neutralizar os efeitos danosos do mutismo e de contrapor-se às ameaças que, não sozinho, identifico em nossos horizontes.

Gen Bda Paulo Chagas

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