domingo, 30 de março de 2008

Notícias Velhas, Novos Atores

Domingo, Março 30, 2008

Notícias Velhas, Novos Atores

Edição de Artigos de Domingo do Alerta Total http://alertatotal.blogspot.com

Por Arlindo Montenegro

Inda anteontem, fui ao oculista, um velho amigo de há vinte e não sei quantos anos. Um cientista com bagagem internacional e acima de tudo humanista. Daqueles pessoas que ainda se comovem sem esconder a emoção que banha os olhos, quando mostram na proteção de tela, uma foto fechada sobre uma dúzia de carinhas infantis, risonhas numa favela de São Paulo. A consulta em si, passando por um monte de aparelhos e luzinhas, letrinhas e outros trecos durou uma meia hora. Mas colocar em dia o papo, umas duas horas.

Como sempre caímos no negócio de educação, que ele é professor e circula nas altas rodas acadêmicas e eventualmente políticas. Saí do consultório com um nó na garganta. Foram muitas as informações que evidenciam o buraco em que estamos metidos, a indigência e ligeireza, o descaso dos homens que decidem sobre a vida de todas as pessoas.

Voltei pra casa curtindo a massagem vibratória do “buzão” que circulava sobre a buraqueira e olhando a paisagem humana, as caras das pessoas que pouco sabem sobre o poder de decisão que influencia suas escolhas, que as toca para um canto do redil e as transforma em estatística, medindo o quanto podem significar na condição de máquinas de produzir riqueza. Que movimentos podem ser mais lucrativos, qual o corte nos orçamentos...

E por falar em orçamento, lembrei daquele relatório dos patrões norte americanos, metendo o pau no Brasil, sobre resultados na educação, saúde e segurança. Lembra não? Aquele que falava que em 2006, destinaram 3 bilhões de Reais para as tais ongs e “quase metade dos fundos não chegaram ao destino, por conta da corrupção”. A outra metade ficou sem prestação de contas. A outra parte descobriram aí numa investigação pra inglês ver, que foi para o MST, que os carinhas têm que devolver... Mas eles já responderam que vão recorrer e sabe-se: fica tudo como dantes no quartel de Abrantes e ninguém fala mais nisso.

Por falar em números, dois deles gritam, mostrando como os que têm poder de decisão tratam bem do futuro deste País. Destaco no orçamento de 2008:
Ministério da Educação:........................................................R$ 1.100.000.000,00 (UM BILHÃO E CEM MIL REAIS)
Para Juros e Amortização da Dívida do Estado:.................R$ 248.000.000.000,00 (DUZENTOS E QUARENTA E OITO BILHÕES DE REAIS)

É mole ou quer mais?

Roberto Pisticelli, da UNB comenta sobre a dívida ativa que “O Estado brasileiro não tem tradição de cobrar, principalmente quando se trata dos grandes devedores, aqueles que têm fortes laços políticos nas diversas instâncias”. Entre sonegação, venda sem nota fiscal e não recolhimento do INSS, o Estado tem R$ 586 milhões e 500 mil Reais a receber. Agora, sabe quanto o Estado deve aos fornecedores? Um troquinho humilde de UM TRILHÃO E QUATROCENTOS MILHÕES DE REAIS.

Um dos programas do governo federal que figura entre os 10 mais bem executados de 2007 é o Brasil Alfabetizado. Dos R$ 174,7 milhões autorizados, foram pagos R$ 188,1 milhões para a alfabetização de jovens e adultos. As ongs agradeceram e não têm que prestar contas mesmo...

Prepara-se a juventude com um plano de inclusão digital. O estado compra um monte de computadores, impressoras e manda para as escolas de todo País. Nas Alagoas uma reportagem de tv mostra a choradeira de professores e estudantes, em cujas escolas as bancadas e terminais elétricos e telefônicos estão prontinhas HÁ UM ANO, esperando que os técnicos cheguem para instalar os computadores que estão empilhados num depósito ao lado. Os computadores poderiam ser instalados e entrar em funcionamento, mas aí, sem os técnicos da empresa que vendeu, a escola perderia a garantia! Negócio é esperar.

As Universidades, meu Deus! Inventaram a contratação de Fundações. As Fundações não são obrigadas por lei a fazer licitação. E para enrolar mais, sub contratam terceiros pra esconder mais ainda os custos.

A Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa ligada à Universidade Federal do Para recebeu R$ 52,3 milhões para “diversos fins” em 2007. Sabe-se entretanto, que a tal “fundação” não tem quadros (gente) nem estrutura para realizar todos esses serviços... Fica por isso mesmo, não é?

Outra manobra obscura, envolve a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos, ligada à Universidade de Brasília. “A fundação era contratada, mas quem realizava os projetos eram duas empresas ligadas ao PT, em convênios que chegam a R$ 22 milhões.”

É a grana pública utilizada de maneira escondida, como as verbas secretíssimas da Presidência da República em 2007, que chegaram a 25 milhões, 405 mil, 417 Reais e 80 centavinhos. Trocando em miúdos, quase 20 mil Reais por dia. Dito em outras palavras: mais de 4 anos de salários mínimos, são gastos secretamente por dia, pela Presidência da Republica, sem se saber, nem podendo saber em que. Só se sabe o por que: quem pode pode!

Agora vamos acabar com a dengue. Nos últimos anos, segundo Leandro Kleber (Contas abertas), foram reduzindo as dotações e reduzindo ainda mais as despesas. Em 2007, estão listadas 40 empresas que receberam pagamento em 12 estados, para combate ao mosquito da dengue. No Rio de Janeiro, foram pagos R$ 3.700,00 do total nacional de R$ 37.377,70.

Incompetência ou desprezo à gente?

Sim, na conversa com meu amigo oculista, ouvi a referência de que o Brasil tem produzido muito mais pesquisadores em ciência pura e tecnologia aplicada que jogadores de futebol. O negócio é que as cabeças dos primeiros, tão geniais quanto os pés dos jogadores, saem do País e vão ganhar a vida nos centros de altos estudos científicos e tecnológicos estrangeiros.

Mais ainda espero que tenham sobrado cérebros suficientes, para produzir propostas reais e factíveis, pensando em Brasil, antes de pensar em partidos, ideologias, esquemas, interesses menores e quejandas apodrecidas. Educação ensinando como fazer e fornecendo os instrumentos de trabalho. Daí decorre a emancipação e o orgulho pátrio. Quem sabe, o chega pra lá na robalheira. Quem sabe, a vergonha na cara.

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